Novidades

13 ABR
Parar uma fábrica de carros é bem mais difícil e demorado que você imagina

Parar uma fábrica de carros é bem mais difícil e demorado que você imagina

Fábrica da FCA em Goiana (PE) (Divulgação/Jeep)

A pandemia do novo coronavírus criou, pelo menos na indústria automotiva nacional, um cenário imaginado apenas por loucos como Raul Seixas na canção O Dia em que a Terra Parou.

São 63 fábricas e 123.000 funcionários totalmente parados desde o início de abril, numa ação em cadeia que afeta ainda 250.000 trabalhadores da cadeia de fornecedores e 350.000 das redes concessionárias.

Isso sem falar em outras de áreas correlatas, o que perfaz um total acima de 1.000.000 de pessoas com as atividades profissionais parcial ou totalmente paralisadas.

Inicialmente prevista para durar uma semana, a paralisação completa das atividades tende a se estender até o final de abril, com retorno gradual das operações durante a primeira semana de maio.

Carros só devem voltar a passar pelas linhas de montagem em maio (Divulgação/Volkswagen)

Embora pareça orquestrada, a interrupção conjunta das fábricas de carro instalados no Brasil ocorreu a toque de caixa e envolveu árdua negociação com fornecedores, pressão de sindicatos e muita, muita dor de cabeça.

Isso porque se engana quem acha que, para promover uma paralisação fabril, basta apertar um botão e desligar as luzes. Pelo contrário: o processo está longe de ser simples e demanda uma série de rituais e preparativos.

“Não é algo que dá para fazer em um dia apenas, muito menos em uma hora”, afirma Henry Joseph Jr., diretor técnico da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), que por 37 anos trabalhou como engenheiro da Volkswagen.

E olha que a tecnologia dos tempos atuais joga a favor. “No passado, o processo era mais vertical e havia áreas muito complicadas, como fundição, forjaria e produção de plásticos, que hoje são terceirizadas e demandam de sete a dez dias de preparação até serem interrompidas”, explica o especialista.

Resfriar caldeiras que ajudam a gerar energia é um dos maiores desafios (Divulgação/Chevrolet)

Mesmo assim, continuam a existir áreas do processo que demandam cuidado e movimentações gradativas para que não entrem em colapso.

“Ainda há empresas que geram sua própria energia com caldeiras e fornos, e também usando de vapor de água, o que requer cuidados. São necessários dias para o resfriamento e a redução gradual da transmissão dessa energia”, comenta.

Outro setor delicado é o de pintura, porque envolve o bombeamento constante de tintas. “Se você paralisa de uma vez, as tintas secam e entopem todos os dutos”, esclarece o engenheiro.

A área de pintura é uma das que mais demandam cuidado (Divulgação/Jeep)

No caso específico da pintura, é preciso levar em consideração o tempo de “hibernação”, para saber se compensa forçar sua parada ou manter os dutos ativos mesmo com a produção interrompida. Neste último caso, a tinta bombeada tem de ser, obviamente, armazenada.

“Se parar, será preciso fazer uma limpeza periódica dos dutos com solventes, algo que demora de um a dois dias para ser concluído. conta o diretor técnico da Anfavea.

Como não poderia deixar de ser, a limpeza requer muito cuidado para não contaminar as tintas com solventes.

Robôs modernos já são capazes de se auto lubrificarem (Divulgação/Volkswagen)

Também demandam atenção os robôs, que têm de ser lubrificados constantemente. A boa notícia para quem já aplicou o conceito de indústria 4.0 é que máquinas mais modernas já são capazes de se auto lubrificarem.

Questões logísticas tampouco podem ser ignoradas. Nos dias atuais, complexos industriais trabalham com quantidades cada vez menores de peças armazenadas, a fim de otimizar espaço e custos.

Em vez disso, contratam empresas que organizam o recolhimento e reúnem a distribuição dos componentes de diversos fornecedores em cadeia, entregando-os de uma só vez à fábrica todos os dias.

O conceito é conhecido como “milk run” ou “caminhão de leite”, em menção a um sistema de distribuição de leite aplicado nos Estados Unidos no século 20.

Interrupção do fornecimento de peças também precisa ser muito bem orquestrada (Divulgação/Jeep)

“A fábrica terá de avisar seus fornecedores com antecedência, para que estes também tenham tempo de comunicar os seus fornecedores e estes, os seus fornecedores”, afirma Joseph Jr.

Não podemos esquecer das relações trabalhistas: os funcionários serão colocados em férias coletivas? Regime de layoff? Haverá suspensão de contratos ou dispensas? Tudo tem de ser negociado com sindicatos.

Portanto, segundo o especialista, não dá para paralisar uma fábrica sem um planejamento de pelo menos cinco dias, que podem se estender a dez ou 15 dias até que tudo esteja devidamente alinhado.

“O único modo de não arrebentar nenhum elo da cadeia produtiva é fazer tudo com planejamento, pois uma decisão errada ou afobada pode afetar não apenas a sua empresa, como outra de porte menor que não terá o mesmo capital de giro para se recuperar”, conclui.

