– (Xico Buny/Quatro Rodas) Fim de jogo para o Mobi. Aos 60.000 km, o compacto se despede da nossa frota deixando uma lição para a Fiat: quem não aproveita o tempo para evoluir, mais do que parado, fica para trás. Logo que estreou aqui no Longa Duração, em julho de 2016, o Mobi foi apresentado como um gêmeo mecânico do Uno, desmontado em dezembro de 2011. À época, dissemos: “Motor, câmbio e até a plataforma são os mesmos do velho Uno”. Apesar das relevantes semelhanças, no fim das contas, o saldo do Mobi é negativo: os pontos em que evoluiu diante de seu par passam longe de compensar aqueles em que ficou para trás ou no mesmo nível. O acabamento foi um dos itens mais criticados, principalmente a partir da segunda metade do teste. Nunca antes na história do Longa Duração tivemos que repor tantas partes plásticas: tampão do porta-malas e respectivo suporte, tampa de acesso ao plugue do sistema de diagnose da central eletrônica e capas de cobertura dos passantes dos cintos dianteiros. Capa do cinto teima em cair (Silvio Gioia/Quatro Rodas) Se fosse em qualquer outro carro, até poderíamos fazer um mea-culpa no caso do porta-malas, pois nossos fotógrafos se acomodam ali às vezes para fazer o seu trabalho na pista de Limeira (SP). Mas, como se trata do Mobi, podemos garantir: não temos ninguém na equipe com porte nem talento de contorcionismo suficientes para se acomodar naquele minúsculo compartimento de bagagem que possa ter quebrado as peças – a causa mais provável você encontrará adiante. O Mobi conta com o volume de porta-malas de 215 litros (Christian Castanho/Quatro Rodas) Quanto à tampa do painel, temos um suspeito: a autorizada Amazonas, que por várias vezes tentou solucionar uma falha de funcionamento do motor e assumidamente retirou-a para acessar o plugue da diagnose. O fato de termos encontrado essa tampa caída, dias após a saída da Amazonas, com as travas quebradas e repleta de fita dupla face por dentro, corrobora essa nossa tese. Tampa lateral do painel foi danificada, provavelmente por uma concessionária (Silvio Gioia/Quatro Rodas) Por fim, ter de trocar as capas dos passantes dos cintos do nosso carro em nada nos surpreendeu, já que outros dois Mobi cedidos pela Fiat para testes e comparativos chegaram até nós já com as tais capinhas no chão. Com tantos episódios assim, logo começaram as piadas do tipo: “O desmonte já começou?”. E por falar em desmonte… Ao chegar à oficina Fukuda Motorcenter, a direção do Mobi foi assumida por nosso consultor técnico, Fabio Fukuda, que sempre roda os quilômetros derradeiros dos carros de Longa para extrair as últimas impressões e, com base nelas, concentrar maior atenção no processo de desmontagem. Mobi, em sua última visita ao campo de provas (Silvio Gioia/Quatro Rodas) Cumprido o trajeto, Fukuda disse: “Há dois tipos de ruído na dianteira, que vão ao encontro das anotações dos usuários no diário de bordo. Um mais metálico, de choque entre partes, e o outro de ressonância de rotação”. Mais tarde, os culpados foram encontrados: o primeiro vinha do protetor de cárter e o segundo do rolamento de roda dianteiro direito desgastado. “O protetor tinha uma marca muito discreta, mas o rolamento não tem defesa: estava visivelmente afetado”, disse Fukuda. No motor também foi encontrado um problema – muito parecido com o detectado no Uno, o que pode revelar que a Fiat não deu muita bola ao primeiro desmonte. Com excesso de acúmulo de material carbonizado, as válvulas de admissão passaram a não vedar as câmaras de combustão como deveriam. Esse carvão é formado por óleo lubrificante e combustível não queimados na fase de combustão. Quando algo não funciona como deveria, o acúmulo é tanto que fragmentos acabam se desprendendo do pé da válvula. Depois, há dois fins para esses carvõezinhos: invadir as câmaras (onde são