Novidades

08 MAR

Louise Piëch: a mulher que salvou a Porsche e a ajudou a vencer Le Mans

Louise Pie?ch ajudou a Porsche a se tornar uma lenda (Divulgação/Porsche)

Ferdinand Porsche trabalhava no desenvolvimento de um carro elétrico para a austríaca Lohner-Werke (que mais tarde se tornaria a divisão de bondes da Bombardier), em 1904, quando nasceu sua filha Louise Hedwige Anna Willhelmine Marie Porsche.

Louise cresceu vendo seu pai trabalhando como diretor técnico da Austro-Daimler e brincando com seu irmão em um pequeno carro motorizado. O empenho no trabalho levou Ferdinand para uma vaga na sede da Daimler, em Stuttgart, após a Primeira Guerra Mundial. A Dr. Ing. h. c. F. Porsche GmBH, empresa de Ferdinand Porsche, só surgiria em 1931.

Louise aos 5 anos ao volante do carro do pai (Divulgação/Porsche)

Foi em Stuttgart que Louise, que havia tirado carteira de motorista aos 14 anos e comprou o primeiro carro com 15, se interessou pelas competições de automóveis. 

Em 1926 ela participou de um rali junto a Rudolf Caracciola e Adolph Rosenberger, pilotos oficiais da Mercedes. Em uma sessão de subida de montanha ela conseguiu tempo melhor do que eles.

Para Ferdinand, ela havia conseguido isso por ter levado o motor a rotações elevadas sem qualquer pudor.

Anton Piech chegou a ser gerente da Porsche Design (Divulgação/Porsche)

Foi naquela época que Louise começou a namorar um advogado australiano, com quem se casou em 1928. Era Anton Piëch, que trabalhava para a Porsche há alguns anos, e com quem teria quatro filhos.

Com a queda da Alemanha nazista, as propriedades alemãs na Áustria seriam confiscadas pelo governo austríaco. Os Porsche corriam o risco de perder seus bens, como a casa em Zell am See, onde se protegeram durante a guerra, e a marcenaria de Gmünd, onde instalou o escritório da Porsche a partir de 1944, quando Stuttgart, onde estava sua sede, foi bombardeada.

O escritório de design da Porsche chegou a operar em uma marcenaria entre 1944 e 1945 (Divulgação/Porsche)

Em meio a isso, em 1945, o pai de Louise e seu marido Anton foram presos pelo exército francês em Baden-Baden e levados para a França. O motivo seria associação ao nazismo, por terem participado do esforço de guerra do Terceiro Reich.

Com a ajuda de um advogado francês, Louise conseguiu a libertação deles mediante o pagamento de uma fiança de 1 milhão de francos, uma pequena fortuna àquela época. E muito dinheiro para uma empresa de design que não estava bem financeiramente.

A casa dos Porsche em Zell am See tem mais de 600 anos e foi comprada em 1941. A casa de férias, e mais tarde se tornou um refúgio da Segunda Guerra Mundial (Divulgação/Porsche)

Louise e Ferry  batalharam para lidar com tantos problemas do pós-guerra. Para não perder os bens da família, tudo foi passado para o nome de Louise, que tinha a nacionalidade austríaca. Como resultado, em 1 de abril de 1947 surgiu a Porsche Konstruktionen GmbH, em Salzburgo.

Para pagar a fiança de Ferdinand e Anton, a Porsche firmou um acordo com o italiano Piero Dusion, fundador da Cisitalia. Ferry ajudou a criar um carro de Fórmula 1 com motor central e tração integral. O carro nunca competiu, mas parte dos ganhos com o projeto bancaram a fiança e seu pai e seu cunhado retornaram à Áustria.

O Porsche Typ 360 Cisitalia, com motor central e tração integral, que nunca correu (Divulgação/Porsche)

Passada a fase turbulenta, Ferry Porsche pôde tirar do papel o Porsche 356, primeiro esportivo da marca. Já Louise e seu marido converteram a empresa baseada em Salzburgo em representantes da Porsche e da Volkswagen na Áustria.

As instalações da representante da VW e da Porsche em Salzburgo, comandada pelos Piëch (Divulgação/Porsche)

O início foi devagar. Dos 14 Fuscas que receberam em 1949, sete foram usados como veículos de demostração e a outra metade foi vendida. As vendas subiam gradativamente quando Louise Piëch se viu obrigada a assumir o negócio: seu marido faleceu após um ataque do coração, em agosto de 1952 – pouco mais de um ano depois da morte de Ferdinand Porsche.

De repente, Louise estava à frente da empresa, que também tinha o irmão mais novo Ferry como sócio. A venda de apenas 798 carros naquele ano fez com que o fechamento da representação na Áustria fosse cogitado, mas isso não aconteceu. Para a sorte dos Porsche.

As operações de venda de Volkswagen e Porsche na Áustria vingou logo após a morte de Anton (Divulgação/Porsche)

Em 1953 o bloqueio de importações na Áustria caiu e no ano seguinte a VW marca já detinha 25% do mercado austríaco, com 5.218 unidades vendidas.

