Há um mercado em ascensão que deve grande parte do sucesso a uma das maiores ondas da indústria automotiva: o paládio.
O preço deste metal raro vem subindo há um ano, mas nesta semana superou o valor do ouro pela primeira vez em 16 anos.
O paládio atingiu um novo recorde de US$ 1.253,30 (cerca de R$ 4.850,00) por onça (cerca de 31 gramas) na quarta-feira, ultrapassando o ouro em cerca de US$ 10, e fechando a US$ 1.249,50 de acordo com a London Metal Exchange (LME), o maior mercado de metais do mundo.
Há apenas dois anos, no entanto, a mesma quantidade de paládio era cotada a US$ 681.
Uma das principais razões para este aumento está na polêmica desencadeada na indústria automotiva pelo uso de carros com motor a diesel.
Desconfiança
A Volkswagen, montadora alemã, admitiu em 2015 que havia utilizado um software em milhões de veículos para conseguir burlar controles ambientais.
O presidente da companhia, Martin Winterkorn, teve de renunciar. Desde então, a empresa é alvo de ações judiciais, inspeções e multas milionárias.
Mas as acusações de alteração nos motores se estenderam a outras montadoras, como a Daimler e a PSA Peugeot-Citroën, investigadas por autoridades de países como França e Alemanha por possíveis fraudes.
Como resultado, a imagem dos carros a diesel foi seriamente arranhada e os consumidores começaram a desconfiar desses produtos, principalmente na Europa, afirma o analista do setor metalúrgico do ICBC Standard Bank, Marcus Garvey, à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Mas qual é a relação disso com o paládio?
Desde o ano passado, as vendas de carros a gasolina na Europa superam a de veículos a diesel, segundo a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA, na sigla em inglês). Isso não acontecia desde 2009.
E o paládio é um elemento essencial para a fabricação de catalisadores que são colocados nos sistemas de escapamento de veículos a gasolina.
Demanda maior, oferta estável
"Na Europa, o diesel se tornou o tipo de motor mais difundido. Mas o que aconteceu nos últimos anos teve um impacto", explicou Garvey.
A isso se soma o aumento na compra de carros na China e na Índia, onde são vendidos mais veículos a gasolina.
Esses fatores fizeram a demanda por paládio crescer.
"Mas a oferta, estimada em um milhão de onças por ano, praticamente não mudou nos últimos quatro anos", afirmou.
No ano passado, os carros a diesel foram os únicos veículos que registraram queda nas vendas no continente.
Os europeus compraram mais carros híbridos, elétricos, a gás natural e até a gasolina, que emitem mais CO2.
"As autoridades devem estar cientes de que uma mudança repentina da tecnologia a diesel para gasolina levará a um aumento nas emissões de CO2, uma vez que a penetração de motores que funcionam com energias alternativas permanece baixa", disse o secretário-geral da ACEA, Erik Jonnaert.
Alto preço 'justificado'
A preocupação de Jonnaert é que os veículos a gasolina consolidem esse avanço sobre o mercado dos carros a diesel.
Os primeiros, que representaram 45,8% dos novos registros em 2016, chegaram a 48,5% em 2017. O diesel, por sua vez, caiu de 49,9% para 46,3%.
Entre 75% e 80% do paládio extraído das minas são utilizados na fabricação de catalizadores, de acordo com os dados do ICBC Standard Bank.
Esses dispositivos são responsáveis pela conversão de gases nocivos, como hidrocarbonetos ou monóxido de carbono, em vapor d'água e CO2, composto que também polui, mas em menor grau.
Ao contrário do que acontece com outros metais, como o cobalto, cujo preço aumentou muito porque alguns investidores o armazenaram para especular, Garvey acredita que os altos preços do paládio são "justificados".
O analista explicou que, apesar do alto custo, o atual maquinário da indústria automotiva não suporta outros materiais além do paládio. E, embora possa se adaptar a outros tipos, levaria "pelo menos dois ou três anos".
Além disso, a maioria dos produtores não respondeu ao aumento da demanda.
Um subproduto
O paládio, como lembrou o especialista, costuma ser extraído como um subproduto da platina na África do Sul e do níquel na Rússia, onde são encontrados os principais depósitos desse metal precioso.
"O preço da platina tem se mantido estável, por isso não compensa aumentar sua extração para obter mais paládio. Na Rússia, tampouco há previsão para produzir mais", afirmou.
Garvey acredita que não haverá novas minas de paládio até dentro de dois ou três anos, mas que a demanda continuará.
"Nós usamos como referência a Suíça, onde está o maior mercado de paládio. É lá que esse metal é armazenado e vendido."
As exportações de paládio saltaram para níveis não vistos desde agosto do ano passado, segundo dados da alfândega suíça.
Em outubro passado, as exportações do metal no país europeu chegaram a 1,3 toneladas. Em comparação com outubro de 2017, o aumento foi de 60%.
Por outro lado, as importações de metal em outubro foram de 1,2 toneladas, segundo a agência de notícias Reuters.
"Ou seja, está saindo mais paládio da Suíça do que entrando", o que Garvey interpreta como uma forte demanda que não cairá em breve.