Um comitê externo que analisa a governança na Nissan disse nesta quarta-feira (27) que há fatos suficientes para se suspeitar de violações de leis e de uso particular de fundos da empresa por parte do ex-presidente do conselho, o brasileiro Carlos Ghosn.
Após uma auditoria de 3 meses, iniciada depois que o executivo foi preso, o comitê atribuiu a culpa ao que classificou como concentração de poder de Ghosn.
Exatamente 20 anos depois que a montadora francesa Renault, onde o brasileiro trabalhava, concordou em resgatar a Nissan, o comitê descreveu uma cultura corporativa na Nissan "na qual ninguém pode fazer nenhuma objeção ao senhor Ghosn", que era, "de certa forma, endeusado como um salvador que resgatou a Nissan do colapso".
"Existem fatos suficientes para se suspeitar de violações de leis e regulamentos, violações de regras internas e de uso particular de fundos e gastos da empresa... por parte do senhor Ghosn", disse o comitê em seu relatório.
O órgão também destacou o papel do japonês Hiroto Saikawa, diretor-executivo da empresa, no arranjo salarial de Ghosn que está no cerne do escândalo. Segundo o relatório, Saikawa assinou documentos relacionados a compensações que Ghosn receberia depois de se aposentar.
O comitê citou ainda a atuação de Greg Kelly, norte-americano diretor da Nissan que também foi preso e indiciado por supostamente ter ajudado Ghosn a evitar a supervisão.
Fim do cargo todo-poderoso
O grupo emitiu 38 recomendações para fortalecer a governança da Nissan, entre elas que altos cargos executivos da montadora japonesa não devem ser ocupados por pessoas que têm esses postos na Renault ou na parceira minoritária Mitsubishi, como era o caso de Ghosn.
Ele também propôs que a maioria dos diretores, inclusive o presidente do conselho, seja de pessoas independentes e de fora, e que o cargo de presidente da empresa seja abolido.
As recomendações do comitê externo de 7 membros vêm semanas depois de Nissan e Renault anunciarem que reformularão sua aliança, uma das maiores montadores de veículos do mundo, para acabar com a todo-poderosa presidência antes exercida por Ghosn.
"Está claro que há questões que exigem melhoras com respeito à governança da Nissan, já que esta não poderia evitar a má conduta".
Ghosn, que foi libertado neste mês pagando uma fiança de US$ 9 milhões depois de passar mais de 100 dias em um centro de detenção de Tóquio, disse que as acusações que lhe foram imputadas "não têm mérito". Kelly também negou as acusações.