Novidades

03 ABR
Boneco de R$ 4 milhões, pancada de R$ 400.000: os custos de um crash-test

Boneco de R$ 4 milhões, pancada de R$ 400.000: os custos de um crash-test

São os 4 segundos mais importantes da vida de um carro – e da sua também (Latin NCAP/Divulgação)

Quanto custa e quanto tempo é preciso para salvar uma vida? Um crash-test frontal feito pelo Latin NCAP demora, em média, 4 segundos. A colisão propriamente dita é ainda mais rápida, com duração de 120 milésimos de segundo.

Só que essa efemeridade esconde meses de planejamento, “passageiros” mais caros que o próprio carro e um gasto superior a R$ 400.000.

Para entender o complexo processo do teste mais rigoroso da indústria automotiva, QUATRO RODAS foi até o campo de provas do ADAC, o maior automóvel clube da Alemanha, em Landsberg, para conhecer o processo que “mata” centenas de carros visando salvar o maior número possível de vidas.

Um bloco deformável sobre rodas simula outro carro no teste de colisão lateral (Latin NCAP/Divulgação)

“Todos os testes são feitos na Alemanha porque não há laboratórios independentes no Brasil com a estrutura que precisamos”, explica Alejandro Furas, secretário-geral do Latin NCAP.

O complexo necessário para fazer todos os testes de colisão englobados pela entidade custa R$ 90 milhões e vai além do obstáculo de alumínio onde os carros colidem a 64 km/h.

Só a estrutura que fica por trás dos objetos em que o veículo vai bater inclui um bloco de concreto de 300 toneladas apoiado em uma fundação com 17 metros de profundidade, feita para absorver o impacto dos mais de 720 crash-tests anuais feitos no laboratório.

No local também há áreas para testes de atropelamento, avaliação de cadeirinhas e do efeito chicote, em que o banco do carro é acelerado rapidamente para a frente, simulando uma colisão traseira.

A estrutura onde ocorre esse teste, aliás, usa campos eletromagnéticos para permitir o pulso exato de aceleração e tem a mesma tecnologia adotada nas catapultas de aeronaves da nova geração de porta-aviões dos Estados Unidos.

Instalações do laboratório de crash-test de R$ 90 milhões incluem câmeras de alta velocidade (Latin NCAP/Divulgação)

Tão moderno quanto são os dummies, os bonecos usados para simular o corpo dos passageiros e projetados especificamente para cada tipo de teste.

Os preços de cada dummy variam, mas a nova geração dos aparelhos que está sendo testada pelo NCAP tem custo unitário superior a R$ 4 milhões.

O uso desses bonecos cheios de sensores praticamente eliminou uma necessidade mórbida da indústria: a adoção de cadáveres nos testes de impacto.

No entanto, ainda são usados corpos doados para a aferição dos dummies e testes que fogem do escopo tradicional do setor, como no desenvolvimento dos cintos infláveis da Ford.

Pista tem 73 metros de comprimento (Latin NCAP/Divulgação)

Normalmente os carros testados pelo Latin NCAP são comprados em concessionárias, por um funcionário que se passa por cliente da marca – exatamente como QUATRO RODAS faz na aquisição dos modelos de Longa Duração.

No entanto, a ONG permite que fabricantes cedam carros que ainda não foram lançados, abrindo caminho para usar os resultados (normalmente favoráveis) na campanha de estreia do carro.

 (Latin NCAP/Divulgação)

Para isso as regras são ainda mais rígidas e passam pela escolha de um veículo a esmo no pátio do fabricante, a lacração da unidade e, posteriormente, a compra de um novo automóvel na concessionária para repetir o teste e aferir se os resultados são os mesmos.

Todo esse trâmite custa até R$ 500.000, sem incluir o preço do veículo. Muitos testes são patrocinados, com a montadora reembolsando o Latin NCAP após a compra na concessionária, mas a entidade também usa seus recursos, que vêm do Global NCAP e FIA (Federação Internacional de Automobilismo), para testar modelos que sejam relevantes para o mercado latino-americano.

 (Latin NCAP/Divulgação)

A existência dos testes patrocinados faz com que alguns críticos contestem sua credibilidade, pois normalmente os fabricantes que se propõem a bancar o crash-test já sabem, graças a testes internos, que seus veículos terão bons resultados.

Mas isso não é uma regra, já que a QUATRO RODAS presenciou de perto a quebra desse padrão. Na ocasião de nossa visita estava sendo avaliado o novo Renault Sandero, que passou a oferecer airbags laterais de série. A marca estava confiante que isso bastaria para que o hatch (e o Logan) superasse o resultado ruim obtido na última avaliação de colisão lateral.

Os dummies podem representar de recém-nascidos a mulheres grávidas (Latin NCAP/Divulgação)

Mas uma discrepância entre as unidades brasileira e colombiana (veja mais no texto da pág. 79) alterou os resultados e provocou uma correria dentro da marca francesa.

Quando o automóvel chega à Alemanha, técnicos do Latin NCAP conferem a integridade dos lacres e preparam o veículo para o teste. A primeira coisa a ser feita é a medição a laser: ela permitirá avaliar com precisão o tamanho da deformação de cada componente após o teste.

