Novidades

01 MAI

O jornalista de QUATRO RODAS que invadiu pista e tomou uma Coca com Senna

Senna no GP do Brasil de 93. No canto inferior direito, destacado pelo quadrado vermelho, estava Péricles Malheiros (Reprodução/TV Globo/FOM/Arte/Quatro Rodas)

Já fui muito mais apaixonado por Fórmula 1. Em 1990, quando o GP do Brasil voltou a ser disputado em São Paulo, quase fiquei de fora.

Como até então o GP era disputado no Rio de Janeiro, uma legião de torcedores cariocas foi para Interlagos e eu, um garoto de 15 anos inexperiente em grandes eventos, cheguei apenas umas duas horas antes da largada.

A fila estava, literalmente, quilométrica – a ponto de dar uma volta completa no autódromo. Desolado, pensei: “Vou seguir essa fila até o portão da arquibancada G. Se eu tiver mesmo que pegar ela inteira, volto para casa”. E assim fiz.

Depois de tanto andar, cheguei até o portão, me aproximei de um policial com meu ingresso na mão e perguntei: “Por favor, aqui é a entrada da G”?. Ele pôs a mão na minha cabeça e, me direcionando para dentro do autódromo, disse: “Aqui mesmo. Vai, entra, entra”. “Nunca mais vou ter tanta sorte em algo relacionado à F1”, pensei.

Comemoração com a bandeira do Brasil: a atitude que virou marca registrada do campeão (Acervo/Quatro Rodas)

Errei. Felizmente. Naquele ano de 1990, Senna foi o campeão e eu nunca mais deixei de ir ao GP Brasil – uma vez ou outra fui apenas em dias de treino. E, pode acreditar, tive ainda mais sorte em minha relação com a F1.

Em 1991, Senna venceu pela primeira vez em interlagos. Foi uma loucura. Mas só em 1993, ano da segunda vitória em casa, que ocorreu a histórica invasão da pista.

Não sei explicar a razão, mas o fato é que naquele ano levei um alicate em minha mochila de mantimentos. Na revista de entrada, implorei ao policial: “É do meu pai. Não posso me desfazer dele. Se voltar pra casa sem ele, estou lascado”. E ele me liberou.

Para quem não sabe, o motivo de levar uma mochila para uma corrida de F1 é que a arquibancada G, localizada na reta oposta e geralmente ocupada pelo “povão”, exigia uma operação de guerra para o dia da corrida.

No sábado, antes de o treino classificatório acabar, boa parte dos torcedores abandonava as arquibancadas e já começava a formar a fila para a corrida, no dia seguinte.

Isso mesmo: passávamos quase 24 horas na calçada, em fila, sob sol e chuva. Tudo para ver a corrida do melhor ponto da arquibancada G. Mas voltemos ao alicate na mochila.

Secos e molhados: sem a chuva, Senna não teria chance alguma diante das Williams naquele GP do Brasil (Acervo/Quatro Rodas)

Nas últimas voltas do GP de 1993, com a iminente vitória de Senna, fui para o nível inferior da arquibancada, peguei meu alicate – ignorei a promessa feita ao policial de não tocar nele enquanto estivesse em Interlagos – e comecei a abrir a base da grade metálica.

Obviamente minha manobra logo foi notada: por outros torcedores e alguns policiais que estavam logo abaixo, entre a arquibancada e a pista.

O fato é que, de mão em mão, o alicate que levei abriu um enorme buraco na grade, enquanto Senna recebia a bandeirada da vitória. Quando ele entrou na reta oposta, não teve jeito: uma cascata de torcedores começou a cair.

Com golpes de cacetetes, os policiais tentaram conter o público, mas já era tarde: de cada um que eles atingiam outros tantos escapavam em direção à pista. Já quase no fim da reta oposta, Senna parou, cercado pela multidão.

Naquele dia, apareci na transmissão da TV por algumas vezes, pulando perto da McLaren, arrastando a enorme bandeira do Brasil e até driblando as viaturas que escoltaram o Fiat Tempra para dar um Hi-Five em Senna, que foi do ponto onde deixou seu carro até os boxes pendurado na janela.