Em entrevista a QUATRO RODAS, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, afirmou que a interrupção das atividades da indústria automotiva provocará um “impacto muito forte” na saúde financeira dos fabricantes instalados no país.

Setor ainda não calculou, mas prejuízo com as semanas paradas deve ser bilionário (Divulgação/Volkswagen)

“Já estamos projetando um segundo trimestre muito ruim, ao mesmo tempo em que temos que continuar pagando salários e fornecedores. É um cenário próximo ao de uma guerra”, alertou.

Enquanto não houver uma visão mais precisa por parte do governo de como lidar com esse problema, teremos que estar preparados para tudo”, segue.

Moraes defende que o governo lidere um plano que ajude a aumentar a liquidez das empresas no período.

“Precisamos de redução de impostos e estímulo a empréstimos com juros mais baixos para termos capital de giro. Os bancos não estão liberando empréstimos a juros aceitáveis”, aponta o presidente.

O representante mor da associação diz ser ainda muito cedo para calcular o prejuízo, mas que “o buraco, com certeza, será muito grande”.

Não pode ir à banca comprar, mas não quer perder os conteúdos exclusivos da edição de abril da Quatro Rodas? Clique aqui e tenha o acesso digital.

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

27 MAI

Fiat propõe fusão com Renault para criar terceiro maior grupo automotivo

Acordo prevê sinergia de tecnologias entre a FCA e a Renault (arte/Quatro Rodas)A Fiat Chrysler (FCA) entregou à Renault nesta segunda-feira uma proposta de fusão. Juntas, as duas empresas podem formar a terceira maior fabricante de automóveis do mundo, atrás apenas de Volkswagen e Toyota.Nenhuma empresa seria majoritária no negócio. 50% do grupo formado pelas duas companhias pertenceria aos acionistas da FCA, enquanto a outra metade ficaria sob responsabilidade dos acionistas da... Leia mais
27 MAI

Ações da Renault e da Fiat têm forte alta após projeto de fusão

As ações da Renault e da Fiat Chrysler (FCA) registram forte alta nesta segunda-feira (27) com os investidores repercutindo a possível fusão entre a companhia francesa e a ítalo-americana. Por volta das 9h45, os papéis da Renault, negociados na Bolsa de Paris, subiam 15,09%. Já os da Fiat Chrysler, listados em Milão, avançavam 11,37%. Nesta segunda-feira a Fiat Chrysler, de capital italiano e americano, anunciou que apresentou uma proposta de fusão à francesa Renault, o... Leia mais
27 MAI

Fiat Chrysler apresenta proposta de fusão à Renault

A montadora Fiat Chrysler (FCA), de capital italiano e americano, apresentou nesta segunda-feira (27) um projeto de fusão com a francesa Renault, o que criaria o terceiro maior grupo mundial do setor, um anúncio celebrado pelos investidores e o governo francês. De acordo com a proposta da FCA para a Renault, o novo grupo pertenceria em 50% aos acionistas da empresa ítalo-americana e em 50% aos acionistas da montadora francesa. As ações teriam cotações nas Bolsas de Nova... Leia mais
27 MAI

Teste do especialista: qual cera restaura melhor o plástico do carro?

Ceras para plástico de Prolitec, Autoshine e Fuzautto (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)Chega uma hora em que as partes plásticas do carro começam a perder a cor natural por conta do ressecamento pelo sol ou uso de produtos de limpeza.Mas elas podem voltar à vida com as ceras restauradoras específicas para plástico.O nosso especialista Guilherme Jozi testou três das principais marcas (AutoShine, Prolitec e Fuzetto) e foi enfático.“São bem simples de aplicar e não mancham a... Leia mais
27 MAI

Bolsonaro está certo ao declarar guerra contra a “indústria da multa”?

Uma das promessas de Bolsonaro é acabar com os radares “que só existem para arrecadação” (PoppyPixels/Thinkstock/Quatro Rodas)Algumas leis de trânsito parecem incomodar o presidente Jair Bolsonaro. Em 2016, quando ainda era deputado federal, o atual mandatário fez um projeto para revogar a lei que obriga o uso de faróis baixos em rodovia. Em um vídeo divulgado na época, ele usava a opinião de um motorista para justificar sua vontade, contrariada por especialistas.“Uma das... Leia mais
27 MAI

BMW Série 1 usa truque eletrônico para compensar morte da tração traseira

Dianteira do Série 1 é inspirada no X2 (Divulgação/BMW)Ao longo das suas duas primeiras gerações, quem comprava um BMW Série 1 estava disposto a abdicar de algum espaço interior para ter o carro com o comportamento mais eficaz do seu segmento.Isso era especialmente verdade nas versões com motores (e afinações de suspensão) mais esportivos.Muitos dos motoristas que gostam de sentir o movimento do carro numa curva mais forte não estavam tão preocupados se o espaço no banco... Leia mais