Preço unitário dos dummies pode chegar a R$ 4,5 milhões (Latin NCAP/Divulgação)

Depois entram em cena os icônicos adesivos pretos e amarelos, que servem como indicador visual da deformação das chapas e movimentação do veículo e dummies na cabine. As lanternas são removidas para a passagem do “cordão umbilical”, cabo que liga os computadores fixados no porta-malas à central de comando.

A unidade é pesada, e os valores devem coincidir com o divulgado pela marca. Se houver discrepância para menos (um veículo mais leve tem melhor desempenho no teste), pode-se adicionar água no tanque de combustível para chegar ao valor oficial. Isso não é um problema para o motor, que fica desligado – o teste é feito apenas com a ignição acionada, o que mantém ativos todos os airbags e pré-tensionadores.

 (Latin NCAP/Divulgação)

Câmeras são fixadas no teto e complementam as imagens feitas pelas filmadoras de alta velocidade posicionadas ao redor do local da colisão. Esses aparelhos de última geração podem captar até 4.000 quadros por segundo (em um filme de cinema são 24), permitindo uma análise detalhada de toda a batida.

Só que, para isso, é preciso de muita luz. Um painel de 300 kW com dezenas de lâmpadas supre essa necessidade, mas gera uma luz tão intensa que só é acesa momentos antes do teste.

Os bancos são posicionados na metade do ajuste de distância do assento e altura, enquanto a inclinação do encosto é deixada em um ângulo próximo a 90o. Todas as medições são feitas usando equipamentos eletrônicos, e marcas são feitas nas peças para garantir que sua posição não mude durante o procedimento de colocação dos dummies.

Por fim, alguns modelos requerem um pequeno furo na maçaneta. Ele é usado para, depois da batida, aferir a força necessária para abrir cada uma das portas usando uma balança por mola, similar à usada para pesar bagagens em casa.

 (Latin NCAP/Divulgação)

O alinhamento do veículo com a pista de 73 metros é feito usando um pequeno peso preso por um fio. Dois pinos, um na barreira e outro no carro, são posicionados em direção ao centro de um pequeno adesivo de 2 cm de diâmetro colocado do lado oposto.

Após a colisão, eles são a primeira coisa a ser checada: se não tiverem acertado o alvo, é um indicativo de que o veículo bateu de forma desalinhada, e o teste é invalidado.

Sensores a laser medem a deformação do carro, que leva computadores no porta-malas (Latin NCAP/Divulgação)

Com o carro preparado, um pequeno reboque elétrico o leva para o início da pista, onde há uma câmara fria com portas retráteis. Ela é usada para climatizar o carro a 20 oC, equalizando a temperatura independente da estação do ano em que o teste é realizado.

A última coisa a ser feita antes da batida é a pintura de diferentes partes do dummie com uma tinta fresca. Isso permite que os técnicos saibam exatamente onde cada parte do boneco encostou no veículo.

Após a batida, o cenário idêntico ao de um acidente de trânsito tem protocolos tão rigorosos quanto os de um resgate real. Um exaustor é colocado nas janelas (mantidas abertas para evitar reflexos na filmagem) para retirar o gás do propelente do airbag, enquanto outro funcionário varre pedaços de vidro e peças quebradas ao redor do carro.

Bloco de alumínio usado para a colisão também é avaliado (Latin NCAP/Divulgação)

Técnicos fazem fotos de diferentes detalhes da cabine e das portas, que devem se manter fechadas na batida e ser facilmente abertas depois.

Por fim, são avaliados os danos da carroceria e do dummie, que pode ter que ser parcialmente desmontado para sair da cabine caso fique preso nos destroços.

Os resultados brutos são enviados para o fabricante, que também pode acompanhar o teste e até ficar com o veículo após a colisão.

Aparelho mede até a força necessária para ajustar as tiras da cadeirinha de bebê (Latin NCAP/Divulgação)

O resultado é apresentado antecipadamente à marca, mas ela não tem poder de questionamento e está sujeita a punições caso piore o conteúdo do carro depois do teste – se perder os airbags extras, o Onix Plus não será mais cinco estrelas, por exemplo.

Mas, considerando a importância cada vez maior que o consumidor está dando para a segurança, nenhuma marca colocará a perder os 4 segundos mais importantes de um automóvel.

 (Latin NCAP/Divulgação)

Fazer um automóvel que obtenha excelência nas provas de impacto custa caro, mas algumas marcas possuem seus truques para obter melhores resultados sem elevar o custo de desenvolvimento do carro.

A mais antiga é fazer um carro assimétrico: como os testes de colisão eram sempre feitos de um mesmo lado, apenas aquela metade da carroceria era reforçada. A solução foi simples: agora os testes de batida lateral são feitos de forma aleatória, com qualquer um dos lados.

Outra tática, usada pela Renault com o Duster, é discutível, mas permitida pelas regras. Para ser avaliada pelo protocolo antigo, menos rigoroso, a marca patrocinou em 2019 o teste do SUV com uma unidade romena, destinada ao Chile.

