Ângulo de ataque é de 50 graus, melhor que o de muitos 4×4 (Christian Castanho/Quatro Rodas)
A década de 70 foi um dos períodos mais felizes para o engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel. Além do jipinho Xavante X-12, o industrial diversificou sua linha com o X-20 em 1977, uma picape de dimensões consideravelmente maiores.
Um ano depois, a empresa sediada em Rio Claro (SP) apresentou um novo conceito de utilitário: o jipão X-15.
Originalmente desenvolvido para uso militar, era caracterizado pelo desenho rústico e abrutalhado, com linhas retas e angulares muito semelhantes às de um veículo blindado.
O elemento de estilo mais marcante era o enorme para-choque com faróis embutidos, com altura suficiente para encarar os barrancos mais íngremes.
A capacidade off-road era típica da marca, evidenciada pelos bons ângulos de entrada e saída (50 e 45 graus, respectivamente), entre-eixos curto (223 cm) e elevado vão livre do solo (35 cm).
A ausência da tração 4×4 era compensada em parte pelo sistema Selectraction, atuando como bloqueio seletivo das rodas traseiras acionado por duas alavancas entre os bancos dianteiros.
A versão civil do Gurgel X-15 vinha sempre com o quadro do para-brisa fixo (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Ambos eram impulsionados pelo tradicional motor VW 1600 a ar, trabalhando em conjunto com o câmbio de quatro marchas e relação de diferencial intermediária (4,125:1).
A longeva parceria com a Volks decorreu de um relacionamento pessoal de João Gurgel com Bobby Schultz-Wenk, primeiro presidente da filial brasileira.
Da Kombi vinham rodas, freios, caixa de direção, suspensão dianteira por barras de torção e caixas de redução nas rodas traseiras.
Como no Xavante X-12, a suspensão traseira usava molas helicoidais e a estrutura era composta por chassi tubular revestido de plástico reforçado com fibra de vidro chamada Plasteel, com garantia de 100.000 km.
Apresentada no Salão do Auto-móvel de 1978, a primeira série foi oferecida com ou sem capota de lona.
A versão civil foi oferecida apenas com para-brisa fixo com dois vidros planos assimétricos, o maior deles frente ao campo de visão do motorista. O acesso dos sete passageiros era feito por uma porta do lado esquerdo e duas do lado direito.
A espuma dos bancos era o único luxo oferecido aos sete passageiros (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Um de seus itens mais interessantes era o guincho dianteiro de acionamento manual, muito útil em atoleiros.
Os destaques visuais da traseira eram as lanternas horizontais (também da Kombi), o estepe e o galão auxiliar de combustível com 20 litros. Os mais atentos não demoravam para notar o robusto protetor de cárter.
O interior seguia o mesmo padrão espartano de funcionalidade: alavanca do câmbio, do freio de mão, maçanetas, cintos de segurança, instrumentos do painel e miolo de ignição eram os mesmos utilizados na linha VW.
A visibilidade do motorista era favorecida pela sua posição, exatamente em cima do eixo dianteiro.
Excelente visibilidade para o motorista (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Em 1979, foi apresentada a picape G-15, com cabine simples fechada e uma caçamba semelhante à do X-20.
O aspecto civil era reforçado pelo para-brisa composto por dois vidros planos de dimensões iguais, que seria utilizado também no X-15 TR (teto rígido), completamente fechado e com quatro portas iguais para diminuir o custo de produção.
Boa parte dos itens vinha da Kombi (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Ambos receberam juntas homocinéticas em 1981. O G-15 ficou maior, com 10 cm a mais entre os eixos e mais 10 cm no balanço traseiro, e ganhou opção da cabine dupla com quatro portas.
Foram desenvolvidas também versões especiais destinadas a polícia e corpo de bombeiros: baseado no X-15 TR, o motorhome Van-Guard não saiu da fase de protótipo.
Como todos os Gurgel, o motor era VW 1.6 a ar (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Integrados às forças militares e exportados para vários países, X-15 e G-15 saíram de linha em 1982, quando foram substituídos pelos utilitários da série G800.
Ainda hoje é possível ver alguns exemplares rodando pelas ruas, quase sempre conduzidos por entusiastas saudosos da época em que a Gurgel se intitulava um fabricante “muito nacional”.
Gurgel X-15 1979