Em 1961, o Volkswagen No. 100.000 foi registrado na Áustria e Louise decidiu criar sua própria rede de concessionárias, a Porsche-Inter Auto. Ela também passou a importar os Porsche depois que eles passaram a ser produzidos em massa na Alemanha.

Louise e Ferry Porsche no protótipo 356.001, ainda com motor central (Divulgação/Porsche)

O que se conta é que era Louise quem, de maneira, sutil, tomava as decisões pelo seu marido. Assim, ela foi se preparando para dirigir a empresa. Ferdinand Porsche sempre falava com sua filha sobre temas importantes e já via que ela seria capaz de levar os negócios da família adiante.

Louise Piëch rodeada por repórteres (Divulgação/Porsche)

Em seu testamento, Ferdinand Porsche não deixou sua fabricante de automóveis para o filho mais velho, como era costume na Europa. Em vez disso, dividiu a empresa em duas e cada metade coube a um de seus filhos. Ferry e Louise, porém, decidiram ser coproprietários das duas empresas resultantes, mas cada um administraria a sua.

Mais velho dos quatro filhos de Louise, Ferdinand Piëch entrou para o departamento de engenharia da Porsche em 1964 com o desejo de levar a marca criada por seu avô a uma nova era. O primeiro passo foi convencer seu tio Ferry para que criassem um novo carro de corrida para substituir o 904.

Porsche 906 Carrera 6 Kurzheck (Divulgação/Porsche)

O resultado foi o Porsche 906, com estrutura tubular e carroceria de fibra de vidro (que chegou a ser testada em túnel de vento), e que pesava apenas  580 kg – 113 kg a menos que o 904. Seu motor, um seis-cilindros contrapostos de 220 cv era projeto de Piëch. Esse projeto ainda deu origem, no mesmo ano, ao 910 e, mais tarde, aos 907 e 908.

Agora a frente da engenharia da marca, Ferdinand Piëch foi responsável pelo desenvolvimento do Porsche 917. Ele foi posto à prova em competições como os 1000 km de Spa, os 1000 km de Nürburgring e as 24 Horas de Le Mans de 1969, mas o resultado não foi bom em nenhuma das competições. Pelo contrário: o piloto John Woolfe faleceu em uma colisão ao volante do 917 no circuito francês. O único Porsche que terminou aquela corrida foi  o 908.

Porsche 917 Langheck de 1969 (Divulgação/Porsche)

Apesar disso, Louise Piëch decidiu insistir no carro projetado por seu filho: criou uma equipe oficial, a Porsche Salzburg, para competir nas 24 horas de Le Mans de 1970 com dois carros. Eram os evoluídos 917K, o Österreich 1 e o Österreich 2.

Foi uma jogada de mestre. O Porsche 917K Salzburg (vermelho, com as cores da bandeira da cidade austríaca) ganhou as 24 Horas de Le Mans de 1970, uma corrida marcada por muita chuva e neblina, e que poucos carros conseguiram completar.

O 917K Salzburg foi o primeiro dos três Porsche que lideraram Le Mans em 1970 (Divulgação/Porsche)

Ele foi seguido por dois outros Porsche da Martini Racing, o 917L e o 908/2L. A Porsche dominou o pódio justamente em sua primeira vitória na prova de resistência mais tradicional.

E foi apenas a primeira de 19 vitórias — atual recorde entre as construtoras em Le Mans. A Porsche também tem o maior número de vitórias consecutivas: sete, entre 1981 e 1987.

Entre o fim da guerra e o início dos anos 1970, Louise Piëch foi, provavelmente, a mulher mais influente dentro da Porsche. Mesmo que ela nunca tenha tido interesse em crescer dentro da empresa, ela era considerada sua tesoureira não oficial.

Porsche 917 Kurzheck vitorioso tinha motor V12 4.5 (Divulgação/Porsche)

Em 1971, ela se afastou do dia-a-dia da empresa e, a partir de então, atuou apenas como presidente honorário do Conselho Fiscal. Mas seguiu na direção da Porsche Áustria até o fim de sua vida, mesmo depois que os clãs Piëch e Porsche decidiram sair da direção da Porsche (hoje, estão apenas no conselho de supervisão).

Louise ao lado do primeiro Porsche 911 Turbo (Divulgação/Porsche)

Nos primeiros 50 anos de operações, a Porsche-Inter Auto rendeu 25 bilhões de dólares vendendo e cuidando da manutenção de mais de 2 milhões de automóveis, da Áustria e de países vizinhos. Em alguns momentos, chegou a ser mais rentável que a própria Porsche.

Louise Piëch e seu irmão Ferry Porsche em 1987 (Divulgação/Porsche)

Louise também seguiu pintando (um hobby que iniciou aos 20 anos). Conta-se que ela costumava parar seu carro diante de belas vistas austríacas e pintava cartões ali mesmo, ao volante.

