Novidades

01 ABR

Jeremy Clarkson: Mercedes Classe A é como uma quitinete de luxo na praia

O novo Classe A foi apresentado ao Brasil no Salão do Automóvel de 2018 (Divulgação/Mercedes-Benz)

Muitos dizem que os alemães  não têm senso de humor. Mas não é verdade, porque a Mercedes lançou um hatch do tamanho do VW Golf com motor 1.3 turbo ao preço hilário – ao menos na versão que dirigi – de 30.000 libras – por aqui, o hatch já foi lançado a partir de quase R$ 200 mil.

E aqui está a conclusão da piada: é possível que você vá querer ter um…

Nunca entendi por que interiores luxuosos e bem equipados são colocados só em carros grandes. Quem é que decidiu que pessoas que querem couro macio e tapetes espessos também precisam de 5 metros de espaço para as pernas no banco de trás.

Na maior parte do tempo, carros grandes são um incômodo. Você passa um tempo enorme procurando vagas na rua e, quando encontra uma que poderia acomodar com facilidade um Golf, é forçado a segurar o tráfego enquanto faz papel de bobo. E daí é obrigado a seguir adiante.

Automóveis grandes significam que você terá de caminhar mais até chegar aonde quer ir.

Também há o problema das ruas com faixas estreitas. Num carro pequeno você consegue rodar por elas sem pensar, mas num grande precisa apertar os olhos e espremer os ombros contra o corpo. E mesmo o menor erro de avaliação pode resultar em um espelho voando.

A única solução é evitar essas vias, o que significa que você vai levar ainda mais tempo para chegar ao destino.

E tem mais. Um carro grande é mais pesado, o que o torna menos divertido de dirigir que um pequeno. E devora combustível, o que significa que você passará mais tempo no posto de gasolina do que em casa com seus filhos.

E, como resultado de sua ausência, eles se tornarão marginais ou cheiradores de cola. A solução óbvia, se você não quiser que seus filhos acabem com bolhas no nariz, é comprar um carro pequeno.

Mas se fizer isso você terá couro indecente, um motor sonolento e porta-objetos de plástico nas portas, que farão com que as chaves da sua casa e seu celular façam um barulho de coisas raspando sempre que você virar uma esquina.

Não curtiu a iluminação azul? Pode escolher qualquer outra cor da natureza (Divulgação/Mercedes-Benz)

O que nos leva de volta ao início: por que alguém não fabrica um carro pequeno com o luxo de um carro grande?

A Renault tentou no passado, com uma versão do modelo 5 chamada de Monaco. Mas foi um fracasso porque, por baixo dos toques de luxo, continuava a ser uma caixa de horrores dos anos 80. Ele quebrava muito, enferrujava e não dava partida quando o motor estava quente.

Felizmente, nada disso afetará o novo Mercedes Classe A, que está tentando atender ao mesmo nicho do Monaco. Como resultado, você entra na versão A 200 AMG Line que eu testei e imediatamente sai e diz ao vendedor: “Eu tenho de ter um”.

Meu carro tinha alguns opcionais, mas, Deus do Céu, é um lugar legal para se sentar. O painel tem uma placa com aparência de zinco, e as cinco saídas de ar circulares se parecem com a parte de trás das turbinas do Lockheed SR-71 Blackbird.

E veja esta: quando estão ventilando ar frio elas brilham em azul, e com ar quente reluzem em vermelho.

E há iluminação por todos os lados. Você pode pedir um opcional que o permite escolher dentre literalmente qualquer cor conhecida pela ciência e, quando não conseguir decidir a cor que quer em cada ponto, basta colocar o sistema no automático, que ele vai alterná-las suavemente enquanto você dirige. É como estar testemunhando uma aurora boreal. E eu amei.

Também tem duas telas digitais, uma para o GPS, sistema de som etc., e outra para os instrumentos, que também pode ser personalizada para corresponder ao seu humor. Passei 85% do meu tempo fazendo isso e só 15% olhando para a rua.

É incoerente: é infração de trânsito falar ao celular ou brincar com o passageiro enquanto se está ao volante, porque tais coisas são consideradas distrações. No entanto, não há restrições a dirigir sentado à frente do que parece a mesa de luz de um show do Pink Floyd.

Tecnicamente, o carro não é tão pequeno assim. É um tanto quanto maior do que, digamos, o Classe A original. O qual foi projetado, segundo me contaram, para ser um carro elétrico, e tinha dois pisos para que o espaço entre eles pudesse ser usado para se colocar baterias.

Mas a Mercedes abandonou a ideia de fazer um elétrico próprio e resolveu investir na Tesla, esperando que um dia o dono ficasse maluco e a Mercedes conseguisse todo o seu trabalho de desenvolvimento de graça.

Então eles venderam o Classe A como um carro de motor normal que tinha dois pisos “por razões de segurança”. Um marketing que foi por água abaixo quando ele capotou num teste que simulava o motorista desviando subitamente de um alce.

O Classe A se tornou cada vez maior ao longo dos anos, e o último tem quase o tamanho do Honda Civic. Ainda pequeno para um Mercedes, mas grande o suficiente para uma família de cinco pessoas.

No Brasil, novo Classe A custa praticamente R$ 200 mil (Divulgação/Mercedes-Benz)

E é por isso que o motor de 1,3 litro é uma surpresa. Uma unidade 1.3 era adequada para um Austin, mas em um carro pesando mais de 1,3 tonelada parece meio fraco. E, honestamente, é.

Sim, ele tem um turbo, e, sim, pode levá-lo de 0 a 100 km/h em 8 segundos, mas parece que ele está sendo forçado o tempo inteiro.

