O fora de série tem 38 anos, mas com corpinho de 88 (Christian Castanho/Foto/Quatro Rodas)
João Storani foi um dos primeiros a preservar carros antigos no Brasil, um precursor em meio a colecionadores como Roberto Lee, Og Pozzoli e Flávio Augusto Marx.
Sua predileção por americanos como Duesenberg, Peerless e Pierce-Arrow o levou a criar o Concorde, fora de série com nome de avião supersônico e visual da década de 1930.
Empresário bem-sucedido, Storani iniciou o projeto em 1974 com os filhos João Antônio e Cesar Augusto. O Concorde usou a mecânica do Ford Galaxie – motor, câmbio, suspensão dianteira e eixo traseiro.
O capricho na carroceria de plástico reforçado em fibra de vidro demonstrava a excepcional qualidade de construção.
A proibição das importações em 1976 aumentou o interesse do mercado interno e Storani foi convencido a exibi-lo no 10º Salão do Automóvel, em 1976.
Mesmo sem preço definido, o Concorde cativou integrantes da alta sociedade e interessados em representar a marca no exterior.
Suspensão independente do Galaxie (Christian Castanho/Foto/Quatro Rodas)
A proposta mais tentadora foi a de exportação para os EUA, onde o único similar era o Excalibur, de Brooks Stevens.
Foi então que Storani fundou a Concorde Indústria de Automóveis Especiais Ltda., viabilizando a produção do chassi de longarinas perimetrais e numeração de chassi no padrão americano.
Teria duas carrocerias: conversível de dois lugares e phaeton de cinco lugares. Este último esteve no 11º Salão do Automóvel, em 1978, e após o evento foi submetido ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para homologação.
Ao perceber a seriedade da iniciativa, a Ford do Brasil manifestou interesse em fornecer os componentes do Galaxie.
O comprometimento com outros empreendimentos fez Storani vender a fábrica para o chinês William Ting, com vasta experiência em comércio exterior.
O veículo das fotos é o mesmo do Salão do Automóvel de 1981 e destacou-se na edição 256 da QUATRO RODAS como o automóvel mais caro do evento.
Foi nesse salão que um empresário americano assumiu a representação da Concorde, levando as duas primeiras unidades para os EUA. Os automóveis foram exportados sem motor e câmbio, pois seriam reprovados pelas exigentes normas de emissões estrangeiras.
Cada Concorde levava seis meses para ser produzido, seguindo sempre a especificação de cada cliente.
Devido a problemas enfrentados pelo representante americano e à recessão que afetou a demanda do mercado brasileiro, a produção do Concorde foi encerrada por William Ting em dezembro de 1985.
A carroceria phaeton é a mais rara: uma das duas produzidas (Christian Castanho/Foto/Quatro Rodas)
Treze Concordes foram produzidos no padrão original de João Storani, incluindo duas unidades exportadas.
Sete carrocerias remanescentes foram adquiridas pelo colecionador paulistano Ari Vicentini e três foram finalizadas como os Concordes originais. As quatro restantes foram descaracterizadas e deram origem a modelos distintos.
O carro das fotos é um dos dois exportados para os EUA e foi encontrado por Eduardo Storani, neto de João, em um site de leilões.
Até agora trata-se do único automóvel brasileiro repatriado anos após a exportação, processo lento e burocrático realizado pelo consultor José Paulo Parra junto ao Denatran.
Além dele, mais três Concordes integram o acervo da família Storani, que hoje se dedica a preservar a memória da obra mais ilustre do patriarca, falecido em 1996, aos 72 anos.
A história do mais exclusivo dos automóveis nacionais será publicada em livro, após um vasto trabalho de pesquisa e registro do colecionador e historiador Murilo Brolio.
CD-player no painel é lembrança da vida nos Estados Unidos (Christian Castanho/Foto/Quatro Rodas)