incinerados) ou ser comprimido (e logo expelido) entre o chanfro da válvula e a sede. Neste segundo caso, o microrrisco deixado é suficiente para impedir a estanqueidade da câmara. Foi essa segunda situação que atingiu o motor dos dois Fiat – com muito mais severidade agora, no do Mobi. Nosso Mobi posa no Rio de Janeiro (Henrique Rodriguez) Os cilindros 1, 2, 3 e 4 chegaram a 60.000 km com, respectivamente, 14,25; 14,48; 14,59 e 13,3 bar – todos abaixo dos 15,5 bar, pressão mínima tolerada pela Fiat. Ao inspecionar as válvulas, Fukuda disse: “Esse carvão é característico de gasolina mal queimada. Como o Mobi consumiu apenas etanol, a culpa recai sobre o sistema de injeção de gasolina da partida a frio”. Quanto à significativa diferença de pressão de compressão do cilindro 4, o técnico explicou que o respectivo cabo de vela estava com a proteção do conector rompida, com fuga de corrente. “Sem a centelha ideal, um círculo vicioso se fechou, já que a queima menos eficiente gera mais carvão, que prejudica a vedação da câmara, com piora da queima e assim por diante”, explicou o nosso consultor. No mais, o motor foi bem, com todos os demais componentes dentro dos limites estipulados pela Fiat. O sistema de câmbio passou bem pelos 60.000 quilômetros (Pedro Bicudo) Se o motor sofreu, o câmbio passou ileso, com garfos, luvas e sincronizadores em bom estado e demais partes do sistema com medidas dentro dos limites da Fiat. Suspensão (com buchas intactas) e direção (com terminais e pivôs em bom estado e sem folga axial relevante) também se despedem com elogios. Uma pena o rolamento de roda ter sido encontrado com severo desgaste. O desmonte jogou luz em outro ponto crítico: o acabamento. Apesar da aplicação de arruelas de borracha, o painel tem poucas zonas de fixação, o que o deixa suscetível a vibrações e torções. “Alguns destes pontos têm botões de pressão que, definitivamente, não combinam com torção”, acrescenta Fukuda. Sobre o tampão, Fukuda conta que fez um teste para explicar o que poderia ter causado sua quebra concomitante ao respectivo suporte. “Simulei uma situação comum, deixando um objeto alto no porta-malas que impedia a descida completa do tampão. Olhei pelo vidro e vi que, ao contrário do que ocorre em hatches e SUVs, o tampão não salta do suporte, o que impediria a sua quebra.” O tampão plástico que cobre a área do porta-malas teve que ser trocado na concessionária (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas) Ou seja, em algum momento do teste, um usuário pode ter causado a quebra ao acomodar mais bagagem do que o porta-malas do Mobi suportava. Diferentemente do acabamento, a carroceria venceu a jornada sem maiores dificuldades, chegando ao desmonte livre de sinais de infiltração de poeira ou água. Assim como o motor, o atendimento da rede autorizada evoluiu pouco, exigindo visitas repetidas para a solução de um mesmo caso, como o das falhas de motor, na metade do teste. Com seus altos e baixos, o Mobi se despede do Longa Duração aprovado, mas com algumas ressalvas – viu só como ele é gêmeo do Uno? Válvulas, pistão/biela, eixo comando e virabrequim – (Silvio Gioia/Quatro Rodas) Maestros das válvulas e do conjunto pistão/biela, o eixo comando e o virabrequim passaram bem tanto na inspeção visual quanto nas análises dimensionais. No entanto, cabe ressaltar que a Fiat não forneceu os valores tolerados de conicidade e de ovalização dos cilindros. Diâmetro dos cilindros e dos pistões, folga entre ambos e de entre-pontas dos anéis estavam dentro dos limites tolerados pela marca. Apesar da acentuada concentração de carvão nas válvulas, o índice de material carbonizado na cabeça dos pistões pode ser considerado compatível com a quilometragem do carro. Caixa de direção, discos/pastilhas e embreagem – (Silvio Gioia/Quatro Rodas) Com reduzido