Novidades

25 JUN

'Me sinto presa, agora minha vida vai mudar', brasileiras contam como foi 1º dia de mulheres ao volante na Arábia Saudita

Quando o relógio marcou meia-noite de sábado para domingo, a geógrafa brasileira Alice Ferreira Souza, de 35 anos, pegou o carro e deu uma volta no quarteirão. Foi um passeio curto, mas cheio de simbolismo. Alice mora em Al Khobar, na Arábia Saudita. Até sábado, o país era o único no mundo onde as mulheres não podiam dirigir. No domingo, o decreto que acaba com essa proibição passou a valer oficialmente.

Até então, sauditas que fossem flagradas dirigindo estavam sujeitas à prisão – e algumas ativistas de fato foram detidas por desafiarem a lei. O fim do veto, anunciado em setembro de 2017, faz parte de uma série de medidas de modernização que vêm sendo introduzidas no país pelo príncipe Mohammed bin Salman.

Alice não foi a única a ir às ruas durante a madrugada. Fotos e vídeos divulgados nas redes sociais mostram mulheres sauditas ao volante. Elas também fizeram questão de exercer o novo direito já nos primeiros minutos.

A geógrafa, que trabalha com petróleo e mora no país desde 2015, conta que até sábado, dependia do marido ou de motoristas particulares para se deslocar. "Me sinto totalmente presa. Aqui não tem metrô nem ônibus. Deixo de fazer quase tudo porque é muito chato ter que ligar para um motorista, esperá-lo chegar, chamar um táxi em cada parada quando vou a mais de um lugar", explica.

Na verdade, Alice vai ter que aguardar um pouco para ir além da voltinha no quarteirão. Por enquanto, a validação da carteira internacional só está disponível, entre as estrangeiras, para americanas e inglesas, informa ela.

"Todo dia entro no sistema para ver se vão liberar para nós", conta. "Com a carteira, minha vida vai mudar. Se eu quiser sair para almoçar em algum lugar, tomar um café com alguém ou resolver qualquer coisa, vai ser muito mais simples", afirma.

A brasileira, que ficou "chocada" com as restrições às mulheres quando se mudou para o país, afirma que nos últimos anos as transformações na sociedade saudita são nítidas.

"Hoje a mulher pode votar, as empresas são obrigadas a contratar trabalhadoras do sexo feminino. Nos eventos de petróleo, já vejo mulheres com a abaya (veste longa obrigatória) aberta, mostrando a roupa, algo que antes não acontecia", diz.

Mulheres na academia

Também moradora de Al Khobar, a gaúcha Gabriela Lirio Delfino, 29, é outra brasileira que vivencia as mudanças no país árabe. Personal trainer numa academia para mulheres, ela diz que até dois anos atrás quase não existiam lugares para as sauditas se exercitarem, por exemplo.

Sobre o fim do veto à direção, Gabriela afirma que há tempos existia um rumor de que iria acontecer.

"As pessoas estavam desacreditadas, porque todo ano falavam que iam permitir e nada", lembra. "Mas hoje eu cheguei ao trabalho e me emocionei. Minhas alunas estão super felizes. Uma delas disse que já veio de carro para a academia. E os policiais estão distribuindo flores para as mulheres na direção", relata.

Ela se mudou para a Arábia Saudita há três anos, acompanhando o marido, que é químico em uma petroleira. Diz que está gostando do país, apesar das restrições:

"Tudo tem um lado bom e um ruim. Aqui abri minha cabeça, tenho contato com uma cultura diferente. Tento compensar as limitações indo para o Bahrein, que fica a uma hora de carro. Lá tem muito mais liberdade. Eu e meu marido vamos ao cinema, as mulheres dirigem normalmente."

Em seu blog Pra lá de Bagdá, onde conta seu dia a dia no país, Gabriela fez um post com o passo a passo de como validar a carteira internacional com a nova lei.

Ela também fez um vídeo e tirou fotos em um dos estacionamentos com vagas específicas para mulheres que foram criados após o anúncio do fim da proibição.

Para se deslocar, atualmente a brasileira usa táxi, Uber e um concorrente desse aplicativo muito utilizado na região, o Careem. Para ir e voltar do trabalho, sua empresa envia um motorista particular.

Motoristas privativos

Na Arábia Saudita, muitas famílias contratam motoristas para ficarem à disposição das mulheres – em geral, são trabalhadores paquistaneses ou indianos levados para lá com esse objetivo. Segundo o jornal local Arab News, o número de famílias com chofer privativo supera 80%.

Por isso, muitas sauditas não têm pressa de tirar a carteira para dirigir. "Tem mulheres que nem vão querer dirigir. E tem algumas que agora querem contratar motoristas mulheres, algo que antes não era possível", conta a mineira Herika Santos, 30, que mora na capital saudita, Riad, há dois anos com o marido canadense.

Muçulmana, ela comemora a nova lei. "Dirigir ou não tem que ser uma escolha da mulher, assim como usar o hijab [lenço que cobre a cabeça]. No Islã não existe base para esse tipo de proibição. É uma questão política", afirma.

Segundo Herika, muitos homens sauditas apoiam o fim do veto: "A geração mais jovem é mente aberta. E vai aliviar para eles, porque não vão ter que pagar motorista ou ficar levando e buscando a esposa em todo lugar".

