O BY já iria estrear com o visual do Gol reestilizado (Rodrigo Ribeiro/Quatro Rodas)
Fazer um hatch popular mais curto e barato, mas com soluções para otimizar o espaço interno, é uma tática comum na indústria: Fiat Mobi, Renault Kwid e Volkswagen Up! são alguns dos modelos que beberam de diferentes maneiras da mesma fonte.
Só que, apesar desse conceito ter surgido somente na década passada, ele já foi estudado no Brasil há mais de trinta anos.
É desta época o Volkswagen BY, projeto mais bem guardado da marca no país e que só foi revelado à grande imprensa na última semana, durante a apresentação de algumas relíquias da empresa aos jornalistas da América Latina.
A traseira tem vidro menos inclinado e lanternas menores que as do Gol (Rodrigo Ribeiro/Quatro Rodas)
QUATRO RODAS voltou a ter contato com o hatch que foi caçado por meses a fio entre 1986 e 1987. E, 33 anos depois, a Volkswagen confirmou o que já havíamos revelado no século passado: o BY não vingou por ser muito bom.
BY foi clicado por QUATRO RODAS em 1986 (Acervo/Quatro Rodas)
– (Acervo/Quatro Rodas)
O problema não era o projeto em si. O hatch, derivado da primeira geração do Gol, chamada internamente de BX – daí o uso da sigla BY –, mantinha as qualidades do irmão, mas apostava em uma carroceria menor para se posicionar na base da tabela de preços.
A nova suspensão traseira (repare no suporte exposto no canto inferior esquerdo do assoalho do porta-malas) foi um dos motivos para o encarecimento do BY (Rodrigo Ribeiro/Quatro Rodas)
A traseira, por coincidência ou não, lembrava muito a do Fiat Uno, lançado pouco tempo antes, em 85, o que evidencia qual era o concorrente-alvo da VW.
O motor é o mesmo AP 1.6 EA827 que já era usado no Gol (Rodrigo Ribeiro/Quatro Rodas)
Só que a fabricante optou por implementar algumas melhorias e avanços ao BY em relação ao Gol.
Estamos falando do uso de para-brisas colado na carroceria (o Gol ainda usava borrachas), da ausência de calhas emendando o teto com as laterais e de um engenhoso sistema de trilhos para avançar o banco traseiro e aumentar o espaço do porta-malas.
Uma alavanca sob o assento (na parte central) permitia correr o banco para ampliar o porta-malas (Rodrigo Ribeiro/Quatro Rodas)
Este último item, aliás, só foi estrear em um Volkswagen nacional em 2003, no Fox. Atualmente, está presente no T-Cross europeu, mas não no brasileiro.
Quando não havia projeções computadorizadas, desenhos feitos a mão antecipavam os carros (Acervo/Quatro Rodas)
Outra mudança importante feita pela engenharia foi o uso de uma suspensão traseira diferente do Gol, para perder menos espaço para a bagagem — o que aumentava os custos de desenvolvimento.
Tampa do porta-malas abria à grande altura e permitia ótimo acesso ao compartimento (Rodrigo Ribeiro/Quatro Rodas)
Uma das estratégias da Volkswagen para reduzir os gastos foi manter toda a carroceria do Gol da coluna B até a dianteira.
O problema é que isso gerou um visual desproporcional, com o capô longo para receber o motor AP 1.6 longitudinal contrastando com a traseira curta.
Interior do BY seria igual ao do Gol (foto), mas, com menos equipamentos (Christian Castanho/Quatro Rodas)
À luz da recém-criada Autolatina, e as inúmeras mudanças ocasionadas pela fusão, a Volkswagen acabou cancelando o BY. O motivo é que ele ficaria muito caro, e não seria possível posicioná-lo abaixo do Gol.
Desde então, a Volkswagen nunca conseguiu emplacar um sucesso de vendas no segmento de subcompactos. A marca flertou com o segmento novamente com o Lupo e, atualmente, com o Up!.
Mas a dupla, apesar de estar longe de ser um fracasso, nunca brilhou entre os mais vendidos da categoria, seja globalmente ou no Brasil.