Novidades

13 NOV
O futuro é o carro sem motorista?

O futuro é o carro sem motorista?

"No começo, foi estranho. Não consegui me desligar e tive vontade de pegar no volante", afirmou o universitário Gustavo Maturano, de 20 anos, após a primeira volta em um veículo que dispensa motorista, o chamado carro autônomo.

A convite do G1, ele e a dona de casa Augusta Heringer, de 45 anos, tiveram a chance rara até agora para um consumidor comum: se sentaram no banco do condutor, mas foram apenas levados pelo carro, vendo o volante se mexer sozinho (assista no vídeo acima).

"Teria um pelo fato de fazer outras coisas enquanto o carro dirige. Dá até para ir para balada, beber e voltar para casa com o carro, sem problemas", opina o estudante.

Se tivesse para comprar, eu teria um agora. É o carro dos sonhos de qualquer pessoa que tem medo de dirigir"
Augusta Heringer, dona de casa que teve que fazer aulas para superar o medo de dirigir e experimentou o carro autônomo na USP

Diferente do recém-habilitado Gustavo, Augusta não achava dirigir uma experiência prazerosa: ela precisou de aulas especiais para superar o medo.

Porém, dentro de um veículo que a deixava apenas contemplar as ruas, resumiu: "Se tivesse para comprar, eu teria um agora. É o carro dos sonhos de qualquer pessoa que tem medo de dirigir".

A experiência aconteceu em São Carlos (SP), onde a Universidade de São Paulo desenvolve um projeto de carro autônomo. Há outros no país, mas os que são notícia cada vez mais frequentemente são os de grandes empresas, como montadoras e o Google.

Apesar de toda essa propaganda dar a entender que o motorista vai ser dispensável amanhã mesmo, isso ainda está longe de acontecer, para decepção de Augusta. A tecnologia tem evoluído rapidamente, mas há muitos obstáculos para colocá-la em prática. O G1 reúne, nesta reportagem especial, o que já existe nas ruas e o que se pode antever do futuro do carro.

Já pensou um dia em acordar, entrar no carro, dar bom dia ao "motorista" virtual e, em vez de se preocupar com trânsito, semáforos, "fechadas" e outros perigos e estresses, poder se dedicar ao smartphone sem culpa, dar um conchilo ou ver o capítulo de ontem da novela?

Esse tipo de imagem é muito usado pelas montadoras para explicar a serventia do carro autônomo: poupar o tempo e a energia do ocupante para outras coisas, que não o trânsito. Mais que isso: dar independência a quem atualmente não tem condição de dirigir ou depende de veículos adaptados. Ou tem medo, como Augusta.

Por outro lado, o carro autônomo marcaria o fim da relação apaixonada do universitário Gustavo com o volante? As dúvidas são muitas, mas a autonomia dos carros, em maior ou menor grau, é irreversível, segundo analistas e executivos de montadoras.

Aliás, ela já existe, parcialmente, nos carros que estão à venda (veja lista ao fim da reportagem). Essas tecnologias chegam primeiro aos modelos de luxo e depois avançam para faixas de preço inferiores . A frenagem automática e o assistente de estacionamento, por exemplo, atualmente são oferecidas em carros na faixa de R$ 100 mil no Brasil.

Os primeiros protótipos de carros que dirigem sozinhos apareceram na década de 1980. Naquela época, Hollywood fez espectadores acreditarem que existiriam skates voadores em 2015 (ano em que se passa "De volta para o futuro 2") e carros congestionando os céus em 2019 ("Blade Runner").

Mas o concreto é que desde os anos 1970 surgiram sistemas que atuam sem ação do condutor, como piloto automático (ou controle de cruzeiro, cuja função é manter uma velocidade pré-determinada pelo motorista), controle de estabilidade ou freios automáticos de emergência.

Mais recentemente, eles passaram a atuar em conjunto, aumentando a "intervenção" do computador na experiência de dirigir. Já são vendidos carros que dirigem sozinho por trechos, em baixas velocidades, mas o motorista precisa ficar com as mãos encostadas no volante.

Empresas como o Google já testam o carro 100% autônomo nas ruas dos Estados Unidos, mas não sem um motorista "a postos", para tomar o controle em casos de emergência: esta é uma exigência dos poucos países ou estados que liberaram testes nas vias públicas. A velocidade também é limitada.

A autonomia, já aplicada em trens de metrô, por exemplo, avança também em outros tipos de veículos. A Mercedes-Benz testa um caminhão. E a Yamaha prepara, em circuito fechado, a moto-robô.

Algumas montadoras divulgam prazo para tornar o carro 100% autônomo uma realidade. A sueca Volvo, uma das pioneiras, pretende testar 100 veículos desse tipo com consumidores comuns nas ruas daqui a 2 anos. E chegar à meta de zero mortes em seus veículos até 2020, ano "mágico" já citado por Honda, Toyota, BMW e Nissan como aquele em que os carros que dirigem sozinhos devem aparecer nas lojas.

