
O Wartburg 312 tinha sempre carroceria em dois tons (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Todos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros. A frase de George Orwell foi uma das críticas mais contundentes à ideologia socialista.
Sob a rédea repressora da Alemanha Oriental, todos deveriam rodar a bordo de um humilde Trabant, mas só alguns privilegiados desfrutavam do status de um Wartburg.
Ocupada pelos soviéticos após a Segunda Guerra, a fábrica da BMW em Eisenach foi rebatizada AWE (Automobilwerk Eisenach) e integrada à estatal IFA (Industrieverband Fahrzeugbau), que fabricava o F9 em Zwickau.
Derivado do DKW dos anos 30, o IFA F9 teve a produção transferida para Eisenach em 1953, sendo encerrada três anos depois.

Cerca de 283.000 unidades foram produzidas até 1967 (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Nesse período, a AWE desenvolveu o Wartburg 311, o sucessor do F9. Era maior, com quatro portas, melhor visibilidade e um porta-malas mais espaçoso. Há quem diga que o projeto foi uma iniciativa clandestina do diretor Martin Zimmermann, mas o certo é que a produção no novo modelo acabou sendo aprovada pelo Partido Socialista Unificado da Alemanha.
O primeiro 311 deixou a linha de produção em janeiro de 1956. Como nos DKW, era impulsionado por um motor de três cilindros, dois tempos e 0,9 litro, com 37 cv de potência.
O câmbio manual de três marchas não era sincronizado, mas possibilitava velocidade máxima de 115 km/h e um consumo médio de 10,2 km/l.

Ele era uma evolução do DKW dos anos 30 (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Destacou-se pela oferta de carrocerias, sempre pintadas em duas tonalidades. Além do sedã de quatro portas, havia um cupê e um conversível, ambos com duas portas. Duas peruas integravam a linha: a Combi de duas portas e a Camping, com quatro portas e teto retrátil de lona (também oferecido no sedã). Mais tarde viriam a picape e o esportivo denominado 313.

O Wartburg 311 era maior: quatro portas e um porta-malas mais espaçoso (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Desenhado por Hans Fleischer, o 313 era um roadster de personalidade própria, com capô alongado e espaço para apenas dois ocupantes. Com 50 cv, chegava a 140 km/h, competindo em paridade com ícones capitalistas como o VW Karmann Ghia e Auto Union 1000 SP. Foram produzidos apenas 469 exemplares até 1960.
O 311 custava cerca de três vezes o valor do Trabant, mas agradava pelo estilo e qualidade, em especial no acabamento interno. Foi exportado para vários países e bem aceito no Reino Unido.
Pelo preço de um Mini os britânicos levavam um sedã médio com assoalho acarpetado, acendedor de cigarros e iluminação no porta-malas.

O Wartburg era conhecido pela qualidade no acabamento interno (Christian Castanho/Quatro Rodas)

O requinte nos detalhes chamam atenção (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Com exceção da primeira marcha, o câmbio passou a ser sincronizado em 1958. Apesar do desempenho modesto, o 311 foi visto em diversos ralis no final da década de 50, incluindo o Rali de Monte Carlo de 1959.
Sua mecânica simples e robusta não o colocava entre os primeiros, mas ele dificilmente abandonava uma prova por problemas mecânicos.

Câmbio manual ficava na coluna de direção (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Os freios ganharam acionamento hidráulico em 1961, indispensáveis para conter o melhor rendimento do motor de 922 cm3 que seria adotado no ano seguinte. O acréscimo de 10% na cilindrada resultou em 45 cv e o novo câmbio, de quatro marchas, aumentou a máxima para 125 km/h e reduziu o consumo para 10,5 km/l.
O Wartburg atingiu recorde de produção em 1964: 31.309 unidades, limitadas pela economia planificada. Sua maior evolução foi apresentada no ano seguinte.
Completamente revisto, o modelo 312 adotou molas helicoidais e novas suspensões, por braços duplos paralelos na frente e braço arrastado atrás. As rodas ficavam menores, com 13 polegadas.

Vai de 0 a 100km em 27,5 segundos (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Foi um modelo de transição entre o 311 e o 353, modelo de linhas retas que foi apresentado em 1966. Este exemplar é um modelo 1966 de um colecionador paulista: “Mesmo após 50 anos, ele surpreende pelo rodar confortável e pelo comportamento dinâmico. É o mais valorizado dos Wartburg: é belo como o 311 e eficiente como o 353”.
Fonte: Quatro Rodas