Neste ano, o Latin NCAP irá repetir a prova com uma versão brasileira do novo Duster, para garantir que os padrões foram mantidos. A avaliação de quatro estrelas para proteção aos adultos, entretanto, está garantida.

O protocolo do Latin NCAP que estreou este ano é válido até 2024 e inclui exigências ainda mais rigorosas para se obter a pontuação máxima. Agora a nota é uma só, e se o modelo for mal na proteção para adultos ou crianças, não terá mais cinco estrelas.

Também será avaliada a proteção para pedestres e a inclusão de assistentes ativos, como alerta de veículo no ponto cego, aviso de mudança de faixa e frenagem autônoma de emergência.

Por padrão, o Latin NCAP avalia a versão mais simples dos carros e na “pior” configuração possível para o teste. Rodas de liga leve são preferidas por serem mais duras (e transferirem mais energia à carroceria).

Nos modelos que possuem a mesma estrutura entre hatch e sedã, a carroceria três-volumes é usada nas provas de impacto lateral por conta do maior efeito alavanca provocado pelo comprimento do veículo.

Outra tática é avaliar modelos produzidos em locais diferentes, como foi feito no teste do Renault Sandero, com um Logan brasileiro e um hatch colombiano. Só que o airbag lateral do modelo paranaense é menor, e resultou em avaliações piores do que a versão feita no país vizinho.

Para garantir a boa pontuação obtida pelo Sandero colombiano, a Renault se comprometeu a trocar o airbag das versões brasileiras por um equivalente (e melhor) ao usado em outros mercados.

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

03 JAN

Volkswagen confirma fim da produção da SpaceFox

A Volkswagen confirmou nesta quinta-feira (3) que a SpaceFox está saindo de linha. Segundo comunicado da fabricante, o fim da produção será "no primeiro trimestre de 2019". A data até parece otimista, já que a Volkswagen da Argentina, que produzia o a perua na unidade de General Pacheco, colocou as linhas de produção da SpaceFox à venda. O negócio será feito via leilão, pela empresa Narvaez Superbid. São dois lotes. O primeiro traz a linha de montagem da carroceria, e... Leia mais
03 JAN

Venda de motos no Brasil volta a crescer em 2018 depois de 7 anos

A venda de motos no Brasil voltou a crescer depois de 7 anos, encerrando uma série negativa para o setor que vinha desde 2012. Venda de veículos novos cresce 14,6% em 2018 De janeiro a dezembro de 2018, o total de 940.362 motos foram emplacadas no país, informou a federação das concessionárias, a Fenabrave, nesta quinta-feira (3) O desempenho foi 10,5% maior que um ano antes, quando o setor teve 851.199 unidades emplacadas. Depois de chegar ao "fundo do poço", as... Leia mais
03 JAN

É #FAKE que pagamento antecipado de DPVAT garante desconto

Circula pelas redes sociais uma mensagem que diz que quem pagar o seguro DPVAT obrigatório "hoje" terá de desembolsar apenas R$ 16,21, valor válido apenas para esta data, porque, "depois de hoje", o valor voltará ao normal, de R$ 96. A mensagem é #FAKE. DPVAT é a sigla para Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre. A atual responsável pela administração do Seguro DPVAT é a Seguradora Líder-DPVAT, que tem o objetivo de assegurar à... Leia mais
03 JAN

Detran-SP disponibiliza licenciamento antecipado de 2019 para todos os veículos

O Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) disponibiliza, nesta quinta-feira (3) até o final de março, o licenciamento antecipado de 2019. Quem optar por essa modalidade, deve quitar todos os débitos – IPVA, seguro obrigatório, multas e outros valores— antes de solicitar o licenciamento antecipado. O valor para 2019 é de R$ 90,20. Para pagar, basta informar o número do Renavam do veículo no banco, caixa eletrônico ou internet banking (se disponível... Leia mais
03 JAN

Primeiro VW Fusca brasileiro saía do forno há 60 anos; relembre história

Fábrica do ABC paulista foi a primeira da Volkswagen fora da Alemanha (Divulgação/Volkswagen)Três de janeiro de 1959. Há exatos 60 anos, saía da linha de montagem de São Bernardo do Campo (SP) o primeiro Fusca brasileiro.Sim, o modelo, conhecido à época como “Volkswagen Sedan”, já era montado localmente desde 1953, porém foi naquela data do fim da década de 50 que o icônico compacto passou a ser fabricado com peças nacionais. Antes, usava partes importadas da Alemanha.Tudo... Leia mais
03 JAN

Chevrolet Onix é o carro zero mais vendido pelo 4º ano seguido

O Chevrolet Onix terminou 2018 como o carro zero mais vendido pelo 4º ano seguido, informou a associação das concessionárias, a Fenabrave, nesta quinta-feira (3). Modelo alcançou 210.458 unidades emplacadas no ano, seu recorde histórico. Venda de veículos novos cresce 14,6% em 2018, diz Fenabrave Em 2017, o modelo havia chegado a 188.654 unidades emplacadas. O segundo lugar foi disputado entre Hyundai HB20 e Ford Ka, mas o HB20 levou a vice-liderança pela terceira vez... Leia mais