Novidades

06 JUN

Como um incêndio na Volkswagen salvou a Toyota da falência no Brasil

Fabrica da Volkswagen na Via Anchieta em 1967 (Acervo/Veja SP)

Dezembro de 1970. O novo o setor de pintura na fábrica da Volkswagen na Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, estava pronto havia menos de um mês.

Era a primeira linha de pintura em em eletroforese, que diminuía drasticamente problemas com ferrugem e pintura não uniforme, da América Latina.

Mas parte do moderno sistema de pintura, que levou cinco anos para ser instalado, logo seria destruído.

Incêndio de grandes proporções destruiu um terço das instalações da VW (Acervo/Veja SP)

Era manhã do dia 18 – cinco dias antes das férias coletivas de Natal – quando um incêndio teve início na Ala 13. O enorme prédio de três pavimentos abrigava parte pintura e os estoques de solventes, materiais de tapeçaria e de pneus.

Alimentado por químicos, espumas e mais de 30.000 pneus, o fogo se alastrou, fugiu do controle e destruiu toda a ala, que às 13h daquele dia já havia desmoronado.

Além da brigada da Volkswagen, bombeiros das fabricantes vizinhas ajudaram a combater o incêndio. Eles só conseguiram debelar as chamas às 20 horas.

Ala 13 abrigava químicos, borracha, espumas e tecidos (Acervo/Veja SP)

Ambulâncias particulares de Ford, Chrysler e General Motors foram emprestadas, mas a VW ainda retirou as Kombi Ambulância prontas no pátio para socorrer os funcionários que ficaram feridos.

No dia seguinte, o Correio da Manhã contava que as labaredas alcançaram a Ala 4, que abrigava produção final dos automóveis. Os trilhos aéreos usados no transporte de veículos teriam ficado totalmente destruídos.

Cortina de fumaça era visível do I (Acervo/Veja SP)

Já a Folha de São Paulo dizia que um terço da linha de produção da fábrica havia sido destruído, o que levou a Volkswagen a interromper suas operações.

Rumores apontavam para 200 mortos no incêndio, mas oficialmente apenas uma pessoa, bombeiro da Karmann-Ghia, morreu.

Presidente da VW Brasil àquela altura, Rudolf Leiding precisou montar uma estratégia para retomar a produção, que chegava a 1.200 carros/dia.

Àquela altura, a Volkswagen representava metade do mercado de automóveis do país e sua paralisação impactaria o PIB brasileiro.

Mapa das alas da fábrica da Via Anchieta em 1970 (Acervo/Veja SP)

Junto ao presidente mundial da VW, Kurt Lotz, Leiding conseguiu que um novo maquinário de pintura eletroforética que seria destinado à fábrica de Wolfsburg fosse enviado para o Brasil. Mas isso não bastaria.

As férias coletivas foram antecipadas para acelerar a recuperação de parte da fábrica e buscar formas de continuar pintando as carrocerias mesmo com parte da fábrica em escombros.

Sistema de transporte das carrocerias foi danificado no incêndio (Divulgação/Volkswagen)

Parte da solução foi religar a antiga linha de pintura e utilizar as instalações abandonadas da Vemag.

Mesmo assim, seria impossível alcançar a produção de 500 carros/dia já a partir do fim das férias, programado para 14 de janeiro, como projetado no plano de recuperação. 

O jeito foi recorrer às fabricantes vizinhas com capacidade de pintura ociosa. Assim, Karmann-Guia, Chrysler, Brasinca e Toyota passaram a pintar as carrocerias de uma parte dos Volkswagen produzidos em 1971.

A transportadora Brazul, que transportava os VW prontos, agora também faria o traslados das carrocerias entre as fábricas.

Pintura eletroforética era argumento de venda do VW 1600 TL em 1973 (Reprodução/Acervo pessoal)

O esforço deu certo. Em janeiro a Volkswagen já conseguia montar quase 800 carros por dia na seguinte proporção: 220 Fusca (com prioridade para o 1500), 234 Variant, 234 TL 1600, 70 Kombi, 3 Karmann-Ghia TC e 22 Karmann-Ghia Standard.

Em setembro voltava à capacidade de 1.200 carros/dia e a marca terminou o ano com 300.000 carros produzidos, crescimento de 27% frente a 1970.

O ano também terminou bem para a Toyota. Aplicar o primer em 20 carrocerias de Fusca por dia tornou a operação brasileira bastante rentável. Mais que isso: deu sobrevida à fábrica, que estava na iminência de fechar.

Carrocerias do Fusca foram pintadas junto com o Toyota Bandeirante (Divulgação/Toyota)

O início das operações da Toyota no Brasil foi bastante conturbado. A montagem do Land Cruiser em um galpão no Ipiranga comprado da Rover durou menos de um ano.

Oitocentos carros foram montados com peças trazidas do Japão entre 1959 e o início de 1960, quando o Governo Federal a obrigou a interromper a produção por não cumprir os requisitos de nacionalização.

O terreno da fábrica de São Bernardo foi comprado em 1960 e a fábrica ficou pronta em 1962.

Embora a capacidade fosse para fazer 300 Bandeirante por mês, apenas 627 seriam montados naquele ano, chegando ao pico de 2.200 carros em 1964. Mas a média dos anos seguintes seria de desanimadores 700 carros/ano.

