Reinaldo Varela, Nani e os filhos, Rodrigo, Gabriel e Bruno: família unida no off-road (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)
São poucas as pessoas que conseguem conciliar suas principais paixões na vida. Aos 60 anos, o paulista Reinaldo Varela é um desses casos raros.
Piloto brasileiro renomado de rali, ele compete sempre com a família a seu lado, roda pelo mundo inteiro e ainda encontra tempo para cuidar de uma rede de restaurantes.
O tricampeonato na Copa do Mundo de Rally Cross Country com o UTV (Utility Task Vehicle, um veículo utilitário similar a um quadriciclo, mas com uma gaiola de proteção) Can-Am Maverick X3 foi conquistado no início de outubro, junto com o navegador Gustavo Gugelmin, seu parceiro desde 2012.
Em 37 anos de carreira, é seu 35º título, entre campeonatos nacionais e internacionais.
Apesar de saber administrar bem as vantagens durante as provas, realizadas em países como Emirados Árabes Unidos, Catar, Cazaquistão e Marrocos, a dupla passou por alguns entreveros durante a competição.
O tri mundial veio em outubro no Marrocos, ao lado do navegador Gustavo Gugelmin (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)
“No Catar, o solo tem muitas pedras e a visão fica limitada. Furamos oito pneus em quatro dias, tivemos de consertar os dois estepes que levamos para continuar”, conta Varela.
Outra dificuldade enfrentada foi na última etapa, no Marrocos. O livro de bordo, que em ralis anteriores era disponibilizado com um dia de antecedência para que os navegadores pudessem se preparar e fazer anotações, foi entregue 15 minutos antes da largada.
“Muita gente se perdeu. O Rally Dakar também será assim a partir do próximo ano.” Seus primeiros dois títulos mundiais de Rally Cross Country (2001 e 2012), diferentemente do atual, foram conquistados em categorias de carros.
O primeiro foi com um Troller T4 modificado e o segundo com um Mitsubishi Pajero na categoria T2, de veículos originais.
– (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)
“Agora ganhamos com o UTV, em que a velocidade máxima é limitada a 130 km/h. Mas é bem divertido, mais baixo, sentindo o vento na cara. Parece que está pilotando um kart”, diz.
Varela revela que muitos pilotos estão migrando para a categoria porque os gastos são menores com manutenção, mão de obra e peças.
Mas esse sucesso atrás do volante sempre teve um apoio fundamental: a esposa, Nani (59 anos), e os filhos, Rodrigo (28), Gabriel (25) e Bruno (23), estão sempre ao lado do patriarca da família nas provas.
Por isso eles são conhecidos no meio ralizeiro como “Família da Poeira”.
Nani e Varela se conheceram em 1985 e desde então ela acompanha o marido mundo afora dando apoio nos ralis, levando peças e cuidando da alimentação.
Já os filhos marcam presença nas competições desde bebês. Tanto que tomaram gosto pela coisa: já na infância participavam de corridas. Hoje competem na categoria UTV, assim como o pai.
“Todos eles têm títulos importantes na carreira. O Rodrigo, meu filho mais velho, já navegou comigo e chegamos a vencer provas, mas os três gostam mesmo é de pilotar. O caçula, Bruno, foi o mais jovem a ganhar o Rali dos Sertões, em 2017”, relembra o pai, orgulhoso.
Mas nem tudo são flores. Foram muitos desafios e ralis complicados ao longo desses anos. Segundo Varela, um dos campeonatos mais difíceis é o Rally Dakar, cuja próxima edição será realizada entre 5 e 17 de janeiro de 2020.
“É uma prova longa, com muito desgaste, tanto emocional quanto da máquina. Você larga com 40 oC e vai dormir com temperaturas de -2 oC. Só de terminar já é uma vitória.”
– (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)
Mas um dos maiores perrengues de sua carreira foi no rali Transchaco, uma das etapas mais difíceis do Campeonato Sul–Americano, realizada no Paraguai.
O carro em que o piloto competia atolou e a dupla não conseguiu retirá-lo do local nas primeiras horas, obrigando Reinaldo a dormir no veículo.
“Peguei uma pneumonia muito forte, fiquei internado. E foi na mesma época em que nasceu meu filho Gabriel. Então minha mulher quase ficou louca tendo de cuidar de um recém-nascido e comigo doente em casa.”
Além de se aventurar por lama, poeira e dunas pelo planeta, Varela tem de administrar a famosa rede de restaurantes Divino Fogão. A ideia de fundar um local com comida típica de fazenda surgiu em 1984.
Hoje são seis unidades próprias e 187 franqueadas espalhadas por todo o país, muitas das quais o piloto é sócio. E 2019 é mesmo o ano dele: além do título no rali ele ainda foi eleito franqueador do ano pela Associação Brasileira de Franchising (ABF).
“Sempre falo que meu trabalho é o rali e o hobby é o Divino Fogão”, brinca. O segredo para conciliar as carreiras de piloto e empresário é, de acordo com Varela, ter ao seu lado uma equipe de confiança.
Seus funcionários tocam o negócio, mas a tecnologia o ajuda a ficar sempre de olho nas operações, seja por e-mail, seja pelo WhatsApp.
“Quando sento no carro durante o rali, não posso me preocupar se um parafuso está ou não apertado, tenho que confiar na minha equipe de apoio. No meio empresarial é a mesma coisa.”