O Cord foi o primeiro carro dos EUA com tração dianteira (Christian Castanho/Quatro Rodas)
As portas do Salão de Nova York de 1935 foram abertas com 15 minutos de antecedência, medida necessária para dispersar a multidão que se aglomerou para ver automóveis como Duesenberg Modelo J, Auburn 851 Speedster e Cord 810.
Os três eram criações do projetista Gordon Buehrig, mas foi o Cord 810 que se tornou um ícone automotivo dos anos 1930 em função da engenharia de vanguarda, do estilo criativo e da alta performance.
Foi a segunda tentativa do industrial Errett Lobban Cord de associar seu nome a um automóvel de alto prestígio.
Responsável pelo conglomerado que incluía a Auburn Automobile, a fabricante de motores Lycoming e a Duesenberg, Errett parecia não aceitar o destino do Cord L-29, primeiro carro americano de tração dianteira.
Vitimado pela crise econômica da Grande Depressão, foi produzido apenas de 1929 a 1932.
O modelo 812 foi uma evolução do 810, lançado em 1937 (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Criado para ser um Duesenberg mais barato, o 810 ficaria entre o Auburn e o Modelo J. A tarefa seria de novo confiada a Buehrig, que estava na GM. Para reconquistá-lo, Errett Cord prometeu liberdade criativa total.
Buehrig trouxe um conceito rejeitado na GM: dianteira sem grade, com dois radiadores externos entre o cofre do motor e os para-lamas.
A ideia era isolar o motor em um compartimento fechado, mas ela foi descartada após o engenheiro Denny Duesenberg constatar que a refrigeração era insuficiente.
O uso do radiador convencional deu origem às sete aletas dianteiras que se prolongam pelas laterais do cofre.
Sua personalidade era definida também pelo capô inteiriço com abertura frontal, portas sem dobradiças externas, bocal do tanque oculto por portinhola e inéditos faróis escamoteáveis.
Sistema Bendix permitia trocar marchas sem tirar as mãos do volante (Christian Castanho/Quatro Rodas)
A estrutura monobloco eliminou a necessidade dos estribos laterais. O V8 Lycoming de 4,7 litros e 125 cv era apoiado num subchassi por três coxins de borracha e acoplado a um câmbio de quatro marchas.
Uma alavanca pré-seletora comandava os engates pelo sistema eletropneumático Bendix Electric Hand. A suspensão dianteira por braços arrastados era independente e as quatro rodas tinham janelas de ventilação para refrigerar os freios em uso intenso.
Manivelas levantam os faróis, embutidos no para-lama (Christian Castanho/Quatro Rodas)
O sistema Bendix não era rápido, mas apresentava bons números para a época: a aceleração de 0 a 96 km/h demorava cerca de 20 s e a velocidade máxima era de 144 km/h.
Havia três carrocerias: Convertible Coupe (conversível de dois lugares), Convertible Phaeton Sedan (cinco) e o Sedan (quatro portas), em duas opções de acabamento: o básico Westchester de cinco lugares ou o Beverly de quatro lugares.
Raríssimo, o cupê fechado de duas portas teve estimadas três unidades produzidas.
O modelo 812 veio em 1937 com o V8 Lycoming FC, sobrealimentado por compressor mecânico Schwitzer–Cummins. A potência saltou para 170 cv. Resultado: 0 a 100 km/h em 13,2 s e máxima de 178 km/h.
Ainda que sem a mesma harmonia de estilo, a série Custom de sedãs tinha o entre-eixos aumentado de 3,17 m para 3,35 em busca de melhor espaço interno.
V8 de 4,7 litros e cabeçotes de alumínio (Christian Castanho/Quatro Rodas)
Foram produzidas só 2.320 unidades dos Cord 810/812: o colapso das empresas de Errett também deu fim à Duesenberg e à Auburn em 1937.
Sem o mesmo charme e refinamento técnico, a carroceria do 812 teve curta sobrevida nos sedãs Hupp Skylark e Graham Hollywood.
O legado da tração dianteira só seria resgatado com êxito quase 30 anos depois, com a estreia do Oldsmobile Toronado.
Cord 812 Convertible Phaeton Sedan 1937