É o começo do fim da marca registrada do Ford EcoSport: o pneu pendurado na traseira foi abolido de uma das configurações do SUV, a Titanium, pela adoção de pneus "run flat". São aqueles que podem rodar vazios.
A ausência do item também teve como consequência uma renovação visual para a versão. A novidade, segundo a fabricante, poderá ser aplicada ao restante da linha se houver demanda - mas que, por enquanto, a versão mais cara com motor 1.5 será a única a oferecer o apelo de "modernidade" e "tecnologia". Pela exclusividade, ela cobra R$ 103.890.
Impressões ao dirigir
O G1 foi até o Campo de Provas da Ford em Tatuí, interior de São Paulo, para um dos testes mais improváveis já propostos: dirigir o EcoSport com pneus murchos e/ou furados.
O primeiro contato foi com o modelo com apenas um dos pneus esvaziados, propositalmente, até ficar sem pressão.
Rodando a no máximo 80 km/h, a diferença de rodagem para quando os 4 pneus estão cheios é praticamente imperceptível.
Na prática, o motorista só se daria conta da situação pelo monitoramento de pressão.
Ignorando o pneu murcho, o SUV está com o rodar mais rígido, já que os pneus "run flat" são mais duros, o que prejudica sensivelmente o conforto.
Na segunda etapa, a missão era ir para a pista com os dois pneus traseiros furados - a própria marca fez os furos com uma furadeira minutos antes do início dos testes (veja abaixo).
A direção perde um pouco de sua precisão e a traseira do veículo fica mais leve, tendendo a escorregar nas curvas, mas sem sustos.
Quando há a iminência da perda de controle, os sistemas de estabilidade e tração entram na jogada e é possível sentir suas atuações.
Vale destacar, porém, que em uma situação de uso real, na cidade, o EcoSport pode se sair ainda melhor e chegar ao destino sem grandes problemas.
Isso porque, durante o teste na pista, o modelo foi submetido à velocidade constante de 80 km/h - a velocidade máxima suportada pelos "run flat" -, mesmo em curvas fechadas, com maior necessidade de esterço, e abertas, com tendência a tangenciar para fora do circuito.
Nas ruas, as manobras são feitas de maneira mais sutil e em velocidades menores.
'Run flat'
O EcoSport é o primeiro carro de volume equipado com pneus deste tipo no Brasil - antes dele, apenas modelos "premium" vinham com eles de fábrica, como Audi, BMW, Mercedes-Benz e Porsche.
O grande diferencial desses pneus para os convencionais é a possibilidade de rodar com eles vazios por 80 km a até 80 km/h. Dentro desse limite, não há necessidade de que um pneu esvaziado, furado ou rasgado seja imediatamente trocado ou reparado, daí vem a abolição do estepe.
Caso o condutor não encontre um local para reparar o pneu avariado na distância indicada (80 km), um kit de reparo acompanha o modelo no porta-malas. Ele é composto por um frasco de líquido selante e um compressor elétrico.
É necessário que o líquido selante seja aplicado no local do furo e, depois, o pneu seja recalibrado com o compressor, que pode ser ligado à tomada de 12V do carro. Feito isso, a distância de rodagem é estendida para 200 km - permanecendo a velocidade máxima de 80 km/h por segurança pela solução ser apenas temporária.
A marca alerta que o reparo efetivo deve ser feito o mais rápido possível (e apenas uma vez por pneu), além de não indicar o conserto do tipo "macarrão" (uma borracha alongada que é inserida no local do furo).
Na estrutura, os reforços em flancos, ombros e talões (laterais dos pneus) são os responsáveis por suportarem o peso do veículo mesmo sem pressão nos pneus.
O único ponto contra fica para o preço do pneu. De acordo com a Ford, o pneu utilizado no EcoSport, um Michelin ZP, custa cerca de R$ 900 reais a unidade. O convencional usado anteriormente saía entre R$ 600 e R$ 700.
Sem estepe, pode?
A legislação brasileira prevê, na Resolução 14 de 1998 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), como obrigatória a existência de uma "roda sobressalente, compreendendo o aro e o pneu, com ou sem câmara de ar, conforme o caso".
É ela que permite os pneus mais finos que os originais, o tipo de estepe que muitas marcas têm adotado recentemente, também com uso temporário.
Um projeto de lei (00952/2015) que propunha que o estepe tenha características idênticas às dos demais pneus utilizados no veículo foi arquivado no último mês de janeiro.
O caso do EcoSport é diferente - e isso não faz dele um infrator de leis. A resolução 259 de 2007 aponta que a dispensa do estepe poderá acontecer quando a não necessidade do item for comprovada pelo importador ou fabricante.
De acordo com o texto oficial, o veículo deve ser "dotado de alternativas para o uso do pneu e aro sobressalentes, macaco e chave de roda".
No Ford, os pneus "run flat" garantem os argumentos para que sejam uma das exceções do CTB. As alternativas são o kit de reparo que acompanha o veículo e o monitoramento de pressão dos pneus.
Esses pneus não estão sozinhos no avanço tecnológico de rodagem. Em 2015, a Hankook anunciou o êxito em testes com pneus sem ar, com tramas internas de sustentação e feitos com materiais ecológicos.
A Continental tem outro produto que promete maior proteção em furos até 5 mm de diâmetro. Os pneus têm uma camada de selante interna que, em caso de perfuração, veda a abertura quase que instantaneamente.
Linha 2020
Além das novidades envolvendo os pneus, a linha 2020 do EcoSport também passou por alterações visuais e reposicionamento de versões.
Na aparência, a única a ganhar desenho revisto foi a Titanium, justamente pela retirada do estepe na traseira. Com isso, o rebaixo para a placa de licença subiu para a tampa do porta-malas. A tampa e o para-choque traseiro são novos.
Mesmo assim, a tampa do porta-malas continua com a nada prática abertura lateral. Além da estranheza e do peso, a porta ocupa um grande espaço atrás do veículo. Ou seja: se pretende fazer compras, nada de estacionar de ré ou perto do carro de trás.
A versão também deixou de oferecer o motor 2.0 de até 176 cavalos de potência para adotar o mesmo 1.5 de três cilindros com 137 cavalos, sempre com câmbio automático de 6 marchas. A motorização maior ficou apenas para a configuração Storm, com tração integral.
Entre os equipamentos, a Titanium segue com piloto automático, faróis de xênon com leds diurnos, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, sistema de som Sony com 9 alto-falantes, câmera de ré, chave presencial, alerta de pontos cegos, teto solar elétrico, assistente de partida em rampas, controles de estabilidade e tração e 7 airbags.
Com as novidades, os preços da linha 2020 do EcoSport ficaram assim:
- SE 1.5 manual: R$ 78.990
- SE 1.5 automático: R$ 84.990
- Freestyle 1.5 manual: R$ 85.890
- Freestyle 1.5 automático: R$ 91.890
- Titanium 1.5 automático: R$ 103.890
- Storm 2.0 automático 4WD: R$ 108.390