Novidades

23 ABR

Jeremy Clarkson: perua GTC4Lusso V8 é a uma Ferrari quase racional

Com tração só no eixo traseiro, o dianteiro pode, enfim, fazer o trabalho dele (Divulgação/Ferrari)

Eu não consigo tirar a grande Ferrari GTC4Lusso da minha cabeça. Ela está me deixando louco. Há quase dez anos, eu prometi a mim mesmo que nunca compraria um carro exótico de novo.

Eu já tive Ferrari, Lamborghini e Ford GT, e pensava já estar curado disso. Eles são chamados carros dos sonhos por uma boa razão. Porque eles são idiotas demais para o mundo real. Barulhentos demais. Ostentosos demais. Nada práticos demais.

Eles não são carros para os brilhantes ou eminentes.

São carros para o homem que quer mostrar a seus vizinhos que sua nova empresa atacadista de tapetes está indo bem. E que sua próxima compra será um par de leões de pedra para ornamentar o portão da garagem.

E a GTC4Lusso tem ainda outros problemas. Eu já fiz uma avaliação dela antes por aqui, há coisa de um ano, quando apontei que a tração nas quatro rodas é estúpida, o motor V12 é desnecessário e a largura do carro é risível.

Além disso, conheço uma pessoa que comprou uma e em quatro meses perdeu 50.000 libras (R$ 240.000) em desvalorização.

E, a despeito de tudo isso, ela continua a corroer minha alma, porque eu me imagino usando-a para ir até meu barco no sul da França. Eu sei que é ridículo, porque obviamente eu iria de avião.

Ninguém gosta de ficar sentado em uma rodovia altamente policiada por dez horas, não importa em que carro esteja. E, além disso, não tenho um barco.

Não posso sequer sonhar de forma sensata em usar uma GTC4Lusso quando chegar ao sul da França, por causa daquela manhosa sequência direita-esquerda para passar pelo arco perto do porto de Antibes – o carro simplesmente não cabe ali.

Eu teria de parar em um estacionamento e pegar um ônibus. Argh!

Porém, estou falando de uma perua esportiva Ferrari. Quatro bancos confortáveis. Um carro de passeio silencioso que rosna e salta à vida quando você o cutuca com uma vara.

E eu sabia que, se fosse um pouquinho paciente, ia aparecer uma versão V8 de tração só na traseira.

Bem, eis ela aqui: e é uma quebra de paradigma. Em geral, um cliente não pode escolher que motor ou câmbio é instalado em uma Ferrari. Mas na GTC4Lusso você pode. E não tenha dúvida: só tem uma resposta.

A versão T tem um V8 biturbo que produz 612 cv, ou seja, 78 cv menos do que o V12. Mas como a T é mais leve, o desempenho de ambas é quase igual.

Sim, o V12 tem um som ligeiramente mais bonito no limite da faixa de rotações, mas o V8 consome menos. E tem mais…

Seu motor V8 3.9 biturbo de 612 cv produz 78 cv a menos (Divulgação/Ferrari)

A versão V12 não é um carro empolgante de dirigir. Ela passa uma sensação – ouso dizer – de ser um pouco desajeitada.

Não é como tentar colocar um cadáver gordo no porta-malas de um Ford Focus, mas também não é como contemplar uma pena sendo levada por uma suave brisa de verão.

Já a V8 é simplesmente maravilhosa. Ao contrário da V12, ela não parece desajeitada. Você vira o volante e sente imediatamente aquela delicadeza Ferrari, uma sensação que nenhuma outra marca consegue igualar.

Parte disso é consequência, eu sei, do sistema de quatro rodas esterçantes, que eu acho um pouco tolo – ele deixa os passageiros do carro enjoados e oferece ganhos de velocidade desprezíveis –, mas outra parte é resultado da ausência da tração nas quatro rodas.

As rodas dianteiras podem apenas fazer o trabalho delas. Eu adorei dirigir este carro.

E ela derrapa? Ela se agarrará à vida, mesmo se estiver despencando água do céu e você estiver dirigindo como um louco com as calças pegando fogo? Sim, é claro.

Eu desliguei o controle de tração e provoquei uma saída de traseira em uma rotatória e, embora tenha parecido que eu estava fazendo drifting em um navio, ela se mostrou tão controlável quanto um Subaru Impreza.

Mas é claro que a GTC4Lusso T não é para isso. Você nunca a verá em um track day ou rasgando por avenidas desertas às 2 da manhã. É um carro espaçoso. Tem até um largo parapeito de janela no qual você pode descansar seu braço enquanto passeia.

E você vai mesmo passear, porque ela é silenciosa, civilizada e tem uma suspensão alegremente macia. Você até pode chamá-la de sossegada. E ninguém tinha falado isso de uma Ferrari até agora.

O banco do motorista é um lugar agradável para ficar. Tudo parece ter sido montado com esmero. Ela também é divertida.

Como opcional, a Ferrari instala à frente do passageiro dianteiro uma segunda tela, configurável de acordo com seu gosto. Tocar músicas. Ver a rotação do motor. Conferir a velocidade. A única coisa que falta é um karaokê.

O motorista conta com o mesmo tratamento, mas infelizmente não conseguirá usar qualquer um dos recursos, pois os controles, juntamente com aqueles dos faróis, limpadores de para-brisa e setas de direção, estão todos no volante.

