A Polícia Civil conclui o inquérito que apurava o plágio de uma réplica de Ferrari produzida por um dentista no quintal de sua casa em Cachoeira Paulista (SP). O protótipo foi apreendido em janeiro a pedido da montadora italiana. Para a polícia, apesar do carro “não reproduzir a qualidade real do original”, ficou constatado o plágio. A Ferrari pediu que o veículo seja destruído, mas isso ainda depende da Justiça.
A Ferrari modelo F-40 foi ‘construída’ por Vitor Estevan, de 31 anos, e apreendida em janeiro a pedido de um advogado que representa a Ferrari no Brasil. A marca italiana encontrou o dentista em um anúncio feito em uma plataforma de vendas em que ele oferecia o protótipo ainda inacabado por R$ 80 mil. O inquérito foi concluído e entregue à Justiça nesta quarta-feira (31).
À época da apreensão, o inquérito aberto pela polícia queria apurar as características do veículo e, caso fosse confirmado o plágio, ele poderia ser destruído. O inquérito durou cerca de oito meses e dependia de uma perícia que comparasse o veículo feito por ele com um modelo original.
Segundo Vitor, a réplica foi feita de modo artesanal por cerca de um ano com chapas compradas em lojas de ferragem e montadas por ele nos fundos de casa. Já a parte mecânica do veículo foi feita a partir de peças de veículos batidos adquiridos em leilões.
A perícia foi feita com imagens do modelo original obtidas pela polícia. De acordo com a análise, o veículo “trata-se de um modelo fabricado artesanalmente de forma grosseira similar ao modelo F-40 da marca Ferrari” e que “não reproduz a qualidade real de um veículo original”.
O motor da réplica usa itens reaproveitados de um Toyota Camry, ano 1997. A lataria foi feita com fibra de vidro moldada para o design da F-40 e pintada de vermelho.
Apesar de ser classificada como réplica, as medidas do veículo fugiram do padrão original, segundo a perícia.
Ao final, o perito concluiu que salvo o chassi e a carenagem, todos os demais componentes não foram artesanalmente construídos e que o carro “não reproduz a qualidade real de um veículo original, ficando o acabamento grosseiro”.
Para o delegado responsável pelo caso, Mário Celso Senne, o laudo “não deixa dúvidas que de que autor estava ocorrendo em crimes”.
O destino do caso depende agora da decisão da Justiça. Caso entenda que houve o crime de plágio, o veículo pode ser destruído. O processo tramita no foro de Cachoeira Paulista e não há prazo para decisão.
O modelo original foi lançado em 1987 e foi o último veículo da Ferrari produzido com a supervisão de Enzo Ferrari, fundador da marca. O modelo pode chegar a 300 km/h e há pouco mais de mil exemplares da 'super máquina' no mundo, com preço que ultrapassa os R$ 4 milhões.
Vitor questionou a posição da empresa de recorrer à polícia contra ele por se tratar de uma construção amadora e artesanal, sem fins comerciais - apesar de ter colocado o veículo à venda.
"Diferente de criminosos que têm fábricas e constroem carros recém-lançados pela montadora com fim de lucro, eu não fiz isso. É um modelo antigo, com produção amadora mesmo. Fiz o anúncio porque me apertei, mas desisti da venda e ele estava comigo", conta.
Ele ainda disse que, desde a apreensão, seu protótipo está no pátio da Polícia Civil de Lorena e, apesar da Justiça ainda ter que decidir sobre a destruição, a forma como ele ficou exposto ao tempo causou deterioração.
A reportagem do G1 também procurou o advogado que representa a Ferrari no Brasil, mas aguardava o retorno.