Com a massiva quantidade de 3,3 milhões de unidades produzidas no Brasil, o Fusca, ícone da indústria automotiva mundial, pode até passar despercebido pelas ruas devido ao grande número de exemplares espalhados pelo país. Não é o caso da unidade guardada pelo colecionador André Beldi. O modelo, construído na Alemanha em 1946, chama atenção pela estrutura modificada e estará exposto a partir desta sexta-feira (23) em Águas de Lindóia (SP) durante um evento dedicado aos fuscas.
A história do Fusca de Beldi se destaca, primeiramente, pelo ano de fabricação. Após o final da 2ª Guerra Mundial, em 1945, a fábrica da Volkswagen de Wolfsburg, na Alemanha, passou a ser administrada pela Inglaterra, tendo a produção retomada um ano depois.
"Meu carro é de junho de 1946 e pertence as 4 mil primeiras unidades fabricadas no pós-guerra. Ele é, com certeza, o fusca mais antigo do Brasil".
Raridade abandonada
Beldi, que mora em Sorocaba (SP), relata que encontrou o veículo abandonado em um terreno de Taubaté (SP) em 2016. Ao se aproximar do carro, notou um detalhe que revelou o tamanho do achado.
"Estava com uns para-lamas horríveis, parecia um buggy. Quando cheguei perto, vi que o símbolo da VW tinha o desenho de uma engrenagem, assim como os carros fabricados no pós-guerra. Peguei o número do chassi e um museu da Alemanha confirmou o ano de fabricação".
Passado no circo
Só o fato de ser um fusca fabricado na Alemanha há 73 anos já reúne conteúdo suficiente para entreter qualquer fã de carros antigos que se preze, mas a história do "besouro" guardado por Beldi não para por aí.
A carroceria "recortada" indicava que o veículo tinha sofrido modificações. Ao traçar a trajetória do carro, o colecionador descobriu que o exemplar atuou em um circo enquanto estava no país bávaro.
"Esse carro foi adquirido em 1948 pela equipe de um circo alemão. Eles cortaram o carro, encurtaram ele e começaram a usar para manobras, mas com a mecânica original. Um capitão alemão erradicado no Brasil trouxe ele ao país, junto com a estrutura do show, em 1951. Aqui ele fez espetáculos até a década de 1970".
Não foi fácil, no entanto, decifrar os passos dados pelo Fusca durante tanto tempo. Beldi relata que obteve ajuda de amigos historiadores que, por sua vez, entraram em contato com um museu da VW na Alemanha.
"Eles encontraram familiares do capitão e mandaram fotos de época com o carro lá. Em março de 2020 eles [familiares] vêm ao Brasil para ver o carro".
'Funciona direitinho'
Como estava abandonado, o modelo precisou passar por uma restauração, o que levou o colecionador a um dilema.
"Acabei repintando como ele era usado no circo. Eu tenho uma carroceria do final dos anos 40 para refazer ele como era original, como era de fábrica, mas meus amigos não deixam, não querem que eu 'estrague' a história", brinca.
Com chassi e mecânica originais, Beldi garante que a funcionalidade do Fusca está inteiramente preservada. Os anos de "emoção" vividos nos picadeiros, todavia, deram lugar a uma rotina mais tranquila ao carrinho.
"Ele é mais para exposição, mas anda bem. Para o evento em Águas de Lindóia ele vai rodando", garante.
Encontro de clássicos
Quem quiser conferir de perto o histórico Fusca de Beldi, além de outros veículos antigos, pode comparecer a partir desta sexta-feira (23) à Praça Adhemar de Barros, em Águas de Lindóia, para o 1º Encontro de Clássicos Volkswagen.
A entrada é gratuita e a organização do evento espera 50 mil visitantes durante os três dias de programação.
Serviço
1º Encontro de Clássicos Volkswagen
- Quando: sexta-feira (23), sábado (24) e domingo (25), das 8h às 21h.
- Onde: Praça Adhemar de Barros.
- Quanto: gratuito.
*Sob supervisão de Luciano Calafiori