Novidades

28 FEV

Jeremy Clarkson: Renault Duster é um carro do passado vendido como novo

Pode pisar fundo que não adianta: ele só acelera na descida (Divulgação/Renault)

Há muitas coisas que eu não compraria usadas. Cuecas, um colchão, uma escova de dentes, cotonetes… A lista é interminável.

E um carro? Claro, você pode achar que se conseguir um time de albaneses para lavar, escovar e lustrar até não poder mais, todos os vestígios do proprietário anterior e seus hábitos nojentos podem ser removidos. Mas infelizmente não é assim.

Há alguns anos, fiz um teste estilo polícia científica no interior de carros usados que passavam por diversos serviços de valete, e a descoberta do pessoal das lâmpadas ultravioleta foi assustadora.

Todos estavam cobertos por uma fina camada de muco e dois revelaram grandes quantidades de sêmen no banco traseiro.

Um apresentou vestígios significativos de matéria fecal na área dos pedais e outro tinha sangue seco suficiente para sugerir que alguém tinha sido decapitado ali dentro.

É disso que você tem de se lembrar quando compra um veículo usado. Ele pode parecer perfeito e ter aquele cheirinho de novo, mas por baixo do lustro ele não é.

Porque todos – até o príncipe Philip – tiram meleca do nariz. E todos fazem uma bolinha com essa meleca. E todos jogam aquela bolinha naquele espaço ao lado do banco, onde nenhum aspirador é capaz de alcançar.

Por isso, usar um carro de segunda mão para ir ao trabalho é como utilizar papel higiênico usado para limpar seu traseiro. Revoltante.

Sob a carroceria do Duster há um Clio antigo. Mas isso não é ruim (Divulgação/Renault)

O que me traz ao último carro que testei. O Dacia Duster de segunda geração, vendido em alguns mercados como Renault Duster (incluindo o Brasil, onde a nova geração chegará no primeiro semestre de 2020).

Vamos direto ao ponto: é um off-road leve de tamanho médio, com grande porta-malas e espaço para cinco adultos grandes. E custa na Inglaterra menos de 10.000 libras (R$ 50.000), o que o torna um terço mais barato do que qualquer um dos seus rivais.

Isso não é só bom custo/benefício da mesma forma que um McLanche Feliz. Vai além disso: um carro novinho em folha com garantia de três anos com interior livre de fantasmas e cheiro de carro novo por menos de 10 mil libras.

Você vai pensar que ele foi feito de caixas de CD recicladas em uma fábrica clandestina vietnamita por crianças escravas. Mas não é bem assim.

O Duster é feito pelas poucas pessoas que ainda vivem na Romênia, com ferramental e peças que não são mais usados pela proprietária da Dacia, a Renault. Então, sob a carroceria o novo Duster está basicamente um Clio antigo. Mas não há nada de errado com isso. O Clio antigo era um bom carro. E seguro, pelos padrões da época.

O motor? É onde as coisas começam a degringolar, porque o carro que eu testei tinha um 1.6 vindo diretamente da era pré-motores turbo. O resultado são 115 cv, o que não parece muito ruim, e cerca de 16 mkgf de torque, o que também soa aceitável. Mas não é.

Na rodovia, em sexta marcha, o carro não acelera. A não ser que você esteja em uma descida. O que você estiver fazendo com seu pé direito é irrelevante. Para contornar o problema, você tem de reduzir para quarta, o que devolve algum controle ao seu pé, mas o barulho passa de incômodo a ensurdecedor, estilo Grateful Dead.

E na cidade há um problema ainda maior. O exemplar que eu estava testando tinha tração 4×4, mas em vez de equipá-lo com reduzida, o que não seria tão caro, a Dacia tentou dar uma sensação de reduzida para a primeira e segunda marchas. Isso significa que você precisa engatar a terceira quando passa de 6 km/h.

Depois de um tempo, eu aprendi a arrancar em segunda, chegar ao limite de rotação até que sangue estivesse jorrando dos meus ouvidos e, então, engatar a terceira, em que a normalidade era retomada. A quarta também era normal.

Ele tem um preço de 1956m, então acho que ninguém deve se decepcionar com uma velocidade máxima digna de 1956 também (Divulgação/Renault)

Mas a partir dela fazia sentido ir direto para sexta. Ou seja: a quinta era inútil. Ninguém consegue dirigir um Duster com suavidade. Ou de forma silenciosa. Ou com sua dignidade intacta. E ele tem a personalidade de um poste de iluminação ou uma máquina de lavar.

Adoraria concluir dizendo que, se você se concentrar muito, o carro acelera bem. Só que não: faz de 0 a 100 km/h em 12,9 segundos, o que em tempo humano é um ano. E a velocidade máxima é de 169 km/h, o que os idosos fãs da Dacia dirão que é mais que suficiente.

Nem vou me dar ao trabalho de contestar isso. Ele tem um preço de 1956, então acho que ninguém deve se decepcionar com uma velocidade máxima digna de 1956 também.

Durante uma semana falei isso às pessoas. Elas entravam no carro, ainda comentando negativamente sobre a pintura dourada horrível, e então atacavam os diversos botões e alavancas, rindo sobre o quanto o conjunto é terrível.

