Novidades

20 JAN

Severo demais? Caso do titã dos automóveis Carlos Ghosn expõe críticas ao sistema judicial japonês

As críticas internacionais ao modelo de investigação criminal no Japão têm sido proporcionais ao período de detenção de Carlos Ghosn. O ex-presidente do conselho de administração da Nissan está desde 19 de novembro no Centro de Detenção de Tóquio, e teve sua prisão prorrogada por mais dez dias após nova denúncia apresentada pela Promotoria japonesa.

Os dois primeiros pedidos de prisão foram por violação da Lei de Instrumentos Financeiros e o mais recente, por crime de abuso grave de confiança. Ghosn é acusado de má conduta no comando da Nissan.

As suspeitas são de que tenha ocultado parte de sua renda e temporariamente transferido à empresa perdas por investimentos pessoais e, mais recentemente, foi acusado de ter recebido, de modo impróprio, US$ 9 milhões da joint-venture entre a Nissan e a Mitsubishi Motors. Ele tem negado todas as acusações.

No último dia 15, o executivo de origem brasileira teve um recurso por pedido de liberdade condicional rejeitado pela Justiça de Tóquio.

"Em que pese a Justiça japonesa ser considerada leniente por especialistas em termos de penas e encarceramento (menos de 5% dos suspeitos formalmente identificados chegam a cumprir pena de prisão, por exemplo), a fase investigatória tem sido criticada dentro e fora do país há décadas", afirma o advogado Eduardo Mesquita, mestre e doutorando em Direito Comercial na Universidade de Tóquio e membro do Grupo de Pesquisa em Direito Comparado Brasil-Japão.

Os criticos questionam o longo período que o suspeito pode ficar preso sem ser formalmente acusado, o acesso bastante restrito aos advogados e os métodos utilizados no interrogatório.

"Eles destoam dos procedimentos criminais na maioria dos países desenvolvidos e são vistos por muitos como violações de direitos humanos", diz Mesquita.

Antes de oferecida a denúncia, a polícia tem 48 horas para enviar o acusado à Promotoria, que terá então 24 horas para pedir a prisão do suspeito. O período de detenção de dez dias geralmente é prorrogado, pois os tribunais costumam autorizar os pedidos da Promotoria em 95% dos casos, como aconteceu com Carlos Ghosn.

"No Japão, interrogam o suspeito até obter uma confissão", afirma Mesquita.

A mulher de Ghosn enviou uma carta à ONG Human Rights Watch com a intenção de expor as condições de prisão de seu marido. No texto de nove páginas, Carole Ghosn classifica o modelo judicial japonês como "sistema de reféns, e afirma que detenções prolongadas para extrair confissões são uma das principais táticas de investigação da Promotoria".

"O tratamento ao meu marido é um caso digno de estudo sobre a realidade deste sistema draconiano", diz.

"Durante horas, todos os dias os promotores o interrogam, intimidam e repreendem longe da presença de seus advogados, a fim de conseguir uma confissão", diz.

Na semana passada, o ex-presidente do conselho da Nissan não compareceu à segunda audiência devido à febre alta. Segundo Carole, o marido perdeu quase três quilos em duas semanas, com refeições principalmente à base de arroz e cevada.

Carlos Ghosn não pode receber familiares, mas tem se encontrado com representantes diplomáticos do Brasil, França e Líbano.

Em resposta às críticas, o vice-procurador-chefe japonês, Shin Kukimoto, disse em entrevista coletiva que "cada país tem seu próprio sistema (judicial) baseado em sua história e cultura. Não acho que seja apropriado criticar outra jurisdição só por ter um sistema diferente".

Pressão psicológica

O brasileiro José (nome fictício), 30, lembra até hoje de cada dia que ficou detido para interrogatório em uma delegacia japonesa.

Sua história de 22 dias sob custódia da polícia tem alguma semelhança ao que vive Carlos Ghosn, o magnata responsável pela aliança Renault-Nissan-Mitsubishi Motors, com mais de 10,6 milhões de veículos vendidos em todo mundo só no ano passado.

Não são os números que unem os dois personagens. José foi preso sob acusação de envolvimento em furto de carros na província de Yamanashi quando ainda era adolescente.

"Em qualquer caso, o que a polícia quer é a confissão", diz José. "Para isso, os investigadores repetem as perguntas milhares de vezes. O jogo psicológico é forte", afirma.

Desesperado, outro brasileiro, ouvido pela reportagem sob condição de anonimato, resolveu inventar uma história enquanto estava em prisão temporária. Como a versão era completamente diferente da acusação, a pressão dos investigadores sobre o acusado aumentou.

"No interrogatório, eles repetiam, repetiam e repetiam as perguntas. Não houve violência fisica, mas levantavam a voz, batiam na mesa. Chorei muito no início", lembra o rapaz, acusado de tentativa de sequestro de uma criança.

Ele acabou solto por falta de provas e recebeu um valor em dinheiro equivalente aos dias sob custódia.

"Até pensei em acionar a Justiça por danos morais, mas desisti. Fazer o quê?"