índice de folga axial e terminais em perfeito estado de conservação, a caixa de direção parece ter saído de um carro com bem menos quilometragem. Ela foi como um bom juiz de futebol, passando despercebida ao longo dos 60.000 km da partida e se despedindo com elogios após o apito final. Ao fazer a revisão dos 50.000 km, a autorizada deveria ter recomendado, no mínimo, uma verificação intermediária, antes dos 60.000 km. Discos epastilhas foram encontrados no limite de desgaste. Na embreagem, platô com molas do chapéu chinês em bom estado e disco de atrito sem ranhuras visíveis. No câmbio, engrenagens, luvas de engate eanéis sincronizadores isentos de sinais de mal funcionamento. Tudo aprovado sem restrições. Suspensão – (Silvio Gioia/Quatro Rodas) Assim como no Uno, desmontado em 2011, a suspensão do Mobi venceu os 60.000 km sem dificuldades. Amortecedores sem vazamentos, molas livres de sinais de batida entre elos, bandejas com buchas sem folga: componentes bem adaptados à dura realidade do asfalto brasileiro. Coxins Aqui, a Fiat caprichou. Se no Uno, os coxins foram reprovados por chegarem ao fim do teste rompidos, no Mobi foram encontrados em ótimo estado. Carroceria – (Silvio Gioia/Quatro Rodas) Bem isolada, a carroceria manteve poeira e pó do lado de fora da cabine. Também não foram encontrados sinais de pintura trincada, o que poderia indicar torção demasiada da carroceria. Conectores bem localizados echicotes de fácil acesso e bem protegidos renderam elogios ao sistema elétrico. Rolamento – (Silvio Gioia/Quatro Rodas) O rolamento da roda dianteira (na foto, ainda montado na manga de eixo) não suportou a maratona. Dava para sentir uma espécie de efeito quadro a quadro, enquanto o esquerdo, intacto, girava liso. Era ele o responsável pela rodagem ruidosa do Mobi. Válvulas de admissão – (Silvio Gioia/Quatro Rodas) As válvulas de admissão estavam com acúmulo de carvão, mas a do cilindro 4 foi a mais atingida – veja abaixo o porquê. O material liso e brilhante, como um caramelo, é típico de gasolina mal queimada, bem diferente do carvão mais seco e quebradiço formado a partir do etanol, único combustível que alimentou o Mobi. A culpa, então, recaiu sobre a injeção de gasolina do sistema de partida a frio. Velas – (Silvio Gioia/Quatro Rodas) As velas chegaram aos 60.000 km em bom estado, mas a ruptura do conector do cabo do cilindro 4 levou à perda de força da centelha. Essa falha foi a culpada pelo agravamento da carbonização da válvula do cilindro 4. A comparação com o Uno era inevitável e isso deu ao Mobi uma responsabilidade extra: mais moderno, ele tinha a obrigação de ser também melhor. Não foi. No fim das contas, saiu com um magro empate. A boa notícia é que este obsoleto motor tende a ser integralmente substituído pelo Firefly, de três cilindros, hoje exclusivo das versões Drive. Tabela de Preço Quilometragem Combustível Manutenção (revisão/alinhamento) Extras Custo por 1.000 km
Fonte:
Quatro Rodas
Problemas no motor iguais do Uno
Câmbio favorável

Peças aprovadas

Peças que demandam atenção
Veredicto Quatro Rodas
Linha do tempo (clique nos links para ler as matérias)
Ocorrências
Folha corrida
Testes de pista (com etanol)
1.035 km
60.024 km
Diferença
Aceleração de 0 a 100 km/h
17,5 s
17,3 s
+1,14%
Aceleração de 0 a 1.000 m
38,1 s / 131,2 km/h
38,2 s / 131,3 km/h
– 0,26% / – 0,07%
Retomada de 40 a 80 km/h (em 3°)
10,6 s
10,6 s
–
Retomada de 60 a 100 km/h (em 4°)
18,7 s
17,9 s
+4,27%
Retomada de 80 a 120 km/h (em 5°)
35 s
33,8 s
+3,43%
Frenagens de 60 / 80 / 120 km/h a 0
17,4 / 29,8 / 70,2 m
16,8 / 28,4 / 66,3 m
+3,45% / +4,7% /+5,55%
Consumo urbano
8,7 km/l
8,8 km/l
+1,15%
Consumo rodoviário
11,4 km/l
11,9 km/l
+4,39%
Ficha técnica – Fiat Mobi Like On 1.0
Longa Duração: o desmonte do Fiat Mobi
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