E daí eu os calava, dizendo: “Sim. Mas ele é um off-road de cinco lugares com garantia de três anos e tração 4×4 que custa menos de 10.000 libras”.

Infelizmente, quando me sentei para escrever este artigo, coloquei meus óculos e descobri que é o modelo básico com tração apenas dianteira que custa menos de 10.000 libras. A versão Comfort com tração nas quatro rodas que eu testei custa 15.195 libras (R$ 75.500).

Ou seja, este Renault antigo, dolorosamente lento e difícil de dirigir custa mais de 15.000 libras. E isso é ridículo. Nessa faixa, há carros da Nissan, Seat, Suzuki e Kia mais seguros e melhores em todos os aspectos.

Claro, você pode ficar com o Duster de entrada, com tração apenas dianteira, banco traseiro não bipartido e câmbio de cinco marchas. E ainda pode se gabar para seus amigos como você conseguiu um carro novinho em folha bem barato.

Mas lamento. Eu prefiro comprar um Range Rover Evoque, BMW X3 ou Audi Q5 usado e passar os próximos anos indo e voltando do trabalho sentando sobre resquícios de fezes de terceiros e com meus pés passeando por um jardim de melecas de nariz alheias.

FICHA TÉCNICA

Dacia Duster

Motor: 4 cilindros, 1.598 cm3, 115 cv a 5.500 rpm, 15,9 mkgf a 4.000 rpm

Câmbio: automático, 6 marchas, 4×4

Peso: 1.276 kg

Desempenho: 0-100 km/h em 12,9 s; velocidade máxima de 169 km/h

Preço: 15.195 libras (R$ 75.500)

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

05 NOV

Fiat aumenta o preço de seus carros em até R$ 2.000

Todas as unidades do Argo ficaram R$ 800 mais caras (Silvio Goia/Quatro Rodas)Às vésperas do Salão do Automóvel de São Paulo, a Fiat promoveu um aumento de preços na maioria dos seus modelos.O Mobi Like, segunda configuração mais barata, ficou R$ 1.000 mais salgada, com preço de R$ 39.890, um aumento de 2,57%. Já o Argo, em todas as versões, ficou R$ 800 mais caro.O hatch 1.0 flex e quatro portas, com motor de 77 cv, antes partia de R$ 49.490 e agora não sai por menos de R$... Leia mais
05 NOV

Honda Civic 2019 fica mais caro e única novidade é vendida à parte

Nova cor é exclusiva das versões EX, EXL e Touring (Divulgação/Honda)A única novidade para o Honda Civic 2019 é uma opção de cor, a Azul Cósmico metálico, que está disponível nas versões EX, EXL e Touring — as mais baratas Sport automática e manual não ganharam o novo tom.A atualização indica que a marca irá postergar a próxima reestilização do modelo, que já chegou nos Estados Unidos.No começo deste ano a décima geração do Civic ganhou central multimídia com... Leia mais
05 NOV

Segredo: esportivos, Volkswagen Virtus e Polo GTS vazam antes da hora

As rodas de 17 polegadas são as mesmas do Polo GTI (Redes Sociais/Reprodução/Internet)Um dos principais destaques da Volkswagen no Salão do Automóvel de São Paulo, a dupla Polo e Virtus GTS vazou antes da hora.Os modelos esportivos usam o mesmo quatro-cilindros 1.4 turbo com injeção direta de 150 cv usado pelos novos Golf, Jetta e Tiguan. O câmbio será o mesmo automático convencional, de seis marchas, usado no trio.Um friso na grade do radiador une os elementos dos faróis... Leia mais
05 NOV

Mercado em outubro: Chevrolet Onix vende mais que o dobro do Hyundai HB20

O pódio de outubro: Onix, Ka e HB20 (Christian Castanho/Quatro Rodas)O emplacamento de veículos de 2018 está como a Fórmula 1: matematicamente já temos um vencedor antes do final do campeonato.O Chevrolet Onix fechou o décimo mês do ano com o dobro de veículos vendidos, no acumulado, quando comparado ao segundo colocado, de acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).Foram emplacadas 22.324 unidades do hatch da GM em outubro, ante... Leia mais
05 NOV

Cada ponto conta: a busca pelo título de campeão do rali da Mit

A sétima etapa do Mitsubishi Motorsports, realizada em Joinville (SC), foi disputada naquela que é considerada a trilha mais técnica do calendário da competição.Além do desafio em pista, pilotos e navegadores também estavam atentos para a tabela do campeonato. Antepenúltima prova do ano, o fim de semana em Santa Catarina foi considerado essencial para quem queria acumular pontos e se aproximar dos primeiros colocados.Rali de regularidade mais tradicional do Brasil, o Mitsubishi... Leia mais
05 NOV

Futuro do pretérito: primeiro carro autônomo do mundo completa 50 anos

O sistema da Continental foi instalado em um Mercedes 250 Automatic (Continental/Divulgação)Carro autônomo ainda parece coisa futurista mas as tentativas de transformar os motoristas em passageiros é antiga.Nos anos de 1930, americanos como o empresário John J. Linch (1892-1962) faziam shows pelo país com automóveis rádio controlados, que ficaram conhecidos como “Phanton Auto” ou “Magic Car”. Esses carros aceleravam, freavam, faziam curvas e buzinavam sem qualquer pessoa a... Leia mais