Novidades

10 JUN

O dia em que QUATRO RODAS acelerou um VW Gol AP 4×4 de 500 cv

O visual do modelo quase não dava pistas das suas modificações mecânicas (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Matéria originalmente publicada na QUATRO RODAS de Outubro de 2003

Pax et bonum. O provérbio em latim estampado no emblema frontal abre passagem pedindo a paz e o bem. Quem está à frente só vê o Gol preto-fosco com cara de mau crescer rapidamente no retrovisor.

Quando olha de novo, não está mais lá. Já passou, empurrado por mais um coice da embreagem.

Dirigir o Gol Hellbrügge GT4 é isso, um paradoxo de selvageria com suavidade. Até 3.000, 3.500 rpm, responde calmo, tranquilo, sem engasgos ou vibrações exageradas. Mesmo em sexta marcha, tudo está calmo.

Os para-lamas alargados possibilitaram o aumento das bitolas (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Mas experimente agora o lado oculto: enterre a alavanca em quarta, grude o acelerador ao chão, sinta a pancada da cabeça no banco e veja o ponteiro engolir os números no conta-giros até 7.000 rpm.

A base do projeto veio de um Gol 1.0 (Marco de Bari/Quatro Rodas)

O motor vai gritando cada vez mais forte, na mistura do assobio agudo do turbo se enchendo de ar com o ronco de barítono dos cilindros trabalhando em alta.

O icônico motor AP chegava aos 500 cv – mas foi posteriormente trocado por um VR6 (Marco de Bari/Quatro Rodas)

A velocidade cresce assustadoramente rápido. Encaixo a quinta e solto a embreagem de repente. A resposta é outro coice, que faz a cabeça socar o encosto novamente.

Vou confessar: deu uma ponta de medo. “O carro é assim mesmo, áspero, tosco, 100% adrenalina”, diz ao meu lado o engenheiro mecânico Ricardo Hellbrügge, com a satisfação de quem criou um quebra-cabeça mecânico.

Juntou o motor retrabalhado do Golf 2.0 com câmbio e transmissão 4×4 da perua Audi S2 1994. E pôs tudo sob a casca de um Gol 1000.

A cabine ficou com só dois bancos e ganhou forração até na gaiola de proteção (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Aos 53 anos, Ricardo já havia dirigido Corvette e Porsche, mas queria algo mais bravo. “Queria adrenalina. Por isso pensei em fazer meu próprio carro, que tinha de ser pequeno e leve.

A tração 4×4 faz com que seja impossível destracionar (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Então pensei no Gol.” Nos primeiros testes, o excesso de potência fazia as rodas patinarem. Foi quando teve a idéia maluca do 4×4, para ganhar aderência nas arrancadas.

“Pesquisei desenhos e descobri semelhanças entre Audi e Gol. É o mesmo DNA. A mecânica do Gol deriva do nosso Passat, que é um irmão do antigo Audi 80”, diz Ricardo.

O assoalho do Gol foi herdado de uma Audi S2 (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Isso facilitou a instalação do câmbio manual de seis marchas e da transmissão controlada eletronicamente, que distribui de 25% a 75% do torque para os eixos. Com eles vieram suspensão e o assoalho da perua.

A solução, então, foi cortar o piso do Gol e encaixar o da S2.

Para saber se a idéia de Ricardo deu certo, levamos esse monstro sobre rodas para a pista de Limeira (SP). Nosso auxiliar de testes Jorge Luiz Alves bem que tentou, mas não conseguiu fazê-lo queimar pneu.

O logotipo foi customizado (Marco de Bari/Quatro Rodas)

O 4×4 não deixa, mas retribui com generosos 5,6 segundos para cravar os 100 km/h. Idênticos ao Mitsubishi Evolution VII e só 0,1 segundo mais que a perua Audi RS4 2.7 biturbo.

Claro, ajudou o motor, que recebeu pistões, bielas e virabrequim forjados, turbo com pressão de até 2 bar e carburador Weber de corpo duplo.

Por que o carburador? “Conhecia um preparador muito bom, mas que só trabalhava com carburador. Não quis arriscar fazer com outro”, diz o engenheiro, que pretende depois converter o sistema para injeção eletrônica.

Por falta de dinamômetro para 4×4, Ricardo não mediu a potência. Segundo seus cálculos, está em 500 cavalos. Mas do que adianta tanta potência se não parar com segurança?

Então fizemos o teste de frenagem. Fez 80 km/h a 0 em 26,9 metros, próximo à RS4, com 24,9. E em linha reta. Aliás, é uma surpresa testemunhar que, parando ou acelerando, o GT4 mantém a trajetória. Nem precisa segurar o volante para mantê-lo na faixa.

Algo difícil de acreditar num veículo que é metade Gol, em cima, e metade Audi, embaixo. O capítulo chassi, explica Ricardo, também contou com um especialista, que fez ajustes de estrutura para melhorar rigidez e segurança.

O monobloco é reforçado pelo santantônio, que liga as torres de amortecedor dianteiras, preenche o habitáculo e envolve o tanque de álcool ” agora no lugar do banco de trás ” até unir as suspensões traseiras.

A dose extra de segurança está nos bancos concha e cintos de cinco pontos, ambos homologados para competição.”O GT4 pode até disputar provas”, diz.

A essa altura você deve estar se perguntando: qual é a máxima desse bicho? Bem, nós também queremos saber.

Na véspera do teste na pista da GM, prazo final para o fechamento desta edição, o Gol teve problemas de alimentação e, segundo Ricardo, não haveria tempo para deixá-lo nas condições que a prova exige.

Mas o teste já está programado e você deve conhecer o número na próxima edição.