Durante a prisão temporária, o acusado geralmente fica em uma cela de três tatames, com um vaso sanitário, pia e acolchoado usado para dormir. Tem direito a três refeições por dia e dois banhos por semana. "No meu caso, o policial às vezes me perguntava se queria sair, e me levava para tomar banho de sol em um canto da delegacia com muro alto", lembra José.

Desdobramentos

No dia 8, Carlos Ghosn apareceu em público pela primeira vez desde a prisão em novembro. Na audiência judicial, ele chegou algemado, com uma corda presa na cintura, visivelmente mais magro e afirmou ser inocente.

Os advogados de defesa entraram com pedido de liberdade, que já foi negado pelo juiz sob argumento de risco de fuga do acusado e destruição de provas.

A Justiça ainda não decidiu se aceitará as acusações dos promotores contra o ex-presidente do conselho da Nissan. Se isso acontecer, a previsão é de que o julgamento ocorra em meados deste ano.

Fonte: G1

Mais Novidades

19 FEV
Flagra: nova Chevrolet S10 ganha grade de Blazer e Camaro no 3º trimestre

Flagra: nova Chevrolet S10 ganha grade de Blazer e Camaro no 3º trimestre

Nova S10 tem grade mais ampla, ao estilo de Blazer e Camaro (Fabio Paiva/Quatro Rodas)Lançada em 2012, a segunda geração da Chevrolet S10 passará por seu segundo facelift de meia vida ainda este ano. Conforme apurado por QUATRO RODAS, o lançamento ocorrerá no terceiro trimestre, provavelmente em agosto.Nosso editor de artes Fabio Paiva fez o primeiro flagra de um protótipo da picape média exibindo seu novo visual dianteiro no Brasil. Isso porque, nas imagens anteriores, o balanço... Leia mais
19 FEV
Novo Renault Duster Life: veja como será equipada a versão para PcD

Novo Renault Duster Life: veja como será equipada a versão para PcD

SUV terá apenas motor 1.6 no lançamento da linha 2021 (Divulgação/Renault)A apresentação oficial da nova geração do Renault Duster ocorrerá somente no mês de março. Entretanto, cada vez mais informações sobre a profunda reestilização do SUV vão surgindo.Segundo apuração do site parceiro Autos Segredos, a versão voltada ao público PcD receberá o nome de Life (a atual se chama Authentique) e custará não mais de R$ 70.000, atual teto da legislação que concede isenção de... Leia mais
18 FEV
Governo tenta atrair Tesla para criar fábrica no Brasil até 2023

Governo tenta atrair Tesla para criar fábrica no Brasil até 2023

Governo tenta atrair Tesla para montar fábrica no Brasil (Divulgação/Tesla)Os carros da Tesla sequer são vendidos oficialmente no Brasil. Só que, pelo visto, membros do governo estão empenhados em trazer a empresa ao nosso mercado – e há até especulações de uma fábrica em Santa Catarina.Quem intermedeia as negociações, de acordo o colunista Claudio Loetz, do NCS Total, é o deputado federal Daniel Freitas (PSL-SC) – autor do projeto de lei 4285/2019 que prevê isenções e... Leia mais
18 FEV
VW e Fiat “atualizam status” sobre Salão. Reunião tentará salvar evento

VW e Fiat “atualizam status” sobre Salão. Reunião tentará salvar evento

– (Rodrigo Ribeiro/Quatro Rodas)Volkswagen, FCA (com as marcas Fiat, Jeep, Ram e Dodge), Ford, Renault e Nissan eram as cinco fabricantes confirmadas até algumas semanas atrás para o Salão do Automóvel de São Paulo 2020.Entretanto, se as medidas contingenciais da Reed, organizadora da mostra, visavam a angariar mais participantes e, quem sabe, reconquistar outros, até o momento o efeito não foi o esperado.Não apenas não houve novas confirmações como as duas mais importantes entre... Leia mais
18 FEV
Novo Chevrolet Tracker Premier 1.2 Turbo custará mais de R$ 110.000

Novo Chevrolet Tracker Premier 1.2 Turbo custará mais de R$ 110.000

Versão Premier com pintura metálica custará R$ 113.600 (Rodrigo Ronconi/Quatro Rodas)A nova geração do Chevrolet Tracker terá preço inicial bem abaixo do modelo antigo. Além de repetir a estratégia de preços agressiva do novo Onix, o SUV compacto terá versões de entrada com motor 1.0 turbo em uma faixa de preço onde nunca atuou.Mas isso não impedirá o Tracker de ter versões ainda mais caras que as atuais.Adesivo revela a presença de WiFi (Rodrigo Ronconi/Quatro Rodas)As... Leia mais
18 FEV
Toyota revela teaser de novo SUV híbrido baseado no Yaris europeu

Toyota revela teaser de novo SUV híbrido baseado no Yaris europeu

Novo SUV da Toyota será híbrido e com tração nas quatro rodas (Divulgação/Toyota)A Toyota irá aproveitar o Salão do Automóvel de Genebra, na Suíça, para apresentar oficialmente seu novo SUV, que será de pequeno porte, baseado no Yaris europeu.O evento está marcado para começar no dia 3 de março, mas a marca japonesa se adiantou e já revelou alguns detalhes de como será o modelo.Pelo teaser, o que se pode observar, além da silhueta da traseira do veículo, são as lanternas... Leia mais