A edição de abril de 93 da QUATRO RODAS dedicou oito páginas à vitória de Senna em Interlagos (Acervo/Quatro Rodas)

Tive ainda outro momento incrível, mas este deixei por último porque, confesso, não lembro em qual ano entre 1991 e 1993, ele ocorreu.

Empolgado como qualquer garoto, acabei me filiando à TAS, a Torcida Ayrton Senna. Nós, os fãs de carteirinha, costumávamos nos reunir na sede (na Zona Norte de São Paulo) para assistir às corridas juntos.

Um certo dia, atendi a uma convocação de voluntários para ajudar na arrumação de novas fotos do Senna nas paredes da casa. Apesar de morar do outro lado da cidade e me deslocar de transporte público, cheguei bem cedo, num sábado.

O presidente da TAS e amigo de Senna, Adilson Carvalho de Almeida, também estava lá. Depois de uma meia hora, a campainha tocou. Como a casa ficava num ponto mais elevado do terreno, dava para ver quem chegava da porta de entrada.

Avisei: “P#%@ que p@?!#, Adilson! É o Senna”! Ele passou por mim rindo: “Sabia que você ia gostar”. Desceu a escadinha que ligava a casa à rua e foi atender o visitante ilustre. E eu lá em cima, petrificado.

Senna indo ao pódio do GP do Brasil de 93 no lendário Tempra 16V safety car (Acervo/Quatro Rodas)

Dois minutos de conversa entre eles e aconteceu: “Pega a chave, tranca a porta e vamos lá na padaria com a gente”, gritou o Adilson lá de baixo. E lá fomos nós, rumo a uma padaria na rua Dr. Édson de Melo, a mesma onde ficava o fã-clube.

À época não me dei conta do quão assustado aquela situação me deixou, mas hoje, olhando para trás, creio que entrei numa espécie de transe. Recordo apenas de alguns flashes.

Não sei dizer em qual carro Senna chegou (um Opala preto, talvez) nem se fomos a pé, ou mesmo qual era o nome da padaria. Mas, graças a Deus, lembro de momentos que aconteceram diante do balcão.

“O que vai ser hoje, campeão?”, disse o atendente. Não lembro a resposta, só recordo de ficar vendo Ayrton e Adilson no maior bate-papo. “Não vai querer nada? Pega uma Coca, menino. Traz uma Coca pra ele aqui” disse Senna, apontando pra mim.

Era nesta casa no nº 95 da rua Dr. Édson de Melo que ficava o fã-clube TAS. Na infância, Senna morou no local (Google Maps/Internet)

Daí para frente, amigo, lembro de bem pouca coisa: o Senna, meu ídolo, pedindo uma Coca pra mim foi um golpe duro demais para o psicológico de um garoto.

Pela educação que tive, disse que eu mesmo pagaria o meu refrigerante, mas ele insistiu que fazia questão e eu aceitei a gentileza.

Quando o agradeci, ouvi: “Obrigado, nada. O Adilson me contou que você veio do outro lado do mundo para ajudar a arrumar a sede da TAS. Quem tem que te agradecer sou eu”.

Daí para frente, tudo sumiu: não lembro como a conversa terminou, como nos despedimos nem sequer como voltamos para a sede.

Isso nunca me abalou: fiquei conhecido entre os amigos da TAS como e menino que tomou uma Coca com o Senna. E desse momento eu nunca me esquecerei. Valeu, Senna, de novo! Obrigado pela melhor Coca-Cola de toda a minha vida.