E é acoplado a um câmbio de sete marchas que nunca sabe qual delas é a melhor para o momento. O que faz com que o avanço seja frequentemente barulhento e aos trancos.

Mas não que você vá notar, porque estará muito ocupado fazendo com que o velocímetro fique verde.

E como é dirigir? Bem, o modelo básico tem uma suspensão traseira por eixo de torção, o que fez com que os fãs puristas da Mercedes ficassem doidos. Mas eu entendo a Mercedes. Dificilmente o motor 1.3 vai causar algum esforço lá atrás.

A do meu carro era multilink, e sei que deveria dizer que é algo bom, mas quando se está imerso na aurora boreal é difícil prestar atenção à absorção de irregularidades na traseira. Tudo o que vou dizer é que, como todos os veículos modernos, é firme demais.

E neste carro em especial – que será vendido para pessoas que se interessam mais pela iluminação da cabine do que por dirigibilidade – é exageradamente firme.

Então, como carro, ele não é bom. O motor, câmbio, conforto ao rodar e preço estão todos errados. Mas eu entendo se você achar que absolutamente tem de ter um, porque terá toda a graça elegante moderna de uma cobertura de frente para o mar, em uma quitinete.

Jeremy Clarkson

É jornalista britânico, apresentador do programa The Grand Tour e celebridade amada pelos fãs e odiada por algumas marcas.

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

12 ABR
Mini-Toro ou Uno de caçamba? De onde vem cada parte da nova Fiat Strada

Mini-Toro ou Uno de caçamba? De onde vem cada parte da nova Fiat Strada

Cabine dupla com quatro portas: talvez a maior novidade da nova Strada (Fernando Pires/Quatro Rodas)A FCA fez de tudo para tornar a segunda geração da Fiat Strada (já revelada, mas com lançamento adiado para julho deste ano) uma espécie de “mini-Toro”.A silhueta lateral da picapinha na inédita configuração cabine dupla quatro-portas não nos deixa mentir, assim como o formato praticamente idêntico das lanternas traseiras.Mas há outros modelos produzidos pela marca italiana no... Leia mais
11 ABR
A picapinha 4-portas que deu receita à Strada e salvou a Dacia da falência

A picapinha 4-portas que deu receita à Strada e salvou a Dacia da falência

– (Domínio Público/Wikipedia)A Fiat Strada, enfim, ganhou uma nova geração após 21 anos de mercado, trocando a antiga plataforma do Palio por uma estrutura própria (batizada de MPP).Entre as novidades mais alardeadas pela Fiat está a inédita configuração cabine dupla de quatro portas com cinco lugares, exclusividade entre as picapes pequenas brasileiras.No entanto, essa concepção não é novidade entre os utilitários com caçamba de estrutura monobloco. A letã Raf 2909 está... Leia mais
10 ABR
VW Kombi brasileira quase trocou base do Fusca pela do Gol bolinha

VW Kombi brasileira quase trocou base do Fusca pela do Gol bolinha

Com base de Gol da segunda geração, a nova Kombi levaria sete pessoas. “Degrau” no para-choque indica duas sugestões distintas de design dianteiro (Internet/Reprodução)A Volkswagen Kombi se manteve praticamente igual durante 63 anos e nove meses. Mas você sabia que a “Velha Senhora”, considerada o carro que ficou mais tempo em produção, quase teve um substituto desenvolvido no Brasil – e com plataforma emprestada do Gol?“Desenvolvemos várias propostas para substituir a... Leia mais
10 ABR
Os itens que a Fiat Strada Volcano tem e uma Toro R$ 10.000 mais cara não

Os itens que a Fiat Strada Volcano tem e uma Toro R$ 10.000 mais cara não

Fiat Strada Volcano enfrenta Fiat Toro Endurance, em um duelo familiar (Arte/Quatro Rodas)– (Fernando Pires/Arte/Quatro Rodas)A Fiat Strada é um dos principais lançamentos deste ano no mercado nacional. A picape compacta é a líder de vendas em seu segmento e ganhou uma segunda geração após mais de 20 anos de produção.A marca iria realizar a apresentação oficial do modelo em março, mas devido a pandemia de Coronavírus, foi adiada. Para seguir na liderança dos emplacamentos, a... Leia mais
09 ABR
Biblioteca QUATRO RODAS: 10 livros indispensáveis para todo fã de carro

Biblioteca QUATRO RODAS: 10 livros indispensáveis para todo fã de carro

– (Arte/Quatro Rodas)Em época de quarentena pela pandemia do coronavírus, sem poder sair de casa e entediado, nada melhor do que a companhia de um bom livro, não é mesmo?QUATRO RODAS listou dez títulos para quem ama veículos e também a história da indústria automotiva. Se houver interesse em algum dos exemplares, basta clicar no link ao final da descrição, para ser direcionado à página de compra. Boas leituras!– (Amazon/Reprodução)Impossível iniciar esta lista sem a obra... Leia mais
09 ABR
QUATRO RODAS de abril: testamos o novo Chevrolet Tracker 1.2 turbo

QUATRO RODAS de abril: testamos o novo Chevrolet Tracker 1.2 turbo

SUV compacto tem produção nacional em São Caetano do Sul (SP) (Christian Castanho/Quatro Rodas)Lançado oficialmente em março, pouco antes da pandemia do coronavírus tomar proporções maiores, o novo Chevrolet Tracker quer encarar de frente Jeep Renegade e VW T-Cross, líderes entre os SUVs compactos.Para isso a nova geração do modelo da GM aposentou o motor 1.4 turbo, agora restrito ao Cruze, e passou a utilizar o mesmo 1.0 turbo da família Onix e o novo 1.2 turbo, de até 133 cv e... Leia mais