Empolgado pelos comentários que já ouviu, Ricardo pensa em produzir o GT4. Feito artesanalmente, levará seis meses para ser entregue e custará 240000 reais, com possibilidade de personalização.

Ele só não abre mão da sua marca. Criou até um logotipo próprio, com um H estilizado, do seu sobrenome.

Consciente de que o GT4 é para quem não quer esportivos tradicionais, Ricardo se apropriou de outro provérbio latino no emblema traseiro: Non ducor, duco. Ou “não sou conduzido, conduzo”. Mais adequado impossível.

Motor: dianteiro, transversal, 4 cilindros, 1.984 cm³, 8V, 500 cv (estimado), turbo com pico de 2 bar, alimentação por carburador Weber 40 IDF de corpo duplo, intercooler ar-água, filtro de ar KeN
Câmbio: manual, 6 marchas, tração integral
Suspensão: McPherson(dianteira), duplo A (traseira)
Freios: disco ventilado (dianteiro), disco sólido (traseiro), com ABS
Direção: elétrica, 11,3 m (diâmetro de giro)
Rodas e pneus: 205/55 R16
Dimensões: peso, 1.310 kg; tanque, 70 litros
Preço: R$ 567.000 (R$ 240.000 em 2003; valor atualizado pelo IPCA)
Desempenho: 0 a 100 km/h em 5,6 s, frenagem de 80 a 0 km/h em 26,9 m

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

20 ABR
SUV elétrico gigante de 1.520 cv promete mais autonomia que carro a diesel

SUV elétrico gigante de 1.520 cv promete mais autonomia que carro a diesel

Triton Model H: SUV terá 100 primeiras unidades vendidas a US$ 140.000 (Triton/Divulgação)A Triton é uma fabricante norte-americana ainda pouco conhecida mundialmente. Talvez por isso o primeiro lançamento da marca tenha sido tão ousado.O Model H é um SUV elétrico de enormes proporções e muita potência. O carro mede 5,68 m de comprimento, 2,05 m de largura e 1,87 m de altura e, segundo a marca, tem espaço para levar oito passageiros com conforto.Portas traseiras são... Leia mais
20 ABR
Deixar álcool em gel no console exposto ao sol faz o carro pegar fogo?

Deixar álcool em gel no console exposto ao sol faz o carro pegar fogo?

Console de carro supostamente queimado por álcool em gel (Reprodução/Internet)Uma publicação feita nas redes sociais nos últimos dias tem rapidamente sido compartilhada em grupos WhatsApp. Nela, uma fonte anônima afirma que seu carro pegou fogo porque foi mantido por cerca de 30 minutos no sol com a presença de um frasco de álcool em gel exposto na cabine.“Um aviso muito importante. Não deixem o álcool em gel dentro do carro no sol. Meu carro acabou de pegar fogo. Votei [sic] do... Leia mais
20 ABR
Tesla dobra vendas de carros, mas ainda dá prejuízo de R$ 350 milhões

Tesla dobra vendas de carros, mas ainda dá prejuízo de R$ 350 milhões

Tesla Cybertruck: SUV causou polêmica mas fez as ações da Tesla dispararem (Divulgação/Tesla)A fabricante norte-americana Tesla é destaque recorrente por sua linha de carros elétricos com sistema de direção autônoma e recheados de tecnologia embarcada.Mas engana-se quem pensa que a empresa tem lucrado rios de dinheiro. Pelo contrário.Em 2019, o balanço da Tesla revelou que e empresa teve prejuízos operacionais no valor de 61,59 milhões de euros, o equivalente a R$ 350... Leia mais
20 ABR
Raio X: quanto custa manter um Caoa Chery Tiggo 5X de R$ 100.000?

Raio X: quanto custa manter um Caoa Chery Tiggo 5X de R$ 100.000?

– (Arte/Quatro Rodas)O Chery Tiggo 5X vem conquistando seu espaço. De 387 unidades vendidas em fevereiro de 2019, passou ao recorde de 1.057 unidades em dezembro último.Na sua faixa de preço, se destaca por ter motor 1.5 turbo de 150 cv, câmbio de dupla embreagem de seis marchas, chave presencial, teto solar panorâmico e assistente de frenagem em descida.As revisões têm preços na média do mercado e o atendimento das lojas vem surpreendendo positivamente no Longa Duração.Revisões... Leia mais
20 ABR
Juntas, Fiat e Peugeot faturam R$ 1 trilhão e vendem mais carros que a GM

Juntas, Fiat e Peugeot faturam R$ 1 trilhão e vendem mais carros que a GM

Fusão deve mudar radicalmente os carros da Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën (Arte/Quatro Rodas)Dois dos maiores conglomerados automotivos do mundo estão prestes a se juntar para formar uma marca ainda maior.A fusão entre FCA, grupo que reúne marcas como Fiat, Jeep e Dodge, e PSA, de Peugeot e Citroën, foi anunciada oficialmente no final de outubro do ano passado e deve formar a quarta maior indústria automotiva do mundo em volume de vendas.A conclusão foi obtida com base no balanço de... Leia mais
18 ABR
Anúncio clonado: como é o golpe que te faz perder o carro e dinheiro

Anúncio clonado: como é o golpe que te faz perder o carro e dinheiro

– (Divulgação/Mitsubishi)Poderia ser sorte. O Mitsubishi Pajero Sport V6 Flex do engenheiro mecânico Renato Passos estava anunciado há apenas dois dias em um site de classificados quando um pretenso comprador demonstrou interesse quase imediato no carro.Mas não era sorte: o interessado era, na verdade, um golpista. E a negociação ajuda a revelar pontos para se atentar na hora de vender seu usado.O suposto interessado se apresentava como morador de uma cidade do interior e adiantava... Leia mais