De 4%, em 2025, os carros autônomos deverão representar 75% do total vendido no mundo
em 2035, estima consultoria

A consultoria Ernst e Young projeta que esse tipo de veículo só deve estar presente com alguma relevância nas cidades em 2025, quando deve representar 4% do total vendido no mundo. E que o avanço será rápido, chegando a 75% do total em 2035.

Ainda há uma série de desafios a serem vencidos (veja abaixo), desde legislação à necessidade de infraestrutura que permita que as cidades se comuniquem com os carros.

Uma faixa mal pintada já é um problema para o veículo que precisa "ler" a via. Mas a necessidade vai além da tinta: será necessário que o sistema de trânsito se conecte com o carro. Assim, se o sinal está para fechar, o veículo vai saber e diminuir a velocidade automaticamente. Se há um buraco na pista não precisa mais colocar um cone: o carro vai saber antes mesmo de chegar perto. Sem isso, ele será como um cego que vai tateando o espaço por meio de sensores, sem saber o que vem pela frente.

A estrutura será um dos entraves que farão com que os carros autônomos demorem mais para chegar ao Brasil . “Os desafios (no país) são a infraestrutura e o desenvolvimento das estradas, então (aqui) deve demorar cerca de uma década a mais do que nos países desenvolvidos”, aposta Randall Miller, líder global da EY.

"Essas tecnologias estão cada vez mais dependentes da infraestrutura e é preciso uma cobertura de dados móveis. Existem lugares no Brasil em que você não fala direito nem com voz. Pode ser outro fator de atraso”, completa o engenheiro Ricardo Takahira, da SAE Brasil.

Como funciona

Sem ajuda de grandes montadoras, que investem em projetos próprios no exterior, universidades brasileiras também desenvolvem tecnologias de direção autônoma. Em São Carlos, o Carro Robótico Inteligente para Navegação Autônoma, ou simplesmente Carina, foi o primeiro a ser testado nas ruas de uma cidade na América Latina, em 2013.

Poderíamos estar entre os pioneiros mas não estamos, vamos perder novamente o papel de desenvolvimento, o que é triste. Já aconteceu com outras tecnologias"
Denis Wolf, professor do ICMC/USP, que desenvolve projeto de carro autônomo

Baseado em informações de sensores a laser e câmeras, o carro adaptado de um modelo comprado na loja avalia o contorno 10 vezes por segundo para tomar decisões.

Após o teste nas ruas, o próximo passo será transformar o Carina em um serviço de táxi dentro do campus da USP.

“Poderíamos estar entre os pioneiros mas não estamos, vamos perder novamente o papel de desenvolvimento, o que é triste. Já aconteceu com outras tecnologias”, afirma Denis Wolf, professor do ICMC/USP.

Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) também desenvolvem um veículo robótico, o Iara. E a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tem um projeto similar, liderado pelo professor Guilherme Pereira, que também reclama da falta de interesse de empresas. “Ficamos meio sem objetivo. Estamos fazendo isso para quê, apenas ciência, sem aplicações realísticas? Se tivesse cooperação, poderia ser um produto que entraria no mercado. É um pouco frustrante, ter uma coisa legal e ninguém querer a tecnologia”, relatou.

O carro do futuro também vai mudar a relação das pessoas com essa máquina. A "geração da internet", nascida entre a década de 1980 e 1990, é um dos grandes impulsionadores dessa revolução.

De acordo com um estudo da consultoria Deloitte, com 19 mil pessoas em 6 países, incluindo o Brasil, é uma geração que ainda deseja ter um automóvel próprio, mas que está mais disposta a abrir mão da propriedade para ter gastos menores e mais praticidade.

Tudo converte para a ideia de que compartilhar (carros) é mais vantajoso. A parcela de pessoas que não tira habilitação para dirigir deve crescer nos próximos anos"
Joe Vitale, da consultoria Deloitte, sobre hábitos da 'geração da internet'

Para Joe Vitale, líder global da Deloitte para o setor automotivo, estes jovens esperam dos carros experiências similares às de aparelhos eletrônicos e aplicativos.

“Eles querem pagar pelo uso, e não gastar uma fortuna para ter algo que dá muito custo para manter. Tudo converte para a ideia de que compartilhar é mais vantajoso. A parcela de pessoas que não tira habilitação para dirigir deve crescer nos próximos anos”, afirmou.

Conforme pesquisa do banco Morgan Stanley, os carros atuais são usados apenas 4% do tempo – no restante eles ficam parados. Assim, o compartilhamento abre espaço para diminuir o número de veículos circulando em centros urbanos e, consequentemente, leva à redução de custos.

Modelos sem motorista representariam uma economia de US$ 5,6 trilhões anualmente no mundo inteiro, com ganhos em eficiência de consumo de combustível, redução de gasto com acidentes e aumento da produtividade.

Não é à toa que o Google – uma das marcas mais identificados com a nova geração – construiu seu pequeno carro autônomo para 2 pessoas, que não tem nem volante, e rumores apontam para uma versão de luxo da Apple em desenvolvimento.

