Ronaldo com um dos seus xodós: a Ferrari American Retro Race da década de 60 (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Executivo de uma grande empresa de soluções de impressão 3D, Ronaldo Prado, 53 anos, é um apaixonado por carros. Seu trabalho consiste em tirar do papel criações da indústria automotiva e transformá-las em realidade.
“Aqui fazemos protótipos de modelos que serão lançados daqui a cinco anos”, explica ele.
Mas seu hobby são veículos bem menores e mais antigos do que está acostumado a construir: em casa, em Ribeirão Preto (SP), seu negócio é restaurar ou construir carrinhos a pedal, os pedal cars.
Tudo começou há 16 anos com a chegada da filha, Luiza Prado. “Comprei para ela um Fusca Bandeirante. Mas nunca entregaria do jeito que veio. Tinha que personalizar e deixar do jeito que eu queria.”
E assim começou a brincadeira. Ano a ano, ele iniciava um novo projeto para presentear a filha.
O Fusca Bandeirante imita uma antiga viatura de polícia: o primeiro da coleção (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Nesse período, ele passou do pedal car para o minicarro elétrico, o skate, o patinete e tudo mais que você imaginar com rodas. “Depois que minha filha não cabia mais nos pedal cars, continuei comprando e ganhando carrinhos e fui guardando.”
Hoje, com mais de 40 pedal cars, Ronaldo montou uma pequena oficina nos fundos de sua casa e passa os finais de semana entre amigos trabalhando em projetos de restauração e customização dos brinquedos.
Ali tudo é feito à moda antiga, com ferramentas e processos clássicos de fabricação. Não tem nada de tecnológico. Até tampa de panela já foi usada como roda de carrinho.
Os exemplares da sua coleção vêm do mundo todo: Itália, Inglaterra, Argentina, Uruguai e Austrália, muitas vezes trazidos por parentes e amigos.
Em seu ateliê, em Ribeirão Preto, as restaurações podem demorar até 4 meses (Fernando Pires/Quatro Rodas)
“Em uma dessas aventuras, meu cunhado encontrou em uma barbearia na Itália uma Ferrari. Aqui do Brasil, entrei em contato com o barbeiro, que depois de muito custo me vendeu o carro, que ficou guardado em um hotel até que minha irmã, que mora em Portugal, foi buscá-lo”, narra.
“De Portugal, ela despachou para Manaus (AM). Já no Brasil, o carro passou por Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro e finalmente veio para São Paulo. Foram oito meses de espera”, continua.
O hobby atraiu clientes que tentam comprar os carrinhos do Ro-naldo, que oficializou sua oficina: agora ela se chama Elegance Ateliê Mecânico.
Ele não gosta de vender suas pequenas criações, mas, se você insistir muito, Ronaldo, que é coração mole, acaba cedendo. Custam em média R$ 3.000, porém as mais raras chegam a R$ 40.000.
Ele também restaura pedal cars que amigos levam, mas deixa bem claro que isso não é um negócio: “Não faço pelo dinheiro. É tudo pela paixão ao carro”.
Carrinhos a pedal variam dos anos 30 aos 80 (Arte/Quatro Rodas)
A história do pedal car se confunde com a do carro
Os pedal cars foram uma evolução dos triciclos no fim do século 19, ainda rústicos e caros. Até que Ettore Bugatti fez, em 1927, uma réplica do lendário Bugatti 35 para seu filho Roland – tinha motor elétrico e chegava a incríveis 15 km/h.
Foram construídos 500 exemplares, que depois foram vendidos. Hoje, restam menos de 100, e são considerados o Santo Graal dos carrinhos a pedal – há uma unidade no Museu do Automóvel de Turim (Itália).
Os Bugatti 35, versão original e míni, feitos por Ettore (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Muitas montadoras entraram nessa onda, para venda ou por promoção. Levavam o nome do carro original, às vezes com o sobrenome “Jr.”.
Na Segunda Guerra, o pedal car desapareceu das lojas, mas virou mania nos anos 50 e 60, em especial nos EUA: toda casa tinha um na garagem.
Havia diversos fabricantes, com réplicas dos antigos pedal cars e de carros modernos, criando uma cultura que dura até hoje. No exterior, alguns chegam a custar R$ 40.000.
No Brasil, tudo começou com a Brinquedos Bandeirante (1952), que produziu dois modelos: Fusca e Jipe.