Então, ele vai dirigir gritando “Onde está a p… do botão do farol?” Colocar botões na única parte do interior do carro que se move é uma ideia idiota, porque quer dizer que nada está onde você deixou.

E eu não me importaria, mas a Ford fez exatamente a mesma coisa no seu novo supercarro GT. Loucura.

E para piorar as coisas na Ferrari – quando você estiver colocando seus óculos para encontrar o botão certo, que agora está à esquerda porque você está fazendo uma curva – não estará olhando o velocímetro…

Todo carro tem um ritmo no qual ele se “acomoda” melhor na rodovia, quando você não está concentrado. Um Porsche 911, por razões que ninguém conhece, fica mais feliz a cerca de 90 km/h.

Um Mini Cooper está no seu melhor em torno de 160 km/h. Já a Ferrari se acomoda a 190 km/h. O que quer dizer que você precisa ficar bem atento ou vai acabar na traseira de um ônibus.

Mas isso é só um detalhe. E em um país iluminado em que velocidade não seja vista como um crime, não é problema.

O único problema real que eu consegui encontrar foi com os freios. Sendo de cerâmica de carbono, eles não funcionam de verdade quando estão frios.

Mas isso não foi o suficiente para eu me preocupar, pois graças à nova versão V8, muito melhor, o assalto da GTC4Lusso ao meu bom senso subiu uma marcha. Eu realmente amaria ter um carro desses. Por uma única razão: ele é maravilhoso.

Jeremy Clarkson

É jornalista, apresentador do programa The Grand Tour e celebridade amada pelos fãs e odiada por algumas marcas.

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

01 FEV

Longa Duração: diferença nas ofertas do Jeep Compass é o preço de um Kwid

Compass diesel: força extra até na hora da revenda (Renato Pizzuto/Quatro Rodas)O Jeep Compass está na reta final de sua jornada de 60.000 km. Fomos com ele a lojas multimarcas independentes e também a concessionárias autorizadas, tanto da marca como das que vendem alguns dos seus principais concorrentes.Fingindo ser um consumidor comum interessado na troca do Jeep por um carro zero-quilômetro, nosso piloto de teste Eduardo Campilongo ouviu as mais variadas propostas.Por ser movido a... Leia mais
01 FEV

Comparativo: com fôlego jovem, Ford Mustang encara veterano Jaguar F-Type

Mustang: 466 cv no V8 aspirado. F-Type: 2.0 turbo de 300 cv (Christian Castanho/Quatro Rodas)Esportivos tradicionais costumam travar batalhas épicas quando se encontram em comparativos. O desempenho e a dirigibilidade, claro, têm peso maior, mas, como o mundo mudou, pontos como conforto, consumo e espaço para a família também são considerados na hora de pesar os prós e os contras na balança. Aqui, o belo Jaguar F-Type encara o consagrado Ford Mustang. Ao contrário do que normalmente... Leia mais
01 FEV

Clássicos: AM3/AM4 foi destaque na segunda fase da Puma no país

Último Puma com motor traseiro, o AM4 durou menos de um ano (Christian Castanho/Quatro Rodas)A Puma foi um dos fabricantes nacionais de maior sucesso nas décadas de 60 e 70. Afetada pela recessão, a empresa fechou as portas e teve os direitos de produção transferidos à Alfa Metais em 1987. Dois anos depois, o empresário Níveo de Lima, de Curitiba, apresentou o AM3, cuja principal novidade era o motor VW AP de 1,6 litro, refrigerado a água.Evolução dos Puma P-018 e AM1/AM2... Leia mais
31 JAN

Executivo da Mercedes-Benz será novo presidente da Anfavea

O diretor de comunicação e relações institucionais da Mercedes-Benz do Brasil, Luiz Carlos Moraes, será o próximo presidente da associação das montadoras, a Anfavea. Ele vai substituir Antonio Megale, executivo da Volkswagen. A troca acontecerá no próximo dia 23 de abril, quando Megale completará o mandato de 3 anos à frente da entidade. Moraes compôs uma chapa única para sucessão, junto com Fabricio Biondo, da PSA Peugeot Citroën, como 1º vice-presidente. Eles... Leia mais
31 JAN

QUATRO RODAS de fevereiro: fomos à Austrália guiar a nova Mitsubishi L200

– (Arte/Quatro Rodas)Depois de passar por uma plástica geral, a Mitsubishi L200 Triton tem tudo para se tornar uma da picapes mais cobiçadas do segmento. A boa notícia é que o modelo está programado para chegar ao Brasil no fim de 2020.Como nós somos ansiosos, não conseguimos esperar até lá: fomos para a Austrália experimentar com exclusividade a nova L200 e poder contar aos nossos leitores como roda a novidade – e se vale a pena aguardar mais um ano, pelo menos, para tê-la em... Leia mais
31 JAN

Procon-SP exige esclarecimento da VW por recall dos carros sem registro

Golf está entre os convocados em recall da VW (João Mantovani/Quatro Rodas)A Volkswagen convocou na última quarta-feira (30) 194 veículos comercializados no Brasil sem registros de liberação para uma campanha de recall. QUATRO RODAS revelou o caso em primeira mão.O problema é que, segundo o Procon-SP, os órgãos de defesa do consumidor não foram notificados pelo fabricante, algo exigido por lei para que uma convocação possa ser tornada pública.Ao todo, 194 proprietários foram... Leia mais