É a primeira vez que as grandes montadoras se encontram desafiadas por alguém fora do setor, mas parcerias serão essenciais para o processo avançar, segundo os especialistas. Tim Cook, chefão da Apple, resume: o futuro reserva uma mudança gigantesca na indústria automobilística.

Para o brasileiro Carlos Ghosn, que comanda a Renault/Nissan, há diferença entre carro sem motorista e o autônomo: o primeiro será de uso comercial, pelo Google e o Uber, por exemplo. O objetivo da montadora japonesa com autonomia, explica ele, é dar opção ao motorista de deixar o volante quando quiser: "É fazer a vida dele mais fácil. Ele escolhe se dirige (naquele momento) ou não."

 

 

Fonte: G1

Mais Novidades

17 DEZ
Correio Técnico: por que os carros elétricos não têm grade do radiador?

Correio Técnico: por que os carros elétricos não têm grade do radiador?

No ID.3 só a entrada de ar inferior já basta (Divulgação/Volkswagen)Por que os carros elétricos não têm necessidade de grade na dianteira, já que também contam com reservatório de líquido de arrefecimento? – Marcio Maximilian, Sorocaba (SP)Porque os poucos elementos que esquentam não demandam uma tomada de ar tão grande.O fluido de arrefecimento que eles possuem é usado para refrigerar o inversor de corrente (que transforma a eletricidade de alternada para contínua, e... Leia mais
17 DEZ
Hyundai HB20 1.0 Turbo representa só 3,6% das vendas e já tem descontos

Hyundai HB20 1.0 Turbo representa só 3,6% das vendas e já tem descontos

Versões 1.0 turbo representam só 3,6% das vendas do HB20 (Divulgação/Hyundai)O Hyundai HB20 disputou por meses a vice-liderança de vendas com o Ford Ka, só que acabou decepcionando em novembro: o hatch ficou apenas como quinto colocado.O que aconteceu com o novato? Primeiro, outros rivais – no caso, Chevrolet Onix Plus e Fiat Argo – aumentaram os emplacamentos. Segundo, o próprio modelo diminuiu.Motor sobrealimentado é importado da Coreia do Sul (Fernando Pires/Quatro... Leia mais
16 DEZ
Rede Jeep “força” vendas por CNPJ para cliente comum ter isenção de ICMS

Rede Jeep “força” vendas por CNPJ para cliente comum ter isenção de ICMS

Jeep oferece descontos de até 19% em vendas para CNPJ (Divulgação/Jeep)Chevrolet Onix e Volkswagen Gol lideraram as vendas diretas de janeiro a novembro deste ano. Mas o que chama atenção é o Jeep Renegade na terceira posição. Ele é seguido por Ford Ka e por outro Jeep, o Compass.Os dois SUVs dependem muito das vendas a empresas e PcDs. Dos 63.022 Jeep Renegade emplacados até novembro, 45.646 unidades (ou 72,4%) foram faturadas em vendas diretas. No caso do Compass, foram 36.021... Leia mais
16 DEZ
Chevrolet Cruze agora tem versão de entrada com internet Wi-Fi integrada

Chevrolet Cruze agora tem versão de entrada com internet Wi-Fi integrada

Grade dianteira ficou maior na linha 2020 (Divulgação/Chevrolet)O Chevrolet Cruze foi atualizado há quatro meses, mas, até então, as novidades eram restritas à versão topo de linha Premier. E só agora chegou a opção de entrada LT.Vendida a R$ 101.190, a novidade oferece ar-condicionado digital, seis airbags, central multimídia com Wi-Fi, sistema de concierge OnStar e rodas de liga leve com aro 17.Lanternas são diferentes do conjunto com leds da versão... Leia mais
16 DEZ
Flagra: novo Peugeot 208 mostra as garras sem camuflagem na Argentina

Flagra: novo Peugeot 208 mostra as garras sem camuflagem na Argentina

Flagra do novo 208 sem camuflagem na Argentina (Autoblog Argentina/Internet)Flagra do novo 208 sem camuflagem na Argentina (Autoblog Argentina/Internet)Ele já está confirmado e até já foi registrado em nosso instituto de propriedade industrial. Agora é apenas uma questão de tempo para que a segunda geração do Peugeot 208 seja efetivamente lançada no Brasil.Pela frequência com que protótipos do novo hatch compacto têm sido flagrados por aqui e também na Argentina, onde será... Leia mais
16 DEZ
Jeremy Clarkson: Range Rover Velar é SUV moderninho só até o motor V8

Jeremy Clarkson: Range Rover Velar é SUV moderninho só até o motor V8

– (Acervo/Quatro Rodas)A indústria passou 100 anos aperfeiçoando a arte de fabricar carros e, no início deste século, ficou muito boa em fazer isso. Mas daí todo mundo decidiu de repente que os carros precisavam mudar. Precisavam ser mais altos, mais verdes, mais econômicos e, possivelmente, operar totalmente por conta própria, sem um motorista. Como resultado, os fabricantes de veículos do mundo estão agora se equilibrando com um pé em um patim e outro em uma casca de banana. Eles... Leia mais