O trânsito caótico do país é outro fator que tem impedido algumas sauditas de assumir o volante. "É uma bagunça. Os motoristas aqui não são muito civilizados, não respeitam as leis, não dão sinal", diz Gabriela Delfino, acrescentando que algumas de suas alunas preferiram esperar um pouco para ver como vai ser a nova lei na prática, até porque existe um receio de que as mulheres ao volante sejam hostilizadas.

"Vou comprar um carro bem duro, tipo um jipe usado, porque sei que eles vão se jogar em cima de mim, ainda mais eu sendo mulher", confirma Alice Souza. À medida que foi se aproximando o domingo do início da nova lei, ela recebeu diversas mensagens de concessionárias de veículos oferecendo "test drives".

O fim do veto à direção feminina é tido também como uma estratégia do príncipe Salman para aquecer a economia. Além dos novos carros que serão vendidos, a aposta é de que haverá mais consumo de combustível, mais mulheres poderão trabalhar livremente, novos negócios surgirão e o gasto que antes as famílias destinavam aos motoristas particulares estrangeiros será investido em outros setores dentro do país.

Fonte: G1

Mais Novidades

16 AGO
Afinal, Fiat revelou visual de seu novo SUV ao inaugurar centro de design?

Afinal, Fiat revelou visual de seu novo SUV ao inaugurar centro de design?

Protótipo com argila tem conjunto óptico dianteiro e grade mais similares às da atual Toro (Felipe Bitu/Quatro Rodas)Nesta semana, um novo rumor passou a esquentar a futura empreitada da Fiat no mercado de SUVs.Ao inaugurar seu novo centro de design em Betim (MG), o grupo FCA usou como modelo para explicar as atribuições do espaço um mocape muito similar ao do conceito Fastback, apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo do ano passado.Conceito Fastback na forma apresentada no... Leia mais
16 AGO
Picape 'gigante', Ram 2500 chega ao Brasil em nova geração por R$ 290 mil

Picape 'gigante', Ram 2500 chega ao Brasil em nova geração por R$ 290 mil

A picape "gigante" Ram 2500 está de volta ao Brasil. A nova geração já está disponível em pré-venda, por R$ 289.990. As entregas começam em novembro. Ela será vendida em versão única, Laramie, com tração 4x4 e motor de 6 cilindros, 6.7 turbodiesel. São 365 cavalos e 110 kgfm de torque. O câmbio é automático, de 6 marchas. A nova 2500 já havia sido vista rodando em testes no interior de São Paulo. Na aparência, a dianteira ganha faróis mais horizontalizados em... Leia mais
16 AGO
Radares nas rodovias federais: perguntas e respostas

Radares nas rodovias federais: perguntas e respostas

A fiscalização com radares móveis está suspensa nas rodovias federais do Brasil por determinação do presidente Jair Bolsonaro. A ordem foi publicada nesta quinta-feira (15) no "Diário Oficial da União", e foi dada ao Ministério da Justiça, responsável pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Esta não é a primeira medida de Bolsonaro que afeta a fiscalização de velocidade em estradas federais. Veja perguntas e respostas sobre o assunto: Que radares estão... Leia mais
16 AGO
Longa Duração: luz de seta do Citroën C4 Cactus faz barulho só quando quer

Longa Duração: luz de seta do Citroën C4 Cactus faz barulho só quando quer

Às vezes, o som do pisca do nosso Citroën fica mudo (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)Se há uma lição que o Longa Duração nos ensina, ela é: “Nada como o convívio para que a gente conheça intimamente um carro”.Com o C4 Cactus, não é diferente. Apesar de não haver nenhuma indicação gráfica, o botão na extremidade da alavanca esquerda ativa o comando de voz.“Estava com meu celular conectado à central multimídia do carro via Android Auto e, quando pressionei o tal botão, o... Leia mais
15 AGO
VÍDEO: conheça os detalhes (e um pecado) do novo Chevrolet Cruze com WiFi

VÍDEO: conheça os detalhes (e um pecado) do novo Chevrolet Cruze com WiFi

Chevrolet Cruze Premier 2020 (Divulgação/Chevrolet)Em meio à incertezas em relação a seu futuro, o Chevrolet Cruze chegou à linha 2020 com novidades no visual e pacote de equipamentos.A maior novidade é invisível e circula dentro e fora do carro em um raio de até 15 metros: a rede WiFi a bordo oferece conexão 4G a até sete dispositivos.O problema é que o sistema, além de exigir um pagamento à parte para a operadora de celular, possui um limitador que pode influenciar na hora de... Leia mais
15 AGO
PM suspende uso de radares móveis em rodovias delegadas à corporação em Minas Gerais

PM suspende uso de radares móveis em rodovias delegadas à corporação em Minas Gerais

A Polícia Militar Rodoviária de Minas Gerais confirmou, na tarde desta quinta-feira (15), que vai atender de imediato a determinação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de suspender o uso de radares móveis nas rodovias federais em que a fiscalização é feita pela corporação. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, três rodovias fiscalizadas pela PM serão afetadas pela decisão, a BR-356 e a BR-040 e BR-381, no trecho conhecido como Anel Rodoviário. A ordem foi publicada... Leia mais