Primeiro lote de Toyota Bandeirante fabricados em São Bernardo (Divulgação/Toyota)

Prestar o serviço de pintura para a Volkswagen pode ter evitado que a Toyota encerrasse a produção do Bandeirante no Brasil. Contudo, não evitou que a japonesa desistisse de fabricar automóveis no Brasil.

Ela chegou a estudar a nacionalização do Corolla e do Corona no final da década de 60, e trouxe alguns modelos para testes na década de 1970. Mas depois anunciaria investimentos no Japão.

O Bandeirante seria o único Toyota nacional pelos 27 anos seguintes. O jipe usava motores diesel Mercedes desde 1962 e passou por pouquíssimas mudanças entre 1968 e 1982, quando ganharia nova grade.

Quatro Rodas testou, em 1973, quatro modelos da Toyota importados para clínicas com consumidores (Acervo/Quatro Rodas)

Foi justamente em 1982 que a Toyota voltou a falar em carros de passeio, motivada pela Crise do Petróleo e prometendo carros capazes de fazer 20 km/l.

Mas a Comissão de Desenvolvimento Industrial (CDI) se negou a dar incentivos fiscais, exigiu metas e prazos predefinidos, e a localização da fábrica seria definida pela União. Desta vez a Toyota preferiu investir no Japão e nos EUA.  

O Bandeirante ganhou grade plástica e faróis retangulares em 1989 (Divulgação/Toyota)

Os carro de passeio da Toyota só começariam a chegar ao Brasil em 1992, com a abertura das importações. A produção de automóveis só começou em 1998 com o Corolla, na nova fábrica de Indaiatuba (SP).

Por sinal, o terreno da fábrica foi comprado em 1989 e a construção da planta só foi anunciada no final de 1995, após a Honda anunciar sua fábrica no Brasil.

O Toyota Bandeirante chegou ao fim em novembro de 2001, com 104.621 unidades produzidas. E o Grupo Volkswagen alterna com a Toyota a liderança do mercado mundial de automóveis há anos.

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

01 AGO

Justiça de SP determina que Facebook remova perfil falso de presidente do Detran que era usado em golpes

A Justiça de São Paulo determinou nesta quarta-feira (1º) que o Facebook remova o perfil falso do diretor-presidente do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran SP), Maxwell Vieira. A decisão da juíza Marcia Tessitore, da 14ª Vara Cível da Capital, dá prazo de 24 horas para a retirada da página do ar e determina que o Facebook “informe os dados cadastrais e IP do computador para localização do responsável pelas postagens”. Segundo o Detran, por meio de... Leia mais
01 AGO

Correio técnico: por que a gasolina e o etanol não são puros?

A edição de etanol à gasolina começou nos anos 70 (Divulgação/Quatro Rodas)Por que a gasolina brasileira tem etanol anidro e o etanol vendido nos postos é misturado com água? Os carros teriam um rendimento melhor se usassem etanol anidro? – José Debon, por e-mailO principal motivo para a gasolina ter etanol e o etanol, água, é um só: custo. “Adicionar etanol à gasolina é uma saída para baixar o preço do combustível e substituir o chumbo tetraetila como agente para... Leia mais
01 AGO

Turismo 4×4: ralis são convite para conhecer lugares novos

“O Nordeste é 4×4.” É o que crava Carlos Melo. Mais conhecido como Pixoto, Melo é navegador da categoria graduados do Mitsubishi Motorsports e um grande conhecedor das belezas, caminhos e paisagens nordestinas.Com seu filho ao volante, Pixoto foi um dos participantes da terceira etapa da temporada 2018 do rali de regularidade mais tradicional do Brasil, disputada em Gravatá (PE). Foi a primeira vez no ano que a competição esteve no Nordeste. Para muitos, o rali também foi uma... Leia mais
01 AGO

Mercedes-Benz Classe A já roda em testes no Brasil

Novidade foi flagrada em São Paulo (SP) (Arthur Miccolis/Quatro Rodas)O novo Mercedes-Benz Classe A já circula em testes no Brasil e foi flagrado pelo leitor Arthur Miccolis na zona sul da capital paulista.É provável que a unidade fotografada – com faróis mais simples e rodas de aço – sirva apenas para homologação do modelo no país.O lançamento dessa reestilização no nosso mercado está previsto para novembro, durante o Salão do Automóvel de São Paulo.Hatch deverá chegar ao... Leia mais
01 AGO

Toyota Yaris estreia vendendo mais do que o ‘irmão menor’ Etios

Em seu primeiro mês cheio, o Toyota Yaris já conseguiu superar seu “irmão menor”, Etios. Com as 2.872 unidades, ele foi o 27º modelo mais emplacado em julho, segundo os dados da Fenabrave, a associação das concessionárias. Venda de veículos novos cresce 17,7% em julho A posição no ranking não parece empolgante, mas ele acabou acima do Etios, que ficou apenas em 40º, com 1.790 unidades. Os números valem para as versões hatches dos dois modelos. Curiosamente, entre... Leia mais
01 AGO

Venda de veículos novos sobe 17% em julho no Brasil

A venda de veículos novos no Brasil subiu 17,7% em julho, na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo informou nesta quarta-feira (1) a associação das concessionárias, a Fenabrave. Yaris estreia melhor que o ‘irmão menor’ Etios Foram comercializadas 217.506 unidades de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus no mês passado. É o melhor resultado mensal no ano, superando por pouco o mês de abril. Somando os primeiros sete meses do ano, entraram em... Leia mais