Dez dias após tumultuar o mercado de ações com um post no Twitter, o "chefão" da Tesla, Elon Musk, disse que não se arrependeu de revelar ali a intenção de tirar a montadora da bolsa de valores.
A postagem em poucas palavras, no último dia 7, fez as ações da empresa dispararem e gerou uma investigação do órgão regulador do mercado sobre a conduta de Musk.
Em entrevista ao jornal "The New York Times" publicada nesta sexta-feira (17), ele afirmou que não tem motivos para se arrepender do tuíte bombástico e que não recebeu nenhum telefonema furioso da diretoria no dia.
As ações da Tesla estavam em queda nesta sexta.
Pouco depois de a entrevista sair, ainda segundo o jornal, o executivo mudou um pouco a história, acrescentando que um diretor o contatou após a postagem e que ele concordou que não voltaria a escrever no Twitter nada mais sobre a ideia de sair da bolsa antes de discuti-la com o conselho.
O bilionário contou ainda os bastidores da postagem polêmica, respondeu sobre especulações geradas -inclusive sobre uma suposta referência a maconha- e chorou algumas vezes, segundo o "NY Times".
"O último ano foi o mais difícil e o mais doloroso da minha vida", afirmou o executivo.
Veja abaixo mais destaques da entrevista.
Tuíte no carro
Musk revelou que seu tuíte bombástico do último dia 7 foi feito no carro, enquanto ia para o aeroporto, e que a mensagem não foi lida nem revisada por ninguém antes de ser postada.
Ele disse que fez o trajeto dirigindo um Tesla Model S, mas não especificou se, para fazer a postagem, parou o carro ou usou o modo semiautônomo do veículo - o Autopilot - que, por ora, requer que o usuário mantenha as mãos no volante.
Especulação sobre maconha
O histórico de posts polêmicos de Musk - que já chegou a discutir com mergulhadores que resgataram os meninos presos em uma caverna na Tailândia - fez a imprensa especializada desconfiar da seriedade de seu primeiro tuíte sobre a saída da bolsa.
"Estou pensando em fechar o capital da Tesla a US$ 420 (preço por ação)", escreveu.
Também se especulou que o número 420 seria uma referência a maconha.
"Eu não estava usando maconha, para deixar claro", disse Musk. "Maconha não ajuda na produtividade."
O executivo afirmou que chegou ao valor das ações pensando numa alta de 20%, considerando o valor negociado nos dias anteriores, o que resultaria em US$ 419 por unidade. Mas preferiu arredondar para US$ 420 porque "parecia um karma melhor".
Remédio para dormir
Musk assumiu, no entanto, que algumas vezes recorre a remédio para dormir quando não está trabalhando. Segundo ele, é quase sempre uma escolha entre tomar o medicamento ou ficar sem dormir.
Citando fontes, o "NY Times" diz que esse hábito preocupa o conselho diretor da montadora.
Ao falar sobre o estresse na Tesla, afirmou que tem trabalhado, em média, 120 horas por semana e que nunca tirou mais de uma semana de férias desde 2001, quando pegou malária depois de viajar para o Brasil e a África do Sul, sua terra-natal.
'Morando' na fábrica
A Tesla enfrentou diversos atrasos e problemas na produção de sua maior aposta, o Model 3, primeiro carro elétrico "popular" da marca.
“Algumas vezes eu fiquei na fábrica por 3, 4 dias -eu não ia para fora", disse.
Musk contou que passou seu aniversário de 47 anos, em 28 de junho último, nessa situação.
Estava a poucos dias do fim do prazo para alcançar a meta de 5 mil unidades do Model 3 produzidas por semana, dado por ele mesmo. O objetivo foi alcançado no dia 1º de julho, com algumas horas de atraso.
Segundo o bilionário, o peso dessa dedicação é deixar de ver os filhos ou os amigos. Ele também falou que quase perdeu o casamento do irmão, Kimbal, também acionista da Tesla, sendo que era o padrinho.
Musk encerra a entrevista dizendo que o esforço ajudou a Tesla a se firmar e, neste caso, o pior já passou. Mas que, do ponto de vista pessoal, “o pior ainda está por vir".