A filha de Ferdinand Porsche também não abria mão de dirigir. Sempre teve bons carros a disposição, como o primeiro 911 Turbo e um dos primeiros Audi quattro. Todos os anos “sua” empresa entregava em casa um novo carro como presente de aniversário. “Sempre dirigi os carros da minha família. Primeiro, os do meu pai, depois os do meu irmão e agora os do meu filho”.

O Porsche 911 Carrera 4 1989 que foi usado por Louise Piëch (Divulgação/Porsche)

Aos 90 anos, ela descreveu seu sucesso como mulher em um mundo de homens: “Eu prefiro trabalhar com homens porque um homem não precisa ter ciúmes das realizações de uma mulher”.

Louise Piëch faleceu em 1999, aos 94 anos.

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

28 ABR
Esta Ferrari era a viatura mais temida por bandidos da Itália nos anos 60

Esta Ferrari era a viatura mais temida por bandidos da Itália nos anos 60

A icônica Ferrari 250 GTE viatura (Girardo e Co/Divulgação)Apresentada como carro-madrinha das 24 Horas de Le Mans de 1960, a Ferrari 250 GTE 2+2 foi o primeiro carro de produção da marca italiana com quatro lugares.Surgiu para atender à demanda da clientela que precisava viajar com conforto mas sem abrir mão do desempenho de um esportivo da época.O modelo foi desenvolvido a partir do chassi da 250 GT de dois lugares, ganhando adequações para aumentar o espaço da cabine e com... Leia mais
28 ABR
Teste de Produto: carregador ressuscita bateria sem apelar para a chupeta

Teste de Produto: carregador ressuscita bateria sem apelar para a chupeta

– (Paulo Bau/Quatro Rodas)Você está atrasado para ir trabalhar e, do nada, a bateria do seu carro não dá sinal de vida. Para que isso não se repita, a ajuda pode vir do carregador 12 V da Luxcar. Mas o que ele tem de diferente dos demais carregadores portáteis?Ele é bivolt (127/220 V), pode ser usado na tomada da sua casa ou trabalho, pode ser acondicionado em qualquer nicho do automóvel e conta com a segurança de proteção contra curtos e inversão de polos através de leds... Leia mais
28 ABR
Impressões: irmão do Renault Kwid quer ser o elétrico mais barato do mundo

Impressões: irmão do Renault Kwid quer ser o elétrico mais barato do mundo

A Renault já registrou a patente do design do Kwid elétrico no Brasil (Divulgação/Renault)Qualidade a preços acessíveis foi a receita que a Renault aplicou à Dacia, sua segunda marca (que no Brasil se vende com o logotipo da Renault), desde que adquiriu a fábrica (de origem romena), em 1999. E foi essa filosofia que orientou o projeto do City K-ZE, uma versão elétrica do subcompacto Kwid. O Kwid elétrico será produzido inicialmente na China, na fábrica que a Renault abriu em... Leia mais
27 ABR
Vídeo confirma: VW Nivus terá cabine do Polo, só que mais sofisticada

Vídeo confirma: VW Nivus terá cabine do Polo, só que mais sofisticada

Vídeo também mostra bem como será a dianteira do VW Nivus (Reprodução/Volkswagen)Conforme antecipado por QUATRO RODAS desde que teve conhecimento do projeto, o Volkswagen Nivus terá uma relação muito íntima com o irmão de plataforma Polo.Se por fora já apontávamos o compartilhamento de partes da carroceria, como para-brisa, colunas A e B, teto, portas laterais e recortes dos para-lamas e capô, agora foi a vez de confirmar que parte da cabine também será herdada do hatch.Os... Leia mais
27 ABR
Hyundai Creta: projeção mostra como ficará a versão esticada de 7 lugares

Hyundai Creta: projeção mostra como ficará a versão esticada de 7 lugares

Traseira terá visual diferente da versão para 5 passageiros (Indian Autos Blog/Reprodução)A nova geração do Hyundai Creta já foi apresentada em fevereiro no Salão do Automóvel de Nova Delhi, na Índia.O SUV compacto ganhou o mesmo (e controverso) visual do ix25, versão correspondente do modelo voltada ao mercado chinês. Entretanto, outra versão do Creta está para chegar.A Hyundai prepara para o segundo semestre o lançamento do SUV configurado para receber até sete passageiros. O... Leia mais
27 ABR
Novo VW Golf pé de boi com calotas mais parece um Golzão… De R$ 120.000

Novo VW Golf pé de boi com calotas mais parece um Golzão… De R$ 120.000

Novo Golf de entrada tem calotas nas rodas, mas faróis são de led (Divulgação/Volkswagen)Motor de 90 cv. Câmbio manual de cinco marchas. Rodas de aço com calotas aro 15. Para-choques sem sensores de estacionamento ou luzes de neblina. Bancos de tecido. Assento do motorista sem regulagem de altura.Parece que estamos descrevendo uma configuração qualquer do nosso VW Gol, mas na verdade falamos da recém-lançada versão de entrada da nova geração do Golf na Europa.Sem nome, tal qual... Leia mais