Cavalo negro na grade escura: clima sinistro na dianteira (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Pode não parecer, mas o Mustang é um carro muito importante para a Ford no Brasil.
“A procura está sempre em alta e, por se tratar de um carro icônico, a margem de lucro é muito boa tanto para a fábrica quanto para as concessionárias”, diz uma fonte ligada à marca que pediu para não ser identificada.
Rodas, aerofólio e teto são pretos na série Black Shadow (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Então, era de se esperar que tudo seguisse o rumo normal, já que o Mustang é líder absoluto do segmento e com larga vantagem em relação ao arquirrival Camaro.
Ainda assim, o ano começa com uma novidade: a Ford vai promover uma mudança na comercialização do Mustang, substituindo a versão V8 GT Premium pela Black Shadow, a novidade que você começa a conhecer a partir de agora.
Rodas do Black Shadow, aro 19, têm desenho exclusivo (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Não espere uma revolução: só detalhes diferenciam o Black Shadow do GT V8 Premium, que deixa de ser vendido.
Por fora, os itens que mais justificam o nome Black: logotipo Mustang da grade, teto, rodas com desenho diferenciado e aerofólio sobre a tampa do porta-malas na cor preta.
Console elevado isola o piloto do passageiro (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Sobre o capô e nas laterais, faixas decorativas. Mas, ao contrário do que o nome pode sugerir, a carroceria está disponível em dez cores.
Na cabine, mudanças ainda mais discretas: bancos com faixas de Alcantara – um refinado tecido sintético com textura muito similar à do lado avesso do couro – e faixa superior do painel revestida com fibra de carbono e uma plaqueta alusiva aos 55 anos do Mustang, comemorados em 2019.
Mustang: 55 anos completados em 2019 (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Ou seja, é apostando na força do aniversário do carro que a Ford decidiu dar uma aura de edição especial a uma versão que, na prática, apenas incorporou um discreto pacote estético.
A marca aproveitou também para fazer um ajuste na tabela de preços, com o Black Shadow chegando por R$ 328.900 – R$ 15.000 a mais do que o aposentado GT Premium.
Aperte start para acordar o monstro V8 5.0 de 466 (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Mas dizer que o Mustang pouco mudou pode (e deve) ser interpretado como elogio, afinal ele nunca esteve tão bom. Duvida?
O motor, claro, é o grande destaque.
Herói da resistência diante da necessidade de diminuição da quantidade de cilindros e do deslocamento volumétrico e da ap?icação cada vez mais massiva de turbocompressores, o Mustang conta com um veoitão 5.0 aspirado de 466 cv de terceira geração da família Coyote.
V8 aspirado, sim, mas com muita tecnologia: injeção de gasolina direta e indireta e dois comandos de válvulas por bancada de cilindros (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Aqui, tradição nada tem a ver com falta de modernidade: são dois comandos de válvulas variáveis por bancada (um para as de escape e outro para as de admissão) e duplo sistema de injeção de gasolina (direta e indireta).
Caixa automática de dez marchas: desenvolvida por meio de uma inusitada parceria entre Ford e GM. É a mesma que equipa o Camaro (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Tecnologias tão impensáveis pouco tempo atrás quanto a parceria estabelecida entre as arquirrivais Ford e GM que levou à criação do supercâmbio automático de nada menos do que dez marchas.
Isso aí: a caixa que equipa o Mustang é a mesma do Camaro, mudando apenas a calibração de cada uma.
Banco do motorista mescla ajustes elétricos e manuais (Fernando Pires/Quatro Rodas)
A suspensão também é merecedora de elogios. Esqueça o comportamento arisco de outrora: hoje, com direito a suspensão traseira multilink e um arsenal de sistemas eletrônicos de controle, o Mustang está menos indócil.
Com o auxílio dos amortecedores adaptativos MagneRide com variação de rigidez, o piloto tem à sua disposição um dos modelos de comportamento mais versáteis do mercado.
No modo mais confortável, a direção é leve, a suspensão macia, o escape silencioso e as trocas ocorrem pouco acima das 1.000 rpm.
Espaço na traseira é suficiente apenas para crianças. Se forem muito pequenas e precisarem de assento especial, sem problema: há Isofix nas duas laterais (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Porém, ao ativar os modos mais esportivos, prepare-se: as saídas em baixa rotação embaralham como se fosse um carro de competição, o volante pesa, os pedais ficam ultrassensíveis e a suspensão enrijece como se o óleo tivesse petrificado dentro dos amortecedores.
Em se tratando de um esportivo, até que o porta-malas é grande: são 382 litros, de acordo com a Ford (Fernando Pires/Quatro Rodas)
E aí o Mustang deixa de se parecer com um Fusion anabolizado e passa a justificar a boa fama de puro-sangue que acumulou ao longo de seus 55 anos.
Tocado esportivamente, ele obedece instantaneamente aos inputs de volante e pedais, mas cuidado: há sempre uma cascata de torque e potência querendo chegar às rodas e qualquer exagero na dose é letal, sobretudo nas saídas de curva.
Em nosso campo de provas, em Limeira, cravou 4,8 segundos na aceleração de 0 a 100 km/h.
Painel: layout muda de acordo com o modo de condução escolhido e permite personalização ao gosto do piloto (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Há muita tecnologia também. O painel digital exibe layouts mais convencionais nos modos mais pacatos ou com prioridade nos monitores de performance (temperatura de câmbio e conta-giros, por exemplo) nos modos esportivos.
O sistema de som Bang e Olufsen, composto por 12 alto-falantes, incluindo um subwoofer de 12 polegadas, é uma ótima opção para os momentos que o piloto decidir ouvir uma trilha sonora diferente da sinfonia dos oito cilindros.
O sistema de som Shaker Pro, da Rockford Fosgate, importado inicialmente, foi substituído desde o ano-modelo 2019. Desde então, um conjunto da dinamarquesa Bang e Olufsen equipa o cupê (Fernando Pires/Quatro Rodas)
As vendas do Black Shadow começam em janeiro de 2020, mas, como era esperado, as encomendas iniciaram quase dois meses antes, com colecionadores e fãs ávidos para colocar uma unidade na garagem antes de todo mundo. E olha que nem é uma série tão especial assim.
Aceleração
0 a 100 km/h: 4,8 s
0 a 1.000 m: 23,2 s – 232,8 km/h
Velocidade máxima
250 km/h (limitada eletronicamente)
Retomada (em D)
40 a 80 km/h: 2,4 s
60 a 100 km/h: 2,8 s
80 a 120 km/h: 2,9 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 12,6/22,4/50,8 m
Consumo
Urbano: 7 km/l
Rodoviário: 11,5 km/l