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

12 MAR
Caoa Chery Arrizo 5 ganha novos itens, fica mais caro e parte de R$ 74.590

Caoa Chery Arrizo 5 ganha novos itens, fica mais caro e parte de R$ 74.590

Luzes diurnas de led vêm de série em todas as versões (Fernando Pires/Quatro Rodas)O novo Caoa Chery Arrizo 5 tem como principal mudança o câmbio automático CVT com nove marchas simuladas – emprestado do Arrizo 6 – e já está disponível no Brasil com preços entre R$ 74.590 e R$ 83.590.Desde a configuração de entrada, o sedã recebeu freio de estacionamento elétrico e tela colorida para o computador de bordo, ambos inéditos. Além disso, já há central multimídia e luzes... Leia mais
12 MAR
De Mustang a Corolla: os 5 carros que mais aparecem em filmes de Hollywood

De Mustang a Corolla: os 5 carros que mais aparecem em filmes de Hollywood

Cena da franquia multimilionária Velozes e Furiosos 7, filme que moldou uma geração de apaixonados por carros (Divulgação/Reprodução)Quando pensamos nos carros mais notórios e presentes no cinema, o que vem a cabeça de todo amante das quatro rodas  deve ser o Ford GT40 de Ford vs Ferrari, certo?Ou seriam as máquinas tunadas e com câmbios de 19 marchas da turma liderada por Vin Diesel na franquia Velozes e Furiosos? Talvez os belíssimos Aston Martin de James Bond, correto?... Leia mais
12 MAR
Novo Chevrolet Tracker já é oferecido em loja entre R$ 57.000 e R$ 120.000

Novo Chevrolet Tracker já é oferecido em loja entre R$ 57.000 e R$ 120.000

– (Leonardo Felix/Quatro Rodas)A Chevrolet tomou algumas medidas para que o Tracker não seja mais exibido até seu lançamento oficial, que acontecerá entre os dias 18 e 19 de março.As concessionárias não mostram o veículo nem para potenciais clientes e também não dão nenhum tipo de especificação técnica.No entanto, embora ainda tente manter o SUV em segredo, os valores das versões já foram divulgados pelo site de uma concessionária Chevrolet.Vale lembrar que esses preços... Leia mais
12 MAR
Novo VW Nivus tem Wi-Fi, estaciona sozinho e carrega o celular sem fio

Novo VW Nivus tem Wi-Fi, estaciona sozinho e carrega o celular sem fio

A Volkswagen divulgou um teaser do seu novo SUV, o Nivus (Divulgação/Quatro Rodas)A Volkswagen divulgou nesta quinta-feira (12) mais um teaser do Nivus, SUV cupê derivado do Polo que será lançado comercialmente em maio deste ano.Com produção em São Bernardo do Campo (SP), o modelo inaugurará um segmento no país e será comercializado, inicialmente, em três versões, sempre com motor 1.0 turbo flex de 128 cv e preços entre R$ 70.000 e R$ 85.000.A central multimídia será... Leia mais
12 MAR
Teste: Hyundai HB20 é o novo hatch 1.0 aspirado mais econômico do Brasil

Teste: Hyundai HB20 é o novo hatch 1.0 aspirado mais econômico do Brasil

No HB20 Evolution, só o contorno da grade é cromado (Fernando Pires/Quatro Rodas)O roteiro é comum: o jovem recém-alçado à maioridade que passou no vestibular e ganhou dos pais seu primeiro carro zero, um Hyundai HB20.Desde a mais recente atualização do modelo, há mais de 70% de chances que esse estudante seja presenteado com a configuração 1.0 aspirada, que tem preços mais acessíveis, pacote mais pé no chão e, por isso mesmo, é disparado a que mais vende.Lanternas traseiras... Leia mais
12 MAR
Raio X: é barato manter um Fiat Cronos Drive 1.3 manual?

Raio X: é barato manter um Fiat Cronos Drive 1.3 manual?

– (Divulgação/Fiat)Entre todas as versões do Fiat Cronos, a Drive 1.3 com câmbio manual é a mais equilibrada. Central multimídia é equipamento de série, mas câmera de ré, ar-condicionado automático e rodas de liga leve são opcionais.O motor 1.3 Firefly de 109 cv faz do sedã argentino um carro eficiente e ágil, e não impacta tanto no preço das revisões.Peças de desgaste têm custo de carro popular. Além disso, possui seguro com prêmio abaixo da média e baixa... Leia mais